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PL de geração distribuída de energia incorpora “tartarugas” para beneficiar…

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tag:reutersPor Letícia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) – O projeto de lei que amplia benefícios à geração distribuída de energia ganhou emendas “jabutis” que beneficiam pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e que, se aprovadas, aumentariam ainda mais os subsídios bilionários a serem pagos pelos consumidores na conta de luz , segundo associações do setor elétrico.

Apresentado na véspera, o parecer do relator do PL nº 2.703, deputado Beto Pereira (PSDB-MS), desagradou entidades que representam os interesses dos consumidores e distribuidoras de energia, que vêm trabalhando junto aos parlamentares para garantir que o texto, que é tramitando em regime de urgência na Câmara, não é votado até o final deste ano.

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O PL nº 2.703, de autoria do deputado Celso Russomanno (Republicanos-SP), visa prorrogar por mais 12 meses o prazo para que os detentores de pequenos sistemas de autogeração –como telhados solares e fachadas– solicitem a instalação e fiquem isentos da progressiva pagamento pelo uso da rede de distribuição de energia. O atual mandato termina em janeiro de 2023.

Segundo associações do segmento “GD”, essa prorrogação é necessária porque as distribuidoras têm dificultado os processos de ligação dos empreendimentos. Outra alegação é de que a regulamentação da lei pela agência reguladora Aneel está atrasada.

No entanto, o parecer do relator do projeto traz uma série de “tartarugas” –medidas fora do conteúdo original do projeto– principalmente relacionadas às PCHs. O texto permite, por exemplo, que pequenas centrais hidrelétricas de até 30 megawatts (MW) de potência possam ser incluídas na modalidade de geração distribuída, beneficiadas pela nova regulamentação para o segmento.

Além disso, o parecer propõe uma mudança na lei que permitiu a privatização da Eletrobras e trouxe como aditivo a obrigatoriedade de contratação de termelétricas a gás e PCHs. O objetivo é trocar parte da demanda que seria contratada em termelétricas a gás do Centro-Oeste por PCHs de até 50 MW.

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“Esta alteração permitirá contornar as limitações que os projetos de gás natural têm enfrentado no que diz respeito à instalação de novos gasodutos”, justifica o texto.

Marcos Madureira, presidente da associação das distribuidoras da Abradee, diz que as propostas são “absurdas” e vão elevar consideravelmente os custos bilionários a serem pagos pelos 85 milhões de consumidores do mercado regulado, beneficiando cerca de 2 milhões detentores de geração distribuída .

“Estão rasgando um acordo que foi feito com as associações que permitiu a votação da lei (14.300, do marco regulatório da geração distribuída)”, afirmou Madureira.

Promulgado em janeiro deste ano, o marco regulatório gerou forte polêmica no setor elétrico e foi aprovado pelo Congresso após acordo entre associações e com a participação do Ministério de Minas e Energia.

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Segundo Madureira, a atual gestão do Ministério de Minas e Energia e a equipe de transição se posicionaram contra a votação do PL nos termos atuais.

O presidente da Abradee também rebateu a alegação de que as distribuidoras estariam dificultando a conexão dos sistemas de geração distribuída. Ele afirmou que o número de ligações triplicou desde 2020, chegando a 1.800 ligações diárias, e que os projetos apresentados até janeiro de 2023 terão benefícios garantidos mesmo que o processo de ligação se estenda por mais alguns meses.

VISÃO DO CONSUMIDOR

As associações representativas dos consumidores de energia elétrica também reagiram contra o PL nº 2.703 e o parecer apresentado na quarta-feira.

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“Depois da época do discurso pró-consumidor (no Congresso), agora é a época das tartarugas. Temos que ter cuidado porque isso é uma bomba-relógio da tarifa”, disse Paulo Pedrosa, presidente da Abrace, entidade que associa grandes consumidores de eletricidade e gás.

Pedrosa aponta que, após as eleições, o Congresso trouxe “más notícias” aos consumidores, citando o projeto de decreto legislativo (PDL) que interfere na decisão da Aneel sobre o sinal locacional e a discussão para incluir os custos de construção do gasoduto no poder tarifário.

Clauber Leite, coordenador de energia do Instituto Pólis, que defende os direitos das famílias de baixa renda, diz que esses consumidores estão à margem das discussões e acabam sendo os mais afetados por medidas como essas.

“Na construção deste relatório e deste projeto de lei, nada foi previsto que, por exemplo, isentasse os consumidores de baixa renda ou que incentivasse uma maior utilização da geração distribuída por esses consumidores”.

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“O que resta é um discurso muitas vezes demagógico de que a energia limpa está sendo retirada, mas a que custo, quem paga por isso?”, acrescentou.

COMBATE A SUBSÍDIOS

Os subsídios incluídos na conta de luz vêm registrando crescimento expressivo, tendo o orçamento da CDE – fundo que sustenta o maior desses subsídios – dobrado nos últimos cinco anos, passando para 32 bilhões de reais. Segundo a Aneel, em 2022 até novembro, os consumidores brasileiros pagaram R$ 25,8 bilhões em subsídios, o que equivale a 12,59% da tarifa média de energia.

Essa trajetória ascendente preocupa o setor elétrico. Nesta semana, o diretor-geral, Sandoval Feitosa, comentou o PL nº 2.703, dizendo que o adiamento do prazo pode aumentar os subsídios ao GD em cerca de 25 bilhões de reais nos próximos anos.

Na véspera, o membro do governo de transição, Maurício Tolmasquim defendeu que seja discutido um pacto entre agentes econômicos, Congresso e governo federal que trate dos custos aos consumidores de energia decorrentes de subsídios que não são mais necessários.

(Por Letícia Fucuchima)



Fonte: Noticias Agricolas

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