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Desafios e demandas de pesquisa com o setor produtivo

Aproximar a Embrapa Semiárido (Petrolina-PE) do setor produtivo foi uma das prioridades da gestão do Centro de Pesquisas em 2022, que realizou, de agosto a dezembro, sete oficinas temáticas. A iniciativa promoveu uma ampla discussão sobre os desafios e demandas de pesquisa para as áreas de produção de manga, olericultura, convivência com a seca no Semiárido, diversificação de culturas, recursos naturais, viticultura e produção animal.

As Oficinas aconteceram na sede da Embrapa Semiárido, presencialmente. Os eventos reuniram, para cada tema, dirigentes de empresas, técnicos e convidados diversos entre produtores, representantes de associações, cooperativas, sindicatos rurais e viveiristas.

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A dinâmica envolveu a apresentação das principais entregas e contribuições desta Unidade da Embrapa, abordando pesquisas recentes e trabalhos em andamento. Os convidados também puderam relatar os problemas do setor e apontar as demandas tecnológicas na visão do mercado.

Para a chefe-geral da Embrapa Semiárido, Maria Auxiliadora Coêlho, a ação foi estratégica e representa o compromisso da Unidade com a agricultura do Semiárido. “Para cada grande área temática, buscamos que representantes de diferentes segmentos participem ativamente das discussões. Assim, conseguimos prospectar elementos das percepções do setor, relacionados às prioridades de pesquisa”, comenta.

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O gestor explica que as informações levantadas servirão de base para orientar a estratégia de trabalho em 2023, possibilitando a construção de uma agenda mais coerente com os anseios do agro regional e alinhada com a infraestrutura física e capacidade de pessoal da Embrapa Semi- Árido.

Outro ponto destacado pelo chefe-geral diz respeito à construção de parcerias, que “é uma das formas de viabilizar o programa de pesquisa, e que também permite a validação do trabalho dentro da expectativa do próprio setor”. Nesse sentido, Auxiliadora acrescenta que é preciso ampliar esse contato com os produtores, e já traça o objetivo de realizar novos eventos de aproximação, voltados para uma discussão mais ampla e abrangente sobre a realidade do campo.

Internamente, a importância do alinhamento entre a Embrapa e os produtores foi destacada pelos diversos pesquisadores da Instituição, como a agrônoma Maria Aparecida Mouco, da área de fitotecnia e fruticultura, que participou de seis das sete oficinas temáticas.

“Foram momentos importantes, em que as principais áreas de atuação da Embrapa apresentaram as tecnologias geradas e também ouviram as demandas dos produtores, o que representa um caminho coerente para orientar as ações da Unidade, etapa que deve ocorrer antes da elaboração das propostas de projetos ”, enfatiza a pesquisadora.

Parecer do setor produtivo

O saldo positivo dos eventos também foi compartilhado pelos produtores e representantes de instituições que participaram das oficinas temáticas. Ao todo, 32 atores ligados ao setor agropecuário regional contribuíram com a iniciativa, participando ativamente das discussões e debates.

O presidente do Instituto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf), José Gualberto de Freitas Almeida, que participou da Oficina de Vinificação em novembro, acredita que a iniciativa é necessária para a região. “Foi um encontro onde foram mostrados avanços, atividades que desconhecíamos e que ficamos muito satisfeitos com o andamento”. Gualberto também cita o interesse em construir projetos de inovação aberta, ampliando o envolvimento entre o Vinhovasf e a Embrapa.

“Temos um entendimento muito claro de que sem pesquisa e sem a validação dessa pesquisa no setor produtivo, não conseguiremos avançar. Estamos prontos para trabalhar juntos e esperamos que esse tipo de encontro se torne cada vez mais frequente”, acrescenta.

Para o representante da Coordenação Nacional da Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA), Cícero Felix dos Santos, que participou da Oficina de Convivência com a Seca no Semi-Árido, realizada em setembro, a avaliação foi de que o O evento conseguiu atingir o objetivo proposto ao apresentar as pesquisas realizadas, bem como as possibilidades de ampliação das ações com o apoio de outras instituições.

“Minha leitura foi de um acontecimento bastante oportuno e estratégico para o momento que vivemos. O semiárido, que tem a maior parte de sua área coberta pelo bioma Caatinga, tem muito a contribuir para a resistência e resiliência das populações e de seu ecossistema frente às mudanças climáticas, e a pesquisa e transferência têm papel fundamental nesse cenário”, ele conclui.

O empenho da Embrapa em facilitar o diálogo entre pesquisadores e o setor produtivo também foi elogiado pelo produtor Frederico Teixeira, da empresa Frutinor, que participou da Oficina de Diversificação de Cultivos, realizada em outubro. “Minha impressão foi a melhor possível, fiquei muito feliz em poder contribuir com os debates. O efeito direto é a aproximação da pesquisa com as demandas do setor. Isso, conseqüentemente, trará bons resultados”, acrescenta.

Confira o que foi abordado nas Oficinas:

MANGICULTURA

O evento proporcionou uma rica discussão sobre os desafios e oportunidades de pesquisa para a cultura, considerada uma das mais importantes para o Vale do São Francisco. Nesta área foram apresentadas as áreas de atuação da Embrapa Semiárido, que vão desde estudos fitotécnicos, melhoramento, irrigação, fitossanitária, nutrição e pós-colheita, até economia, agrometeorologia, processamento e nanotecnologia. As demandas do setor produtivo envolviam a necessidade de mais pesquisas para obtenção de frutos com melhor qualidade e plantas com maior produtividade, visando o acesso a novos mercados, bem como a redução dos custos de produção.

OLERICULTURA NO SEMIÁRIDO

A Oficina buscou apresentar os resultados do trabalho da Unidade, bem como identificar problemas de pesquisa e demandas para as culturas de melão, melancia, cebola e abóbora. O setor produtivo apontou a salinização do solo, as condições fitossanitárias, a falta de cultivares mais adaptadas às condições do semiárido e o alto custo de produção como os fatores mais limitantes para o desenvolvimento das lavouras na região.

CONVIVÊNCIA COM A SECA NO SEMIÁRIDO

O evento apresentou os desafios de produzir no semiárido, onde a água é um fator limitante para as lavouras e para a irrigação dos animais. Dentre os trabalhos realizados pela Unidade sobre o tema, destacam-se o melhoramento genético de plantas forrageiras e a seleção e utilização de genótipos superiores de fruteiras nativas, como umbu e maracujá silvestre, além do beneficiamento de frutas para agregação de valor, o reflorestamento da Caatinga e os estudos de monitoramento das mudanças climáticas. A contribuição histórica da Embrapa Semiárido na captação, armazenamento e aproveitamento das águas pluviais também foi abordada. O setor produtivo destacou a necessidade de desenvolver mais projetos com foco na sustentabilidade e conservação da Caatinga.

DIVERSIFICAÇÃO DE CULTIVOS:

A Oficina foi dividida em duas partes. A primeira abordou a diversificação de cultivos na fruticultura tropical, com apresentação de trabalhos relacionados a acerola, coco, goiaba e espécies cítricas. Foram apontados os desafios e também os resultados destacados, como o híbrido de porta-enxerto para goiabeira, BRS Guaraçá. A segunda parte do Workshop foi dedicada à fruticultura em climas temperados em condições semiáridas, tendo sido apresentadas pesquisas sobre inibidores de crescimento, sistemas de poda, indutores de floração e manejo de irrigação, trabalhos que têm possibilitado a produção de peras, maçãs, caquis, romã e abacate no semiárido.

RECURSOS NATURAIS NO SEMIÁRIDO

A Embrapa apresentou os resultados da pesquisa envolvendo aspectos relacionados à água, solo, clima, mudanças climáticas e biodiversidade na região. Os convidados apontaram algumas ações importantes dentro do tema, principalmente relacionadas à questão hídrica, como o Programa Água Doce, do Ministério do Desenvolvimento Regional. Foram feitas demandas para projetos voltados ao reflorestamento e revitalização de bacias semiáridas e ações envolvendo créditos de carbono. A oficina também contou com a participação da Embrapa Territorial, que apresentou os Sistemas Estratégicos de Inteligência Territorial (SITEs) para o Bioma Caatinga.

VITIVINICULTURA

O workshop foi dividido em duas partes, abordando os avanços da pesquisa e principais resultados para uvas de mesa e para processamento. Dentre as demandas apontadas pelo setor produtivo, destacam-se as boas práticas na produção de mudas e também na implantação de novas áreas. Outro problema apontado pelo setor diz respeito às moscas-das-frutas, havendo necessidade de pesquisas que visem promover um controle mais eficiente da praga. Outros desafios fitossanitários associados a condições climáticas específicas foram discutidos, em particular para uvas de mesa, bem como a importância de sistemas de produção mais eficientes no uso de água e insumos. A oportunidade de estudar novos produtos para a viticultura tropical a partir de cultivares que gerem uma composição química peculiar a vinhos ou sucos integrais.

PRODUÇÃO ANIMAL

Foram apresentados os principais projetos na área de saúde, nutrição, manejo e reprodução animal. Trabalhos com modelos do sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), melhoramento de espécies forrageiras, além de atividades com sistemas de aquicultura, também foram mostrados. Em relação ao setor produtivo, a importância de projetos que busquem novas alternativas alimentares para o gado leiteiro e também ações para fortalecer a cadeia produtiva e melhorar



Fonte: Agro

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