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Conflito Rússia x Ucrânia e o agronegócio

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    Rússia e Ucrânia figuram entre os maiores produtores e exportadores de trigo no mundo. No mercado de milho, a Ucrânia está entre os cinco maiores produtores e é um dos principais exportadores do cereal.

    Por responderem por uma parcela significativa da oferta mundial de trigo e milho, o conflito entre os dois países afetou os preços das commodities mundiais.

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    Além dos grãos, o mercado de fertilizantes também preocupa. A Rússia tem grande importância para o Brasil e o conflito, se não for resolvido com rapidez, poderá elevar ainda mais os preços no mercado interno. 

    No mercado do boi gordo, a Rússia, que já foi importante parceiro comercial brasileiro, hoje detém menos espaço, responsável por 1,8% das exportações brasileiras de carne bovina in natura 2021.

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    O cenário merece atenção e deve ser acompanhado de perto, pelos impactos causados no cenário global e seus reflexos no agronegócio.

    Tensão entre Rússia e Ucrânia pode respingar nos frigoríficos

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    Para as empresas brasileiras de proteínas, o acirramento das tensões entre a Ucrânia e a Rússia tende a ter um peso maior sobre a BRF do que na JBS, por exemplo, segundo avaliação interna do ItaúBBA. Para o banco, a crise no Leste Europeu tem maior potencial negativo para a dona da Sadia dados os efeitos sobre seus custos de produção e sobre as exportações de carne de frango.

    Em linha com outras previsões, o ItaúBBA prevê que a crise deve elevar os preços de milho e trigo, já que Ucrânia e Rússia respondem, juntas, por 18% das exportações de milho e por 28% das de trigo.

    Embora o Brasil seja exportador líquido de milho, a oferta doméstica vem diminuindo em relação ao consumo por causa do avanço das usinas de etanol feito com o grão. Qualquer problema na oferta de milho da Ucrânia, que respondeu por 35% das importações da China em 2021, pode aumentar ainda mais a demanda pelo cereal brasileiro, desencadeando novas altas dos preços. 

    Aumento dos custos

    Para o ItaúBBA, um aperto na oferta global de milho pode gerar pressão sobre a estrutura de custos da BRF no curto prazo. Nas contas do banco, para cada 10% de alta nos preços do milho, o custo unitário de produção da companhia tende a subir 2%. O efeito ofuscaria um potencial benefício gerado pela crise na Ucrânia, que seria a alta na demanda por frango brasileiro. 

    A Ucrânia é exportadora líquida de carne de frango desde 2013 e a Rússia, desde 2021. Embora os volumes sejam pequenos, os embarques ucranianos representaram 10% das importações da Arábia Saudita no ano passado. Logo, problemas na região podem direcionar essa demanda ao Brasil. 

    A BRF está posicionada para atender a essa demanda e se beneficiaria de uma alta dos preços do produto, avalia o banco. Porém, o benefício estaria mais ligado ao Oriente Médio. Os efeitos sobre a BRF, claro, respingariam na Marfrig, que hoje tem 33% de participação na companhia. No mais, na visão do ItaúBBA, a crise na Ucrânia não teria maiores impactos na Marfrig, já que menos de 2% de suas receitas vêm da região e a maior parte de suas operações é nos EUA. 

    No caso da JBS, o banco acredita que a companhia também enfrentaria pressão generalizada e “significativa” sobre os custos das controladas Pilgrim’s Pride, US Pork e Seara, mas que poderia ser compensada por preços mais altos do frango. 

    O ItaúBBA lembra que a JBS pode se beneficiar de um ambiente mais favorável ao consumo nos EUA e que os negócios de carne bovina naquele país e no Brasil tendem a ser menos afetados por novas altas dos grãos.

    Quem também pode sofrer impactos limitados é a Minerva, que tem só 6% de suas receitas relacionadas à região da comunidade dos Estados independentes. O banco diz que a demanda por carne bovina no mundo segue em alta e que a companhia conseguiria redirecionar vendas a outros mercados se houver problemas no Leste Europeu.

    Rússia x Ucrânia: Estados Unidos faz declaração sobre fertilizantes e suprimentos agrícolas

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    O secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, disse hoje (24) que espera que as empresas de fertilizantes e suprimentos agrícolas afetadas pela invasão russa à Ucrânia não tirem vantagem injusta da situação, em meio aos preços já altos de fertilizantes e safras.

    Ele acrescentou que é muito cedo para dizer qual seria o impacto da crise nos agricultores dos EUA. A Rússia é um grande produtor de potássio e exportador de gás natural, um insumo fundamental na produção de fertilizantes nitrogenados.

    “Levará algum tempo para que o impacto seja sentido. Espero que nenhuma empresa, seja de fertilizantes ou qualquer outro fornecimento que possa ser afetado por isso, tire vantagem injusta dessa circunstância ou situação”, disse Vilsack, em entrevista coletiva. “Essa é a minha maior e mais profunda preocupação.”

    Brasil pode enfrentar maior aperto na oferta de fertilizante por crise na Ucrânia

    As exportações agrícolas brasileiras podem perder sua vantagem competitiva devido ao aumento dos preços dos fertilizantes e à escassez de suprimentos, se a invasão russa na Ucrânia desencadear sanções ocidentais aos fornecedores do país, segundo analistas.

    O Brasil depende de importações para cerca de 85% de suas necessidades de fertilizantes. A Rússia é seu maior fornecedor de matérias-primas para adubos.

    Mesmo antes do conflito na Ucrânia, os preços dos fertilizantes estavam subindo devido a problemas de logística global, sanções dos EUA à Belarus e ausência da China do mercado desde outubro.

    A crise na Ucrânia significa que os produtores brasileiros de soja e outras commodities agrícolas estão potencialmente prestes a enfrentar um momento difícil. “É a tempestade perfeita”, disse Jeferson Souza, analista da Agrinvest Commodities. “Dentre os grandes produtores de soja, o Brasil é o que tem mais a perder”, disse ele, acrescentando que concorrentes como Estados Unidos e Argentina não usam tanto fertilizante de potássio quanto o Brasil.

    Rússia x Ucrânia: Brasil têm outras opções em fertilizantes

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    A Rússia é uma das maiores produtoras do mundo de fertilizantes e o Brasil compra nitrogenados, fosfatados e potássio daquele país. A agricultura brasileira demanda cerca de 85% de fertilizantes importados e em 2021, cerca de 23% veio da Rússia.

     Segundo dados da StoneX o país consome por ano cerca de 40 milhões de toneladas dos produtos, sendo um terço para cada grupo NPK. Quando se  fala em nitrogenados, 95% vem da importação de países como Rússia, China e Oriente Médio; nos fosfatados a importação corresponde a 75% vindos da Rússia, China e Marrocos e no Potássio o percentual é de 95%, da Rússia, Belarus e Canadá.

    Com os primeiros ataques entre Rússia e Ucrânia, nesta quinta-feira (24), o mercado de fertilizantes já sentiu os impactos. O preço da ureia no mercado de derivativos de fertilizantes subiu 42% e o fósforo, 16%. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse, durante um evento em Fortaleza (CE), que os preços podem ainda mais devido a diminuição da oferta nas próximas semanas. Ela também destacou que a agricultura brasileira observa a situação com preocupação.

    Tereza Cristina disse que o Brasil vai buscar uma articulação política internacional de forma a buscar novos fornecedores. Recentemente ela esteve em viagem ao Irã, que também pode se tornar um parceiro. Ela citou o Canadá e o Marrocos como países que também poderiam suprir a demanda brasileira. 

    “O Brasil é um importador de fertilizantes de vários países do mundo. Nós temos que ver o que vai acontecer. Agora, temos outras alternativas para poder substituir se nós tivermos algum problema em algum desses países“,  completou.