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Joesley e Wesley Batista, denunciantes da J&F, estão na comitiva do agro para a China • Portal DBO

    Interdependencia comercial entre Brasil e China • Portal DBO

    O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, partiu nesta segunda-feira, 20, para a China, uma semana antes da visita de Estado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará a Pequim e Xangai. Documentos aos quais o Estadão tiveram acesso revelam que Fávaro leva 102 representantes do setor privado, incluindo grandes agentes da agroexportação, principalmente carne bovina, e segue uma extensa agenda, que inclui coquetéis na embaixada na capital chinesa e reuniões com autoridades, empresas e associações.

    A viagem é para o governo tentar reforçar o apoio ao agronegócio, que, na eleição, mostrou predileção por Jair Bolsonaro (PL), e acontece dias após o Movimento dos Sem Terra (MST) invadir terras produtivas, o que gerou críticas de o segmento. A delegação oficial do ministério é composta por 15 membros. O restante, do setor privado, acompanha a missão.

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    Segundo o documento obtido pela reportagem, são 43 representantes de exportadores de carne bovina, 21 de suínos e aves, cinco de algodão, cinco de insumos, quatro de celulose, um de óleos vegetais (soja), um de arroz e um de reciclagem de animais, além de 21 de entidades multissetoriais, como a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

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    Eles compõem a delegação empresarial de executivos do agro das principais empresas brasileiras, como BRF, Friboi, Minerva e J&F. Na lista estão os irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, da J&F, que abalaram o mundo político com uma denúncia premiada, em 2017.

    A denúncia chegou ao então presidente da República, Michel Temer (MDB), que Joesley gravou clandestinamente no Palácio do Jaburu, além de governadores, deputados e senadores de diversos partidos. O grupo denunciou ter repassado ilicitamente quase R$ 600 milhões para as campanhas eleitorais de 1.829 candidatos e 28 partidos.

    Os relatórios foram posteriormente questionados e os irmãos da holding J&F foram acusados ​​de sonegar informações. A Procuradoria-Geral da República (PGR) rescindiu a acusação. Em 2020, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), aprovou a manutenção do acordo, mas os irmãos Batista tiveram que pagar R$ 1 bilhão em multas e cumprir prisão domiciliar. Procurada, a J&F não quis comentar a participação na viagem.

    Além deles, estão na lista do ministério os representantes de Maggi, Kleverson Scheffer – ele é filho de Eraí Maggi, conhecido como o rei da soja e primo do ex-ministro Blairo Maggi -; e do grupo Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho.

    Avançar

    Fávaro realiza missão preliminar à visita presidencial. O presidente desembarcará em Pequim no final do dia 26 e participará de encontros com o presidente chinês, Xi Jinping, no dia 28, seguidos de um banquete oferecido em sua homenagem. Lula se reunirá com empresários chineses e com a delegação brasileira, no dia 29. Cerca de 500 empresários vão participar de um seminário promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil).

    A missão da Agricultura só terá folga no fim de semana anterior ao desembarque de Lula, de acordo com o cronograma apurado pela reportagem. No dia seguinte à chegada a Pequim, após dois dias de viagem, eles terão uma série de reuniões com associações de fabricantes de pesticidas e fertilizantes, como Croplife Asia e Sinofert, além da Associação Chinesa de Soja. O embaixador Marcos Galvão vai oferecer um coquetel, na noite do dia 23, à delegação ministerial e à delegação de empresários.

    No dia 24, eles participam de seminários no Hotel St. Régis, que também será a base de Lula em Pequim – um com a participação de representantes chineses, como a Associação Chinesa para a Promoção da Cooperação Agrícola Internacional, e também de um banco que financia o setor, o Banco Agrícola da China. O dia terá um foco especial nos abatedouros. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) promoverão um coquetel após o seminário.

    visita técnica

    Também haverá visitas técnicas organizadas pela Apex e fóruns sobre iniciativas verdes, desenvolvimento sustentável e encontros sobre agricultura de baixo carbono. O governo quer habilitar mais fábricas de exportação, abrir mercado para novos produtos, discutir barreiras sanitárias e flexibilizar os protocolos de importação chineses. Em janeiro, a China autorizou a reabilitação de três plantas de exportação de aves e bovinos no Brasil, dias após a posse de Lula. Havia negociações em andamento para expandir para mais oito produtores.

    No entanto, todas as exportações do Brasil para a China foram suspensas em fevereiro, devido à descoberta de um caso atípico de doença da vaca louca. A doença, porém, foi motivada pela idade, sem risco de contágio. Os frigoríficos brasileiros afirmam que as restrições, após a descoberta de um caso, sejam aplicadas apenas a uma determinada região e não de forma indiscriminada.

    Registro

    Uma das demandas é a digitalização e simplificação de processos, além da abertura de mercados para mais produtos. A comitiva empresarial já atingiu a marca de 240 empresários cadastrados, o que é considerado um recorde pelo governo. Como Estadão revelou, representantes de diversos setores disputam espaço e prestígio para serem incluídos, o que o vice-presidente Geraldo Alckmin chamou de “overbooking”.

    O secretário Daniel Fernandes, da Secretaria de Comércio, Investimentos e Agricultura do Itamaraty, disse que o governo não pagará passagem nem hospedagem. “É um número muito grande (de empresários)”, disse. “A procura é impressionante”, disse Fernandes.

    A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.

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    Fonte: Portal DBO