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El Niño pode favorecer ferrugem asiática no Brasil

    El Nino pode favorecer ferrugem asiatica no Brasil

    O recente anúncio da possível chegada do El Niño ainda no outono deixou os produtores rurais em alerta. Em atualização divulgada esta semana, os modelos mostraram mais uma vez a chance de um El Niño alterar o regime de chuvas no Brasil. Antes, o fenômeno só era previsto entre o final do inverno e a chegada da primavera. Caso o fenômeno se confirme, pode trazer mudanças significativas para as lavouras brasileiras.

    Há um alerta importante que deve ser lembrado, o regime de chuvas e temperatura terá mudanças significativas no período de semeadura e desenvolvimento das lavouras de soja. E o maior alerta é a ocorrência de ferrugem asiática, que é uma doença que traz grande preocupação aos produtores de soja, podendo chegar a perdas totais na ausência de controle. É causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, surgiu na Ásia e se espalhou, chegando ao Brasil na safra 2001/2002, no Paraná. Nesse mesmo ano também foi encontrado em lavouras no Paraguai, marcando a primeira aparição na América do Sul. Atualmente, ocorre em praticamente todas as regiões produtoras de soja do país.

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    O fungo Phakopsora pachyrhizi é biotrófico, ou seja, só se reproduz em soja verde ou outro hospedeiro vivo, dependendo nutricionalmente dos tecidos vivos. A infecção depende da disponibilidade de água livre na folha, exigindo pelo menos seis horas de molhamento foliar com temperaturas ótimas entre 15 °C e 25 °C ou mais de oito horas quando sob temperaturas extremas, como 10 °C ou 27 °C .

    ENTENDA A RELAÇÃO DA FERRUGEM ASIÁTICA E EL NIÑO

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    Segundo dados do Consórcio Antiferrugem na safra 2014/15 – período com influência do El-Niño – o estado com maior ocorrência de ferrugem foi o Rio Grande do Sul com 99 ocorrências na safra, seguido do Paraná (89 ) e Goiás (50). Os números da safra 2015/16 – também sob influência do último El-Niño representativo – foram ainda maiores no Paraná (106), seguido do Rio Grande do Sul (86) e Goiás (76).

    Já na safra 2018/19, período com a última ocorrência do El Niño, os números de ocorrências no Rio Grande do Sul chegaram a 127 notificações, no Paraná 58 e Mato Grosso do Sul com 54 registros. Com a influência do La Niña, o sul do Brasil viveu um período mais seco, com verões mais quentes e invernos mais frios. Por outro lado, as chuvas foram bem mais frequentes sobre o estado do Mato Grosso, mantendo o clima mais úmido e ameno.

    Segundo a Embrapa, a ferrugem asiática é favorecida por condições climáticas úmidas e temperaturas amenas, com temperatura ideal entre 20°C e 25°C e umidade relativa acima de 80%. Os reflexos do clima úmido e mais frio podem ser observados com o maior número de ocorrências de ferrugem asiática no estado de Mato Grosso em 2021/22. Na safra deste ano, foram 262 detecções de ferrugem, com o maior número de ocorrências em março de 2022. Esse período é fortemente influenciado pelo fenômeno La-Niña.

    No Paraná e no Rio Grande do Sul, os números de ocorrências foram bem menores entre 15 e 18 detecções ao longo do ciclo, respectivamente. Mas vale ressaltar que, com a influência do La Niña, a região sul enfrentou um sério problema em relação à seca e às temperaturas mais altas no ciclo de desenvolvimento da cultura.

    Ainda que a safra 2022/23 tenha sido fortemente influenciada pelo La Niña, ocorreram alguns episódios de chuvas pontuais, principalmente entre fevereiro e março no Paraná e final de março no Rio Grande do Sul, elevando para 83 e 43 casos a ocorrência de ferrugem respectivamente.

    Em períodos de El Niño, espera-se um verão mais úmido na região sul, o que alerta o produtor para que o segundo e terceiro maiores produtores do país possam estar mais propensos à ocorrência da doença.

    Existem medidas preventivas para evitar a ocorrência da ferrugem asiática na soja, veja abaixo:

    -Na entressafra, é necessário manejar as plantas de soja para controlar a ferrugem.

    -Se as plantas voluntárias de soja germinarem, devem ser eliminadas ou secas.

    -Alguns estados adotaram o “vácuo sanitário” como estratégia para reduzir o inóculo na entressafra.

    – Cultivares de ciclo precoce semeadas no início da estação recomendada podem ser menos afetadas pela doença.

    -A lavoura e a região devem ser monitoradas e o controle químico com fungicidas imediatamente após os primeiros sintomas ou preventivamente.

    -Recomenda-se o uso de misturas comerciais de fungicidas triazol e estrobilurina para o controle da ferrugem.

    -A decisão sobre o momento da aplicação deve ser técnica e considerar diversos fatores, como a presença do fungo na região e as condições climáticas.

    -Cultivares com genes de resistência estão disponíveis comercialmente, mas não dispensam o uso de fungicidas e devem ser utilizadas como estratégia adicional de manejo.

    Além disso, é importante adotar práticas agrícolas sustentáveis, como rotação de culturas, plantio direto e uso de bioinsumos, para prevenir a ocorrência de doenças na cultura da soja. A prevenção da doença é a medida mais eficaz no controle da ferrugem asiática, mas o uso indiscriminado de fungicidas pode favorecer o surgimento de resistência do fungo a produtos químicos.



    Fonte: Agro