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Setor de transportes e montadoras pedem “diesel verde” antes da definição…

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RIO DE JANEIRO (Reuters) – Representantes das indústrias de combustíveis, transportes e veículos e máquinas defenderam nesta quinta-feira que o uso do biodiesel precisa ser revisto no Brasil, ao mesmo tempo em que consideram que esse biocombustível causa problemas para os motores e é menos eficiente em comparação com outras rotas tecnológicas, como o chamado “diesel verde”.

Entidades como a Federação Brasilcom, das distribuidoras de combustíveis, Abimaq, Anfavea e Fenabrave, que reúne fabricantes de máquinas e veículos, além de entidades de transporte como CNT e NTC, também afirmaram que os produtores de biodiesel do país estão trabalhando para garantir reserva de mercado frente à concorrência dos biocombustíveis mais modernos, antes de uma reunião sobre a definição de uma nova mistura no diesel.

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O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) terá sua primeira reunião no novo governo no dia 17 e há expectativa da indústria de biodiesel de que o teor de mistura de biodiesel no diesel possa ser discutido, com validade a partir de abril.

“O biodiesel produzido hoje no Brasil é à base de éster. A característica química desse biodiesel gera problemas como a formação de lodo, com alto teor de poluentes. Na prática, esse sedimento danifica peças automotivas, bombas de combustível, geradores hospitalares, máquinas agrícolas e motores estacionários”, disse o comunicado.

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Os produtores de biodiesel têm repudiado posições como a expressa na nota da entidade divulgada nesta quinta-feira, afirmando que existem testes que garantem a qualidade do biodiesel e que há consenso de que o uso do biocombustível reduz as emissões de particulados, monóxido de carbono e hidrocarbonetos, reduzindo poluição atmosférica.

A nota das associações de transporte, veículos e combustíveis também afeta a indústria da soja, já que mais de 65% da produção de biodiesel no Brasil em 2022 foi feita a partir do óleo de soja.

Mas as associações acreditam que existem alternativas, usando a mesma matéria-prima.

“Com a mesma soja e outras biomassas usadas para fazer biodiesel à base de éster, é possível fazer diesel verde (HVO) – isso é de fato sustentável e funcional”, disse a nota.

“Mas as discussões sobre o incentivo à produção e uso do diesel verde também não evoluem por questões econômicas e políticas. Quem produz biodiesel não quer HVO”, acrescentou.

Na carta, as diversas associações reiteram suas críticas à qualidade do biodiesel produzido no país e também acusam a indústria de não querer “perder o lucro fácil e rápido do biodiesel à base de éster, nem investir na modernização do processo industrial para produção de diesel verde”.

“O que era, inicialmente, uma proposta de economia solidária e incentivo ao uso de energia limpa, além de fonte de renda para a agricultura familiar e para os agricultores de baixa renda – com o plantio de palma e mamona para a produção de biodiesel –, tornou-se um negócio lucrativo apenas para os grandes produtores.”

A Frente Parlamentar do Biodiesel Misto (FPBio) disse nesta semana que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reafirmou sua posição favorável para que o governo conduza uma política reformulada, com planos de ação voltados para a expansão sustentável do setor de biodiesel.

Segundo a FPBio, o governo decidirá aumentar a mistura dos atuais 10% para um teor que pode chegar a 15% em etapas.

As entidades, no entanto, argumentam que a indústria automotiva tem sofrido consequências com as avaliações dos padrões de qualidade: perda de eficiência dos motores, aumento do consumo de diesel e, consequentemente, mais poluição.

No ano passado, uma portaria do então presidente Jair Bolsonaro vetou a admissão do CNPE para que outras rotas tecnológicas de combustíveis pudessem participar do programa de mistura obrigatória de biodiesel.

A decisão foi um revés para a Petrobras, que possui o R5, produto que é 95% diesel e 5% óleo vegetal.

FBIO RESPONDE

O presidente da FPBio, deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), ecoou nesta quinta-feira em nota o posicionamento de entidades produtoras de biodiesel como Abiove, Aprobio e Ubrabio, enfatizando que o aumento esperado na mistura de biodiesel só será possível porque um grande volume de estudos científicos foi realizado pelo governo brasileiro e com a participação da iniciativa privada, comprovando que “o biodiesel nacional é da mais alta qualidade”.

Segundo os produtores de biodiesel, as críticas ao biocombustível estão muito mais relacionadas a fatores como o preço do produto.

Em relação às novas rotas tecnológicas, como o “diesel verde”, essas associações afirmaram em manifesto nesta quinta-feira que não veem nenhuma restrição, desde que respeitem as definições da ANP.

“O setor está aberto a novos entrantes e tecnologias para a produção de biodiesel (éster) e também apoia a promoção e entrada de novas rotas tecnológicas para biocombustíveis e produtos que possam deslocar o consumo de diesel fóssil para biocombustíveis com melhores características ambientais, como é o caso com diesel verde (HVO).”

Moreira, da FPBio, também revelou que a frente vai propor a tramitação urgente do projeto de lei 134/2022 sobre um novo sistema de rastreamento da qualidade do diesel B (diesel que contém percentual de biodiesel).

“Este sistema vai provar a origem de todos os problemas possíveis nos motores e equipamentos diesel. Esperamos que estas entidades, que hoje deturpam a discussão, apoiem a sua transformação em lei”, acrescentou.

(Por Marta Nogueira e Roberto Samora; edição de Nayara Figueiredo)



Fonte: Noticias Agricolas

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