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Ex-diretor do SFB João Adrien diz que migração para Gestão inviabiliza adoção do CAR • Portal DBO

    Ex diretor do SFB Joao Adrien diz que migracao para Gestao

    Ex-diretor de Regularização Ambiental do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) entre 2021 e 2022, João Francisco Adrien critica a proposta de transferência da gestão do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos e propõe a criação de um comitê integrado de governança para gerir o CAR.

    A proposta de migração do CAR do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA) consta no relatório da Medida Provisória 1.154/2023, do deputado federal Isnaldo Bulhões (MDB-AL), sobre a reestruturação da Esplanada dos Ministérios que está sendo avaliados pela Câmara dos Deputados.

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    “A preocupação é que a CAR que vai para o Ministério da Gestão paralise a execução. O CAR não é um recorde. É um instrumento de implementação do Código Florestal”disse Adriano.

    No governo anterior, de Jair Bolsonaro e com o Ministério da Agricultura na gestão de Tereza Cristina, a implementação do CAR ficou a cargo da Agricultura, por meio do mesmo Serviço Florestal Brasileiro (SFB).

    No atual governo, no entanto, o SFB passou para o guarda-chuva do MMA. Agora, a Câmara dos Deputados aprecia e propõe mudanças na reestruturação do governo. Recentemente, o relatório foi aprovado pela Comissão Mista do MP na Câmara.

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    Adrien afirma que a eventual migração da gestão cadastral para o Ministério da Gestão trata o cadastro como um cadastro e não como um sistema de política pública, como deveria ser considerado.

    Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

    “O CAR não precisa apenas de técnicos de Tecnologia da Informação ou com conhecimento de sistemas, mas de técnicos com conhecimento de legislação. O Ministério da Administração não tem essa competência. O CAR não é um banco de dados”disse Adrien, que também foi, entre 2019 e 2021, assessor especial de Assuntos Socioambientais do Ministério da Agricultura na gestão de Tereza Cristina e é produtor rural.

    “O Ministério da Gestão não tem competência legal nem capacidade técnica qualificada para implementar o Código Florestal nem as normas do Sicar (Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural). Isso paralisará a implementação e o apoio aos estados”.argumentou, lembrando que o SFB, responsável pela manutenção do Sicar, também dá suporte técnico, jurídico e financeiro aos Estados.

    A alternativa sugerida por Adrien é manter o CAR sob a égide do SFB, no Ministério do Meio Ambiente, mas com governança gerida por um comitê compartilhado entre MMA, Agricultura e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Executivos estaduais e municipais, que atenderia à necessidade de outras secretarias, além do MMA, estarem envolvidas na gestão do CAR.

    “O temor do setor é que os dados do Sicar sejam mal utilizados pela equipe do MMA, mas a lei de proteção de dados já proíbe o uso de dados e, desde 2014, não há uso indiscriminado. A construção de um comitê de gestão compartilhada daria conta das deliberações e governança do Sicar, com a gestão do cadastro dentro do SFB”propõe.

    Ele lembra que o Decreto 11.015/2022, que dispõe sobre o Plano Nacional de Regularização Ambiental de Imóveis Rurais (Regulariza Agro), já previa a construção da gestão compartilhada do sistema.

    “O grande prejudicado é o produtor rural. O produtor rural está sendo prejudicado no processo, pois a demora na implantação do Código Florestal acarreta prejuízos aos produtores rurais, que, ao aderirem ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), terão direito à consolidação de suas áreas, bem como a reversão de multas ambientais”observado.

    Em nota técnica enviada à Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), Adrien apresenta um conjunto de pontos para justificar a permanência do CAR no SFB, como o fato de o cadastro ser um dos módulos do Sicar, a necessidade de integrar o Sicar com os estados e possíveis atrasos na implementação do Código Florestal.

    “Não é possível dissociar o CAR do órgão executor do Código Florestal, no caso, o SFB. Separar o CAR do Sicar e retirá-lo do órgão responsável pela implementação da legislação é anacrônico e inviabiliza a implementação da legislação”defendeu Adrien na nota.

    Na quarta-feira, a bancada ruralista afirmou que a transferência do CAR do MMA para a Gerência atendeu à demanda da FPA pela necessidade de digitalização do sistema – até então, a FPA pedia a devolução do CAR à Agricultura.

    Na avaliação de Adrien, o avanço do Cadastro Ambiental Rural, que está parado desde a aprovação do Código Florestal Brasileiro – hoje, apenas 0,67% dos 6,944 milhões de estabelecimentos rurais cadastrados estão validados – depende de uma coordenação nacional.

    “O desafio é avançar na implementação do CAR nos Estados que precisam de apoio técnico”disse Adriano.

    Fonte: Portal DBO