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Os preços da soja vêm caindo com maior intensidade. O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

    A China deve comprar mais soja brasileira QUAL E A

    Nos últimos dois meses, os preços da soja vêm perdendo força em Chicago, não apenas nos contratos futuros de prazo mais curto, mas ao longo de toda a curva, que continua invertida, ou seja, com os contratos futuros mais distantes negociados abaixo dos futuros de prazo mais longo. Por vir. Isso significa que o mercado vê uma oferta apertada no curto prazo e uma normalização no médio/longo prazo, com as próximas safras.

    O contrato da soja em Chicago, com vencimento em maio de 2023, perdeu 2% desde o início de fevereiro de 2023, porém, no Brasil, a oleaginosa tem sentido muito mais, com preços em Sorriso, por exemplo, negociados nos últimos dias abaixo de R$ 130/ saca, 12% inferior ao início de fevereiro de 2023. No Brasil, o preço é formado basicamente pela cotação em Chicago mais prêmio e câmbio. E o que tem aumentado a pressão sobre os preços da soja no Brasil?

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    1. Tamanho da colheita e disponibilidade crescente

    Primeiro, apesar das perdas sofridas no Rio Grande do Sul, a colheita brasileira será generosa, estimada em 153 milhões de toneladas pelo USDA, 18% superior ao ano anterior e significa um acréscimo de cerca de 25 milhões de toneladas neste ciclo.

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    Vale ressaltar que a quebra de safra na Argentina é semelhante em magnitude ao que o Brasil vai agregar neste ano, ou seja, mesmo sob pressão de preços, o saldo global ainda não foi totalmente recomposto na safra 2022/23. Ainda assim, muita soja brasileira deve chegar ao mercado nos próximos meses e isso tem pesado.

    2. Atraso na comercialização

    A percepção da ponta compradora de uma boa oferta em liquidação, aliada ao atraso nas vendas neste ano, sugere uma combinação de aumento de volume com possível concentração de negócios, o que também pressiona os preços.

    3. Prêmios no porto

    Os prêmios da soja no porto são negativos. Isso significa que o comprador da soja brasileira quer pagar menos do que pagaria pela soja americana neste momento, dado o contexto de grande safra no Brasil, a colheita em andamento e a grande quantidade de soja ainda a ser vendida, o que resulta neste cenário de prêmio negativo.

    Nesse momento, os valores do prêmio só apresentam reversão a partir do meio do ano, voltando ao positivo nos meses de junho e julho. Para abril e maio, hoje, a projeção do prêmio segue negativa.

    4. Taxa de câmbio

    A recente valorização do real frente ao dólar também impacta na formação do preço interno da soja. Como a commodity é cotada em dólares, quando a moeda americana fica “mais barata” em relação ao real, ocorre uma queda no preço desse produto em reais.

    5. Pressão logística

    O outro impacto relevante se deve à questão logística. Os fretes estão em alta e essa condição não deve ter muito alívio no curto prazo, pois o volume de soja a ser embarcado é muito grande, a primeira safra de milho também é maior e a safra de açúcar, que também deve ser maior, vai começa e vai concorrer ao frete. A demora na comercialização faz com que haja uma concentração do produto em determinado período, impactando preços e logística de distribuição.

    6. Posição dos fundos

    Outro fator que tem influenciado os preços da oleaginosa em Chicago é a redução da posição dos fundos de investimento. Nas últimas duas semanas, os fundos reduziram a aposta na alta do preço do grão, ao mesmo tempo em que alguns tiveram que liquidar suas posições devido aos recentes acontecimentos no mercado financeiro. Os últimos dados disponibilizados pela CFTC indicam uma redução de 10% na posição líquida comprada em soja, algo em torno de 1,5 milhão de toneladas do grão.

    7. Primeiras percepções sobre a safra americana

    O primeiro relatório de intenção de plantio nos EUA indicou um leve aumento na área plantada com soja na safra americana 2023/24. Segundo o USDA, a área plantada com oleaginosas deve ser de 35,4 milhões de hectares, 0,1% acima da safra 2022/23 (+22 mil ha). O número ficou em linha com o apresentado em fevereiro, no Fórum Outlook. Portanto, assumindo a premissa de produtividade apresentada neste mesmo relatório, de 3,5 t/ha, a produção potencial de soja nos EUA ficaria em torno de 123 milhões de toneladas, uma recuperação em relação à produção da safra 2022/23, que apresentou queda.

    Nesse cenário, os estoques finais da safra americana voltariam a ser aliviados, apesar da expectativa de aumento do consumo interno e das exportações.

    Pontos de atenção para preços:

    • Desenvolvimento da safra americana

    O cenário climático tende a ser favorável para a safra americana, com a transição de La Niña para El Niño. Em teoria, isso é benéfico para os Estados Unidos e aumenta a possibilidade de uma safra completa.

    Isso também contribuiu para pressionar os preços futuros. Porém, ainda não é certo que nos meses mais críticos para a definição da safra americana (julho e agosto) o El Niño já esteja instalado e exercendo seus efeitos. O cenário pode mudar caso o clima não seja favorável neste período, dependendo de possíveis descontos nas safras esperadas.

    • PSA na China
    Embora a recente aceleração dos casos de peste suína africana já tenha influenciado os preços em Chicago, ainda há muitas incertezas sobre o real impacto que tal evento pode ter no rebanho chinês.

    Se tivermos um aumento da mortalidade suína que cause, no futuro, uma redução no volume de animais em terminação, a demanda chinesa por soja pode ser menor do que o esperado. De qualquer forma, vale ressaltar que hoje a produção chinesa está mais técnica do que em 2019 e isso tende a reduzir o impacto da doença no consumo de soja.

    • Chegada da segunda safra de milho

    Para a formação de preços no Brasil também é importante ter no radar que a partir do final de maio devemos observar a chegada da segunda safra de milho, o que pode pressionar os produtores a abrir espaço de armazenamento e, consequentemente, poderá ter uma aceleração das vendas que, por sua vez, tenderá a influenciar negativamente os preços da oleaginosa.

    • Cenário macroeconômico

    Embora a grande maioria das commodities agrícolas apresente baixa elasticidade-renda, ou seja, a demanda por tais produtos seja menos sensível à perda de renda da população, não se pode descartar os impactos que uma redução na taxa de crescimento global pode trazer para os preços dos todo o complexo de commodities. E tal cenário merece atenção especial tendo em vista o combate à inflação que levou à elevação das taxas de juros ao redor do mundo, com consequente piora das perspectivas de crescimento. Soma-se a isso a recente crise bancária e a instabilidade geopolítica que atravessamos.

    Assumindo o cenário climático atual, com a transição de La Niña para El Niño a partir de meados do ano, o cenário para a produção de grãos tende a ser favorável para a safra americana e, olhando mais adiante, também para a safra sul americana.

    A condição de equilíbrio entre oferta e demanda, presente nas últimas safras, pode se recuperar caso a produtividade dos principais países produtores volte ao normal. Neste momento, o mercado aposta na recuperação da produção americana de grãos, favorecendo a oferta mundial e elevando a relação estoque/consumo global, o que resulta em preços futuros em trajetória de queda. A direção atual da curva de preços faz sentido com a normalização das safras americanas e sul-americanas.

    Além da condição climática, a queda nos preços dos insumos também deve favorecer os investimentos dos produtores norte-americanos em tecnologia, com mais adubação e uso mais intensivo de defensivos, o que também ajuda a proteger as lavouras de problemas de produção.

    A safra americana começará a ser plantada nos próximos dias. A curva futura invertida em Chicago corrobora esse cenário de aperto maior agora e folga no balanço a partir da metade do ano. Podemos observar alguma correção da curva se o clima sinalizar problemas durante o plantio, mas principalmente durante o desenvolvimento da cultura no Hemisfério Norte, nos meses de julho e agosto, período em que o potencial produtivo das lavouras é definido.

    A análise é da consultoria Itaú BBA.



    Fonte: Agro