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Em um ano desafiador com oscilações de preços alucinantes, a ABIC projeta alta no…

Com aumento de até 125% na matéria-prima, indústria repassou apenas 55% para o varejo e teve que se adaptar à nova dinâmica do mercado cafeeiro

Ainda sentindo os efeitos da geada do ano passado, 2022 foi o segundo ano de produção de café arábica inferior ao estimado pelo setor. Consequentemente, o resultado foi mais um ano de desafios para a cafeicultura nacional. O ponto positivo é que o consumo tem se mantido, mesmo com expectativa de alta em 2022.

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Segundo dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de arábica no Brasil neste ano é de 32,7 milhões de sacas, o que representa um aumento de 4,1% em relação ao ciclo anterior, mas ainda abaixo do volume ideal para abastecimento interno e exportação do produto.

De maneira geral, a expectativa do setor cafeeiro nacional é que no ano que vem, se as condições climáticas continuarem ideais, o produtor de arábica veja uma recuperação na produção, mas, para o setor, a retomada e os reajustes de preços devem ser mais lentos, já que a tendência é que o mercado fique bloqueado até que se entenda o potencial da produção brasileira no ano que vem.

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Traçando uma linha do tempo e fazendo um balanço do ano de 2022, Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café, volta ao mês de março, quando o setor ainda se preparava para aplicar o repasse aos demais elos da cadeia.

“Levou cerca de 6 a 8 meses para que a indústria conseguisse recompor sua margem minimamente aceita para remunerar seus respectivos negócios, tendo até março acumulado entre 120 e 125% de aumento na matéria-prima (arábica e conilon) desde quando aconteceu a geada e a indústria ainda em março acumulou alguma alta residual e ainda passando pelos aumentos exponenciais em um curto período de tempo, de julho a março”, explica.

Desse montante, dados da ABIC mostram que aproximadamente 55% do aumento foi repassado ao varejo. É importante destacar que o café representa cerca de 65% dos custos pagos pela indústria e, segundo o presidente, ainda seriam necessários entre 7 e 10% para que o setor pudesse fechar as contas com mais tranquilidade.

Ao longo do ano, a indústria teve que estudar o cenário de trabalho e se adequar à nova dinâmica do mercado, seguindo as estimativas oficiais da safra brasileira, fato que ajudou a manter a alta volatilidade dos preços durante os 12 meses do ano.

“Encontrar uma revisão da Conab em meados de maio, derrubando a expectativa da safra em dois milhões de sacas, foi outro impacto devastador para a indústria que já acumulava prejuízos e não conseguia repassar os aumentos acumulados para o varejo”, acrescenta. .

Entre os meses de outubro e novembro, o setor cafeeiro observou uma volatilidade ainda mais intensa nos preços da commodity na Bolsa de Nova York (ICE Future US). A volta das chuvas no Brasil, as primeiras impressões da safra 23 e principalmente a migração dos fundos de commodities para o mercado de capitais, justificaram a intensa oscilação dos preços.

“Os fundos não perdoam. Saíram da posição comprada de commodities para o mercado de capitais, dada a grande expectativa de alta dos juros”, diz Pavel, referindo-se aos impasses econômicos nos Estados Unidos e na Europa.

Todos esses fatores pressionaram os preços na Bolsa. As cotações que antes eram negociadas acima de 200 cents/lbp em Nova York voltaram a ser negociadas abaixo desse valor e atualmente estão em torno de 170 cents/lbp.

“A volta, porém, foi rápida. Uma curva que quase despenca e uma subida extremamente rápida. E o medo do próprio cafeicultor com essa mudança de governo, ninguém sabe o que vem a seguir”, diz.

Podemos dizer que os negócios que já estavam lentos, desde novembro o mercado está ainda mais bloqueado. Além desses fatores, o produtor também espera a virada do ano fiscal para fechar novos contratos. Em termos de negociação, segundo especialistas, a expectativa é que a retomada só seja observada em janeiro e mesmo assim após as chuvas na importante fase de desenvolvimento da safra.

“A mistura de todos esses elementos foi um ano extremamente desafiador para todo o setor cafeeiro. O setor sofreu com uma expectativa de oferta extremamente volátil, preocupante e uma variação de preços alucinante”, acrescenta. Para compensar a queda do arábica, a indústria passou a demandar mais conilon no mercado interno. O reflexo disso, inclusive, foi a queda no volume de café conilon exportado pelo Brasil durante o ano.

Para 2023, Pavel aponta que os desafios continuam a partir da incerteza que o setor ainda tem em relação ao tamanho da safra de 2023.

“Sem dúvida essa dinâmica vai permear o nosso setor até termos de fato a confirmação desses números pelos órgãos oficiais (Conab e IBGE). Afinal, esta safra atual ainda foi prejudicada pela geada, mas é natural que no ano que vem as lavouras que não tiveram produção neste ano, tenham no ano que vem. Qual o tamanho? Para conferir”, acrescenta.

Diante dessa volatilidade e expectativa de números ainda não oficiais, somados às margens justas que o setor vem trabalhando, a queda dos preços nas gôndolas dos supermercados só deve acontecer quando o volume da nova safra se confirmar. “Até lá haverá muita volatilidade, muita tensão e muita cautela por parte do industrial, por parte do produtor e naturalmente por parte do consumidor”, acrescenta.

Café - CNA
Volatilidade e mercado apertado devem continuar até que se entenda o potencial da 23ª safra

ABIC projeta aumento de aproximadamente 1,5% no consumo interno

Em termos de consumo, a ABIC projeta crescimento entre 1 e 1,5% para o ano de 2022 em relação ao ano passado, que teve alta de 1,6% e consumo interno de 21,5 milhões de sacas.

Ele acrescenta que o consumo de café no Brasil é sólido, mas, além dos problemas de abastecimento, a alta inflação brasileira não afetou o consumo da bebida, mas obrigou a uma mudança no tipo de café comprado pelos brasileiros.

“A inflação foi destrutiva para o bolso brasileiro. A cesta toda ficou acima de 10%, e é natural que o consumidor neste momento esteja buscando um café mais barato”, diz. Nesse sentido, Pavel considera que apesar da mudança do arábica para o conilon, os brasileiros também se adaptaram à nova realidade.

“Acreditamos que foi satisfatório porque o consumidor teve um café balanceado, de qualidade e com maior rendimento no final da xícara. O consumidor pode fazer mais drinks com menos café com o robusta”, acrescenta.

Café 16:9

Mais segurança de ponta a ponta na cadeia

A Portaria 570 tem papel comum com as certificações da ABIC, de proteger o consumidor. Juntos eles se fortalecem, mas desempenham papéis diferentes, já que a portaria não trata das preferências do consumidor, mas de um padrão mínimo de identidade e qualidade para o produto.

Os selos continuarão informando ao consumidor sobre a conformidade do produto em termos de pureza e segmentando as categorias de qualidade Extra Forte, Tradicional, Superior, Gourmet, ajudando o consumidor a escolher o produto que melhor atende seu paladar. O poder público terá a função de punir os fraudadores e a Associação seguirá no processo de denúncia de produtos irregulares, certificando e qualificando industriais, representando a categoria perante o governo e promovendo o consumo.

Consulte Mais informação:

+ Entenda o que muda com o novo padrão oficial de classificação do café torrado; medida entra em vigor em janeiro

Mudanças nos Programas de Certificação

Segundo a ABIC, haverá duas mudanças principais. A primeira é a combinação dos selos Qualidade e Pureza. Um café pode ser puro, ou seja, não conter elementos estranhos, mas ainda apresentar qualidades desagradáveis ​​para o consumidor. Dessa forma, não basta mais que o produto seja puro. Também precisa atender ao padrão mínimo mundial estabelecido pela Portaria 570.

A segunda novidade é consequência dessa unificação. Os produtos que não atenderem aos requisitos mínimos exigidos pelo texto serão identificados como “Fora de Tipo” e não receberão os selos da ABIC. Eles ainda serão inspecionados quanto à pureza, pois podem ser vendidos, mas não mais certificados pela ABIC.

A ABIC também está estruturando o novo plano de marketing que visa ampliar o conhecimento e o reconhecimento das certificações da Associação por parte dos supermercadistas e consumidores, reforçando a credibilidade conquistada ao longo de quase meio século. A Associação também está em processo de se tornar uma empresa credenciada para realizar a classificação de café torrado e moído.

A reestruturação foi discutida e aprovada pelos membros do Conselho Deliberativo da entidade. As mudanças terão um período de adaptação e a entidade continuará orientando os Associados por meio de reuniões virtuais, por meio de materiais e vídeos didáticos para maiores esclarecimentos.

Com informações do Jornal do Café*



Fonte: Noticias Agricolas

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