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Reuters: Com pouca renovação e centro forte, Congresso deve exigir…

    Reuters Com pouca renovacao e centro forte Congresso deve

    Por Maria Carolina Marcello e Eduardo Simões

    BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) – O Congresso que deixará as urnas nas eleições de domingo não deve trazer grandes mudanças no desenho atual, mantendo um perfil predominante de centro-direita e forte presença do chamado centrão, mas também tem chances de apresentar uma ampliação de bancadas para a esquerda, avaliam consultores e analistas procurados pela Reuters, numa correlação que, se confirmada, exigirá do próximo presidente habilidade de negociação.

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    Seja pelo fato de a maioria dos partidos investir muito mais na busca por vagas no Legislativo, dada a clara liderança de dois principais candidatos na disputa pelo Planalto – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas , e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL)–, seja pelo grande número de parlamentares que buscam a reeleição beneficiados pelo chamado orçamento secreto e pela estrutura de seus mandatos, a perspectiva não é muito nova.

    “A direção é de continuidade. Talvez não tanto dos nomes, mas dos pesos dos partidos”, disse o analista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez.

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    “A expectativa é que quem for grande hoje continue sendo grande”, avaliou, acrescentando que a tendência deve ser mantida mesmo com um provável crescimento da esquerda na esteira da eleição presidencial.

    Para a Câmara, estimativas de analistas e projeções de consultoria vistas pela Reuters apontam para uma disputa entre PT e PL – siglas de Lula e Bolsonaro – pela maior bancada da Câmara, com a União Brasil, movida pelo maior volume de recursos da campanha eleitoral fundo, acabando.

    Vale lembrar também que no Senado a renovação tende a ser ainda menor, até pelas características das eleições deste ano, já que apenas um terço das cadeiras está em jogo.

    Analistas apontam que o clima anti-PT e antipolítico também deve ser levado em conta, o que alimentou a forte renovação observada em 2018.

    “Os representantes da nova política foram arrastados por suas próprias inconsistências e isso gerou uma espécie de lamúria que tende a beneficiar os políticos tradicionais”, explicou Creomar de Souza, CEO da Dharma Political Risk.

    “O fato de a lógica de liberar benefícios orçamentários, como as emendas do relator, tornou o jogo mais desigual entre os candidatos à reeleição e os que buscam uma vaga no Congresso”, avaliou, acrescentando a previsão de que o “centrão continuará sendo uma força-chave no Congresso”.

    Este contexto, com um centro consolidado como uma das forças mais importantes do Parlamento, exigirá do Executivo capacidade de articulação. Mas o perfil mais conservador de seus membros não necessariamente causará problemas ao novo presidente.

    “É importante ressaltar que esses partidos de centro sempre apoiaram os últimos presidentes. Boa parte desses partidos apoiou o ex-presidente Fernando Henrique, apoiou o próprio Lula, apoiou Dilma, apoiou Temer e apoiou Bolsonaro”, lembrou Cristiano Noronha, sócio e vice-presidente. presidente da consultoria política Arko Advice.

    Para ele, há uma grande tendência de partidos como PL, PP e PSD também apoiarem um eventual governo Lula, desde que o PT “abra espaço na administração federal”.

    Mesmo assim, algumas pautas mais específicas – principalmente as relacionadas à questão fiscal em vista da disposição dos dois candidatos em manter ou mesmo ampliar os benefícios sociais – podem trazer maior dificuldade de negociação dependendo de quem vença a disputa pelo Planalto.

    “A expectativa é que a bancada de esquerda aumente, mas ainda não é uma bancada para gerar apoio a uma emenda constitucional sem a necessidade de um diálogo mais forte com a direita”, disse Cortez, referindo-se ao quórum especial necessário para aprovação. de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que equivale a 3/5 dos parlamentares –49 senadores e 308 deputados em dois turnos de votação em cada Câmara.

    “A ideia de uma agenda social, de reforço dos gastos sociais, é diferente do que era em 2002, agora está muito mais presente. Por isso, mesmo pragmática, vemos uma agenda de mudança de regras fiscais.”

    O analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e sócio da Contatos Assessoria Política, André Santos, diz que se Bolsonaro for eleito, a agenda econômica terá mais ressonância no Congresso, com percepção semelhante à do atual ministro da Economia, Paulo Guedes. . Mas, se Lula for confirmado como novo presidente, como mostram as pesquisas, ele terá mais trabalho de articulação política.

    “No caso do governo Lula, ele terá que fazer mais para negociar com o Congresso se o Congresso vier – e vier – com esse caráter mais reformista e com uma postura mais liberal”, ponderou Santos.

    O cenário que surge, nesse contexto, é desafiador, pois a gestão de uma coalizão governista pode esbarrar em questões fiscais e limitações orçamentárias, lembra Cortez.

    Na mesma linha, Creomar, do Dharma, aponta que o “grande dilema de um Lula 3 será a necessidade de rearranjar o jogo político”.

    “Mudou o centro, mudou a esquerda, mudou a sociedade, a questão é o quanto Lula terá mudado para lidar com essas questões.”

    CACIQUES, O RETORNO

    Mais do que pouco alterado, o próximo Congresso pode ressuscitar antigos líderes políticos, afastados temporariamente do jogo na esteira da renovação realizada em 2018, avaliam os consultores, apontando nomes como o do candidato a deputado federal Eunício Oliveira (MDB-CE ), ex-presidente do Senado e candidato ao Senado Romero Jucá (MDB-RR).

    “Em 2018 você teve uma negação muito grande da política. Então essa negação fez com que os políticos tradicionais ficassem de fora da eleição, perdessem seus cargos no processo eleitoral. Eles não renovaram seus mandatos para a Câmara e o Senado”, disse Santos, da Contatos Assessoria Política e Diap.

    Santos também aponta o grande número de candidatos que são familiares de ex-chefes, como a candidata à deputada federal Danielle Cunha (União-RJ), filha do ex-prefeito Eduardo Cunha, que concorre a uma vaga na Câmara por São Paulo . Paulo, do PTB.

    “Uma eleição não tão positiva também pode acontecer para essas figuras fora da política. O acesso aos recursos partidários se mostrou muito importante na eleição municipal e agora em 2022. Esses grandes recursos são controlados pelas elites partidárias”, destacou Cortez.

    Com exceção das projeções para os próximos quatro anos, analistas lembram que caberá ao atual Congresso elaborar o Orçamento de 2023, colocando o presidente eleito na necessidade de exercer a articulação ainda este ano.

    (Reportagem de Maria Carolina Marcello e Eduardo Simões)



    Fonte: Noticias Agricolas