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Safra de verão do Brasil ultrapassará a capacidade dos armazéns pela primeira vez…

    Safra de verao do Brasil ultrapassara a capacidade dos armazens

    Por Roberto Samora

    SÃO PAULO (Reuters) – O Brasil vai colher mais grãos na safra de verão 2022/23 do que sua capacidade total de armazenamento, com salto na produção de soja levando o país a registrar uma situação que não acontecia desde 2003, o que ilumina alerta para a déficit histórico de silos e possíveis impactos mais acentuados com a chegada da safra de inverno, principalmente de milho.

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    A projeção, baseada em dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) obtidos pela Reuters, mostra que o Brasil colherá 189,5 milhões de toneladas apenas dos principais produtos na primeira safra (soja, milho e arroz), enquanto tem armazenamento total de 187,9 milhões de toneladas, o que aperta os gargalos logísticos e de infraestrutura.

    Na segunda safra, somente no milho, são estimados 96,3 milhões de toneladas, aumentando o déficit de armazenamento e podendo ocasionar um menor tempo na retirada dos grãos das lavouras e no seu descarte, pois esses produtos costumam passar por processos de secagem e limpeza nos armazéns.

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    “É possível que no pico da safra de soja, na segunda quinzena de fevereiro, março, tenhamos a velha dificuldade de não encontrar armazéns, talvez este ano seja um pouco pior”, disse o superintendente de Armazenagem da Conab, Stelito dos Reis Neto, à Reuters.

    “Mas a preocupação que eu vejo agora não é com a primeira safra, porque já estamos com esses números apertados há muito tempo. A preocupação é a segunda safra, vai ter mais produto esperando no campo para entrar no armazém… “, acrescentou.

    Principal motivo para a safra de verão ultrapassar a capacidade dos armazéns, algo que não acontecia desde 2003, quando o Brasil colheu quase 97 milhões de toneladas de soja, milho (primeira safra) e arroz (ante capacidade estática na época de 93 milhões de toneladas) se deve ao salto esperado de mais de 20% na produção de soja em 2022/23, que cresce no país a taxas bem mais rápidas do que os investimentos em silos, que não são baratos e exigem fôlego financeiro do produtor para retorno do capital investido .

    A capacidade de armazenamento, por outro lado, significa que o produtor pode armazenar produtos como soja e milho para comercializar nas melhores épocas de preços, evitando a pressão sazonal de safras no mercado.

    As grandes safras também espremem mais as estocagens brasileiras no momento em que o novo governo sinaliza uma mudança na política agrícola, que pode culminar na retomada das compras de produtos para formação de estoques públicos – os armazéns da Conab, porém, respondem por cerca de 1% da capacidade do país, um desafio a ser enfrentado, além do déficit de silos do setor privado.

    Na última safra, o Brasil não viveu situação semelhante à projetada para 2022/23 devido à quebra da safra de soja por conta da estiagem no Sul, com o país deixando de colher cerca de 20 milhões de toneladas da oleaginosa. A nação colheu pouco mais de 161 milhões de toneladas (de soja, milho primeira safra e arroz) no ciclo anterior (2021/22), enquanto a capacidade era de 187,69 milhões de toneladas.

    As perdas na safra de soja acabaram amenizando os problemas de infraestrutura, mas ainda viram produtores armazenando a safra de milho de inverno ao ar livre em Mato Grosso, sintoma do déficit de silos e da safra recorde no país lembrada por Reis Neto.

    A situação nacional difere de outros grandes produtores agrícolas. Os Estados Unidos, concorrente do Brasil nas exportações de milho e soja, têm capacidade para armazenar mais do que uma safra completa, disse o superintendente da Conab.

    Para Paulo Polezi, CFO da Kepler Weber, líder em equipamentos agrícolas pós-colheita na América Latina, a situação reforça “extremamente” a importância de ampliar a capacidade de armazenamento no país. Sem isso, os agricultores perdem uma “grande oportunidade de aumentar os ganhos de produção”.

    “Além disso, por não haver estoques reguladores suficientes no país, há a necessidade de transportar um grande volume de grãos ao mesmo tempo, gerando sobrecarga no sistema logístico, o que encarece o custo do frete”, destacou.

    Um estudo recente da associação Abimaq, citado por Polezi, indica que seriam necessários investimentos de R$ 10 bilhões em estruturas de armazenamento ao longo de dez anos para acabar com o déficit. Ele lembrou que os recursos disponíveis para esses aportes têm sido “insuficientes” para acompanhar o ritmo de crescimento da safra.

    MELHORIAS LOGÍSTICAS

    O superintendente da Conab ponderou que o Brasil, maior produtor e exportador de soja do mundo, conseguiu contornar o déficit de estocagem com o escoamento de boa parte da oleaginosa no primeiro semestre, enquanto a safra de milho safrinha chega ao mercado em principalmente no início da segunda parte do ano.

    Ele também destacou melhorias logísticas nos portos, de norte a sul do país, além de investimentos privados em ferrovias e no importante canal hidroviário do Tapajós, que leva a produção da região central do país para o norte, desafogando o Sul/Sudeste .

    “Essa primeira safra (que supera a capacidade total de armazenamento) vai colocar à prova a competência logística do Brasil, se não tivermos grandes problemas, significa que conseguimos evoluir muito nessa questão logística”, destacou Reis Neto .

    Ele lembrou que o Brasil fica boa parte do primeiro semestre sozinho no mercado internacional de soja, o que facilita o escoamento, enquanto no segundo semestre a importância da armazenagem em tese tende a crescer, pois há maior concorrência, principalmente depois da chegada da colheita do norte. -Americano.

    Para contornar o problema, os produtores brasileiros têm recorrido aos “silo bags”, estruturas temporárias que permitem o armazenamento dos grãos, enquanto não há espaço disponível nos armazéns.

    O especialista da Conab comentou que algumas regiões mais tradicionais, como Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, têm melhores condições de capacidade, mas em áreas de novas fronteiras agrícolas, como Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (Matopiba), o déficit é mais aguda, o que exigiria políticas direcionadas para esses estados.



    Fonte: Noticias Agricolas