A sabedoria popular diz que “sonho que se sonha junto é realidade”. E um dos maiores exemplos dessa máxima pode ser conferido na Feira do Produtor Rural e no trabalho realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado de São Paulo (SENAR-SP) na preparação de expositores estreantes.
O Programa “Feira do Produtor Rural”, com oito módulos e sete meses de duração, é responsável por orientar produtores rurais de diversos segmentos, de hortaliças a artesanato, para exposição e venda no evento. Mesmo quem nunca vendeu diretamente para o consumidor sai do programa mais do que pronto para a tarefa, garante Marcio Langoni, instrutor do SENAR-SP em Bauru. “É um treinamento bastante vivencial, pois além da parte técnica, buscamos exercitar o espírito de equipe e o companheirismo entre os alunos. É um trabalho intenso, com muitas ações. Uma jornada longa, mas gratificante e transformadora”, afirma.
Uma das trajetórias que mudou após participar da capacitação do SENAR-SP e da Feira do Produtor Rural é a de Leidi Helena Silva Prado, produtora rural de Pederneiras e proprietária da Dona Doces Caseiros. Participou de diversos cursos no SENAR-SP, tanto o treinamento voltado para a Feira do Produtor quanto o treinamento específico para produção de doces, pães e queijos. “O SENAR me ajudou a sair da caixa. Depois dos cursos, tive uma nova visão do que é uma propriedade rural”, conta ela, que expôs pela primeira vez na Feira do Produtor Rural de Piratininga e também vende seus produtos pelas redes sociais.
Trabalho intensivo e extenso
São oito módulos do programa preparatório para a Feira do Produtor Rural, com dois calendários diferentes: um oferecido apenas pelo SENAR-SP e outro em parceria com o SEBRAE. O conteúdo de ambos é o mesmo. Na primeira, os produtores são apresentados ao conceito e objetivos da Feira, sua organização e quais produtos podem ser exibidos. Após o primeiro contato, os módulos tornam-se mais específicos e “práticos”: são ministradas aulas sobre manipulação e higiene correta dos alimentos, montagem de stands, técnicas de vendas, marketing e gestão empresarial.
“A Feira é um evento de comercialização de produtos rurais. Nosso objetivo é formar uma equipe de comerciantes dispostos a vender o que produzem. Eles recebem um treinamento muito detalhado sobre esse trabalho em equipe, além de estimular a produção e a criatividade”, resume Langoni.
Instrutores e alunos passam cerca de sete meses juntos, incluindo aulas, oficinas, dinâmicas e, por fim, a feira. A formação oferece todos os instrumentos de exposição. “No módulo de Produtos Rurais, visitamos a propriedade do aluno e descobrimos quais produtos ele poderia vender na feira. No módulo Construção de Stands, eles são ensinados a construir seus próprios pontos de venda, seguindo o layout do SENAR”, conta o instrutor. O SENAR-SP também oferece padronização para os produtores.
Além do acompanhamento pré-show, os produtores contam com o apoio de instrutores em suas primeiras vendas. Durante quatro feiras, os alunos do programa são acompanhados pela equipe do SENAR-SP, que os auxilia em questões específicas que surgem durante o evento e auxilia na finalização do negócio.
produtor rural empoderado
Márcio Langoni não tem dúvidas sobre o impacto da participação no programa e na Feira do Produtor Rural: “É um programa que transforma vidas”.
A maioria dos alunos são produtores rurais que, até então, costumavam vender sua produção para intermediários. A experiência de aprender a valorizar a produção e vendê-la diretamente ao consumidor final exige dedicação e tempo – e é isso que os alunos praticam ao longo dos meses de treinamento. Simulações e eventos-teste são realizados para que os produtores aprendam como abordar os clientes, expor as qualidades do produto e negociar preços. “Eles estão preparados para começar do zero e têm desenvoltura para fazer a venda”, resume o instrutor.
As transformações das histórias de vida são muitas, e há avanços de diversos tamanhos e perspectivas, segundo a instrutora. As vendas na Feira do Produtor Rural alavancam os negócios, e há quem consiga comprar um veículo novo ou quitar a hipoteca de uma casa. Muitos também investem diretamente em seus negócios, de forma a criar um ciclo virtuoso entre a Feira e a propriedade. “Há um aprimoramento profissional, pessoal e financeiro. São avanços concretos da vida”, diz Langoni.
vidas transformadas
O trabalho de Leidi com doces caseiros começou em 2016. Em 2019, ela já tinha experiência com eventos, mas ainda não tinha experiência com varejo. “Foi aí que sentimos a necessidade de fazer potes para venda direta. Naquele momento, embora estivéssemos fazendo os doces, não conseguíamos recheá-los e precisávamos de ajuda. Então tive meu primeiro contato com o SENAR-SP em Bauru e conheci nossa coordenadora Cleusa Evaristo, que foi simplesmente uma benção em nossas vidas”, relembra.
Nos meses de aprendizado do Programa, Leidi enfatiza o trabalho em equipe e o conhecimento sobre gestão financeira. “A feira do produtor rural é diferente de outros eventos e adorei o trabalho diferenciado em relação ao trabalho em equipe. Aprendi também que precisamos nos adaptar ao cliente”, afirma. Até então, ela não havia vendido porções individuais de balas – e foi inflexível quanto à mudança. “Falei para o Márcio que já tinha meu cardápio montado e não ia mexer”, conta. Hoje, depois da experiência com o SENAR-SP, ela vende pequenas porções de 250 gramas, que são campeãs de vendas. “A Feira é uma experiência fantástica. Todos os dias aprendemos algo novo com vendas diretas. Conversar com os clientes e mostrar produtos é despertar memórias afetivas, além de trazer resultados positivos para o negócio”, afirma.
arte na praça
A Feira do Produtor Rural não é só de produtos físicos. A música também é uma forma de alimentar o espírito, por isso o Grupo Caipira Viola de Bauru, formado a partir do Programa Caipira Viola do Sindicato Rural da cidade, fez apresentações na Feira do Produtor Rural de Piratininga. “Fomos convidados pelo coordenador do SR para fazer uma apresentação na Feira do Produtor Rural de Piratininga, convite que nos deixou muito honrados”, conta Cláudio Sanches Lopes, um dos 15 integrantes da banda.
Os ensaios para as noites de exibição na Feira foram realizados durante as aulas regulares do Programa, que acontecem dois dias por semana durante cinco meses. 17 canções sertanejas foram escolhidas para compor o repertório especial.
A participação na Feira do Produtor Rural foi significativa para todos os envolvidos. “Ser um grupo de alunos do curso de viola caipira, expor em uma Feira do Produtor tem tudo a ver. Como o nome sugere, nosso objetivo foi mostrar a todos a arte desse instrumento, assim como suas melodias, e proporcionar a todos momentos de alegria, lazer e cultura musical”, completa o aluno.
Em uma única noite, cerca de 100 pessoas compareceram à praça para assistir à apresentação do grupo. “O feedback do público da feira foi ótimo. Todos ficaram ouvindo as melodias, tiraram várias fotos e vídeos, bateram muitas palmas. E isso é o mais importante para um músico quando toca qualquer instrumento: ser reconhecido, ouvido e aplaudido”, lembra Lopes.
