O joio e o trigo: índios, ruralistas e a “lavagem da soja” no MT

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Foto: Fellipe Abreu/O Joio e O Trigo

Tatiana Merlino //De O Joio e o Trigo*

Integrante da coordenação regional da Funai em Mato Grosso vem extrapolando suas atribuições como servidor do órgão indigenista onde trabalha: representou ruralistas e associações indígenas em negociação de multa e foi diretor administrativo e sócio de uma cooperativa indígena.

Carlos Márcio Vieira Barros trabalha na Funai desde 1986, segundo o Portal da Transparência. Nascido na região onde vivem as etnias Manoki, Pareci e Nambikwara, ele diz ter nome indígena.

Os três povos arrendam terras para o plantio de grãos em larga escala desde 2004, mas nunca conseguiram licenciar suas lavouras. Desde 2019, passaram a cultivar por conta própria, contraindo empréstimos com empresas e agricultores. Mesmo assim, continuaram a produzir. Em 2003, bloquearam uma rodovia e sequestraram funcionários da Funai para pressionar o governo federal, na época do primeiro mandato de Lula, a discutir o projeto de lavoura dentro das terras indígenas. Um dos sequestrados foi Carlos Márcio Vieira Barros, que apoia o projeto.

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A relação de Barros com o cultivo de soja dentro da terra indígena é marcada por irregularidades.

Na ata de fundação da cooperativa indígena, criada para administrar as lavouras, ele aparece como sócio e diretor administrativo. Barros também atuou como advogado de ruralistas e associações indígenas na negociação de multas impostas pelo Ibama por produção ilegal de grãos em terras indígenas.

Em entrevista com palha, Barros disse não saber quem colocou seu nome na ata da cooperativa, embora conste sua assinatura no documento. Ele também assumiu a existência de “lavagem de grãos” da produção feita em terras indígenas, que é quando um produtor mistura produção feita em unidades de conservação, áreas ilegais ou embargos com soja e milho plantados e colhidos legalmente, mascarando a origem da parte irregular. da fazenda.

Como está o andamento do licenciamento ambiental das lavouras Pareci, Manoki e Nambikwara?

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O Ibama analisou o estudo, colocou 46 aditivos que deveriam ser feitos e nós estávamos analisando os acréscimos que o Ibama julgou necessários. A Funai deve enviar uma fiscalização sob o comando do Ministério Público e enquanto isso as cooperativas devem pressionar a Delta, que fez os estudos para que ela seja finalizada. Isso é um pesadelo, leva muito tempo, nunca acaba. Se tem uma legislação que diz que tem que parar, tinha que parar. Se você não tiver, você deve completá-lo. O que não pode é deixar todo mundo no meio do caminho, isso gera um transtorno tremendo.

O Ibama não autorizou o plantio, então existe a questão dos índios permanecerem anônimos para se desfazerem da produção das empresas de quem recebem insumos e pagam na produção. Como funciona?

Esse problema só existe com a soja, aliás, ninguém quer comprar dos índios. As tradings, as maiores do Brasil, Bunge, Cargill, ADM e Amaggi, não podem comprar soja para evitar a pressão internacional. Eles podem sofrer punições econômicas internacionais por comprarem soja dos índios, então não compram. Mas não é uma questão legal, não tem nada de ilegal, é uma questão de acordos que eles fizeram para ir para o exterior. E aí, o que você faz? Normalmente, os índios vendem para uma empresa local que dilui, mistura com o [soja] dos fazendeiros, por assim dizer, e vai como dos fazendeiros. Os índios são invisíveis na soja. Mas quando plantam milho, feijão, milho-miúdo, sorgo, girassol, gergelim, pipoca…esses produtos estão à venda gratuitamente. Só com soja tem que fazer isso, como se fosse… como se os índios não produzissem soja…”

Mas essa mistura de soja nativa com a dos fazendeiros não é ilegal?

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Se misturar é ilegal? Não sei te responder, é tipo um… na verdade não tem ilegalidade vender soja dos índios. Digamos que na fazenda de um agricultor, ele produziu 50 sacas por hectare, então sua fazenda produziu 55 sacas, digamos assim. Seria uma produtividade a mais do que ele produzia naquela fazenda para vender a soja aos índios. Isso não é ilegal, não sei como diria isso, não sei como eles fazem isso. Para falar a verdade, não sei.

O sócio mistura e vende como se fosse dele?

É uma grande cooperativa que financia centenas de outros produtores, não só os índios. Então a cooperativa passa a comercializar. Mas a soja que cai lá, fiscalmente, legalmente, não tem nenhuma ilegalidade no produto. Quando você comprou aquela soja ali, acrescente a origem do nome dos índios.

Na ata de fundação da Copihanama você aparece como associado, como diretor administrativo da cooperativa. Depois, ele deixa o quadro societário da cooperativa em março de 2019, e tem entradas e saídas em ata de reunião. E então você participou de uma reunião de consulta à comunidade para preparar um estudo ambiental. Você pode comentar?

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Sou funcionário da Funai, mas nasci nesta região e convivo com os índios desde criança. Eu tenho nome indígena e eles me consideram indígena. Só não sei quem o colocou lá. Na verdade, para mim também foi uma surpresa. O Ministério Público Federal mandou cancelar e é óbvio que eu também não sabia dessas polêmicas. Foi no começo da cooperativa e isso não tem nada a ver com o fato de eu pertencer à Funai. Como a Cooperativa tem que ser 100% indígena, era uma exigência do MP, e já na criação mudou o estatuto, já peguei meu nome, nunca participei da diretoria, só aconselhei.

Mas em um dos documentos você aparece como diretor administrativo e tem sua assinatura.

Eu sei, mas isso não aconteceu. Isso foi cancelado porque tivemos uma reunião no Ministério Público que cancelou, nunca aconteceu.

Você atuou como representante de três associações indígenas e dois fazendeiros em um processo de negociação de multas por plantio em terras indígenas. Você fez isso como funcionário da Funai ou como pessoa física?

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Como eu acompanho o processo assessorando as cooperativas, é muito difícil todo mundo ir lá porque eles tinham que assinar os documentos no Ibama, e você imagina 20, 30 pessoas indo lá e eu fui indicado para acompanhar esse processo. Mas como foi um acordo rápido, está tudo certo, foi cumprido, só fiz a ponte para eles.

*Colaboração de Marcos Hermanson

Fonte: Agro

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