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Zarc Research Network e setor produtivo discutem desafios para a gestão…

Como melhorar a gestão dos riscos climáticos na agricultura foi o tema do encontro anual da Rede de Pesquisa em Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos (Zarc), realizado nos dias 10 e 11 de maio na sede da Embrapa, em Brasília (DF). O evento reuniu especialistas da Embrapa, técnicos do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), do Banco Central e representantes do setor produtivo, como cooperativas e seguradoras, com o objetivo de discutir metodologias, novos modelos e parâmetros técnicos para ser aplicado no próximo período. .

O encontro também marca o início das ações dentro do novo acordo de cooperação firmado com o Banco Central para atualização, aprimoramento metodológico e expansão do Zarc para 27 novas culturas e sistemas de produção ainda sem estudos, até 2026.

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Com base em estudos agroclimáticos, o zoneamento indica as épocas de plantio com menor chance de perdas por eventos meteorológicos adversos para mais de 40 safras agrícolas em todo o território nacional, orientando, com suas avaliações de risco, programas como o de Garantia da Atividade Agrícola (Proagro) , Proagro Mais e Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). Responsável pela realização dos estudos, a Rede de Pesquisa conta com a participação de especialistas de 34 Unidades da Embrapa, sob a coordenação da Embrapa Agricultura Digital (Campinas/SP).

O Zarc é um instrumento de política pública que destaca a importância da pesquisa, que atende a milhares de produtores rurais por meio de ferramentas de gestão baseadas na antecipação de eventos climáticos que podem impactar negativamente os sistemas agroalimentares e comprometer economicamente os mercados de matérias-primas e alimentos. A afirmação foi feita pela presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, durante a abertura do evento.

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“É uma importante plataforma de cooperação, mais do que um projeto ou um programa, porque envolve outras instituições de pesquisa, segmentos do setor produtivo, associações de produtores, federações, seguradoras, governo e academia”, destacou, destacando que é um história de sucesso e um modelo capaz de sustentar ainda mais outras políticas públicas. “Em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária e o Banco Central, estamos no caminho do amadurecimento, no momento em que se inicia a segunda fase do convênio, com a inclusão de novos indicadores que contribuirão para a gestão do risco agrícola ”, afirmou.

Para o diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Ribeiro Damaso, que também esteve presente na mesa de abertura do evento, é necessário o reconhecimento público da relevância da Embrapa, que contribui para o desenvolvimento da agricultura brasileira. “Nesse contexto, a importância do Zarc como instrumento de mitigação de riscos para os produtores é fundamental, daí a renovação da parceria entre as instituições para garantir a ampliação e fortalecimento dos benefícios para o setor”, comentou.

Sobre o Proagro, Damaso disse que é um bem público e destacou que, apesar do crescimento nos últimos anos, é preciso evoluir na questão dos riscos, para que o produtor se sinta seguro. “Estamos discutindo formas de subsidiar o setor agrícola, fontes de crédito, canalizar poupança, estimular o mercado de capitais”, comentou, destacando que o objetivo é criar melhores condições para atrair mais seguradoras aos produtores rurais.

O assessor especial do Ministério da Agricultura e Pecuária, José Ângelo Mazzillo, defendeu também a necessidade de mecanismos de sustentabilidade para o agro, que auxiliem o produtor na gestão de sua atividade e que melhorem a resiliência do setor, tornando-o mais robusto e capaz de superar flutuações climáticas. “Temos o Proagro e o PSR, que são caminhos práticos, mas precisam de apoio”, disse, lembrando que ambos dependem dos subsídios oferecidos pelo Zarc, o que contribui para a incorporação de práticas sustentáveis ​​e reforça a base, que é a governança.

“Temos um caminho muito claro e entendemos que os principais instrumentos de gestão dos riscos climáticos são o Zarc e o Proagro, à disposição dos produtores rurais, e que precisam de apoio do Estado”, comentou. “Uma agricultura que ocupa cerca de 70 milhões de hectares nas duas safras e tem uma área coberta de 11 milhões de hectares precisa melhorar”, garante. “Todo o referencial teórico é baseado no Zarc, uma ferramenta que a Embrapa está enriquecendo e agora trazendo práticas de governança e práticas de gestão sustentável”, complementa.

Para ele, é fundamental tornar o orçamento do PSR previsível e suficiente. “As despesas do ZARC devem estar dentro da pesquisa e do financiamento, no orçamento”, acrescentou. Mazzillo disse acreditar que o PSR, baseado no Zarc, é o principal instrumento de mitigação dos riscos climáticos e deve ter um orçamento obrigatório. “Temos agora um Plano Plurianual (PPA), a partir de 2024, com metas claras de cobertura”, garante.

Desafios para a gestão de riscos climáticos

A primeira sessão técnica do evento buscou discutir os principais desafios para a gestão de riscos climáticos na agricultura sob as perspectivas da política agrícola, regulação do crédito e Proagro, seguradoras, produtores rurais e pesquisa agronômica.

O pesquisador da Embrapa Agricultura Digital, Eduardo Monteiro, que coordena a Zarc Research Network, apresentou o tema apontando a necessidade de gerar estimativas ou avaliações de risco mais precisas, principalmente ao observar a tendência futura de agravamento no contexto das mudanças climáticas. “É cada vez mais evidente o aumento da frequência de ocorrência de eventos extremos, ou seja, um consequente aumento também do risco”, afirma.

Nesse cenário, ele destaca que será importante produzir e utilizar mais dados e informações para uma identificação mais precisa do perfil de risco de cada área produtiva. Segundo ele, isso deve ajudar a atribuir os níveis de risco e o custo do seguro de forma mais adequada, inclusive para recompensar os produtores que investem em sistemas de produção mais resilientes. “A avaliação de risco atual olha para o município, a cultura, o solo e o ciclo. Precisamos ir para o próximo nível e incluir informações adicionais que considerem, por exemplo, o nível de manejo e talvez, futuramente, até o genótipo da cultura”.

Para isso, segundo o pesquisador, será necessário reduzir os custos de aquisição de informações, o que pode ser alcançado por meio do desenvolvimento de soluções tecnológicas que agilizem a coleta, integração e disponibilização desses dados a todos os entes da cadeia produtiva envolvidos nos processos. crédito e seguro rural. “A integração dos dados em uma única base pode reduzir a assimetria e melhorar o fluxo de informações importantes para apoiar a gestão de riscos”, enfatizou.

Cláudio Filgueiras, chefe do Departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações de Crédito Rural e Proagro do Banco Central, abordou os mecanismos criados para aprimorar o acompanhamento, verificação e fiscalização das operações, como a atribuição de coordenadas geodésicas das áreas de produção antes e depois das reclamações. Ele também mencionou que, desde janeiro deste ano, 100% das informações do Proagro estão disponíveis na internet. “Se alguém quiser olhar a coordenada geodésica, na entrada ou no final do julgamento da operação, está no site do Banco Central. Hoje, o programa não é controlado apenas pelo Banco Central, mas também pela sociedade”, enfatizou.

Filgueiras falou sobre o desafio de melhorar o enquadramento dos produtores em níveis de menor risco, com base no Zarc, também no Proagro, e olhar com mais cuidado as áreas de produção e expectativa de perda nas microrregiões para ser mais racional no uso do recurso público.

Para o coordenador-geral de Risco Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária, Hugo Borges, é preciso fortalecer a migração da gestão de risco para um ciclo virtuoso. “O seguro rural e o Proagro têm justamente esse papel de quebrar o ciclo vicioso que muitas vezes leva o produtor até mesmo ao abandono da atividade, impactando no acesso ao crédito, reduzindo a aplicação de tecnologia na próxima safra e comprometendo seu patrimônio”, explica. Em um ciclo virtuoso, o fluxo de caixa do produtor é mantido, permitindo novas aquisições de crédito, aumento do uso de tecnologia e aumento da produtividade. Segundo ele, o compartilhamento de dados e informações entre os atores envolvidos será fundamental para que todos caminhem nessa direção. Nesse olhar para toda a cadeia, Borges destacou a publicação, em 2019, do decreto que criou o Programa Nacional de Zoneamento Agrícola para Riscos Climáticos, que buscou ampliar e aprimorar a gestão de riscos em bases científicas.

Representando a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Marcelo Sumiya, gerente técnico da Coamo, acrescentou a visão do setor produtivo. Ele destacou a necessidade de se lidar com a gestão de riscos do sistema produtivo como um todo, onde há momentos de perda e recuperação de recursos, e também de aumentar a oferta de condições que facilitem a tomada de crédito e a adaptação do agricultor às seguro.

Sumiya também destacou a importância de aumentar o investimento em infraestrutura e em profissionais para gerar informações mais assertivas, principalmente no que diz respeito ao clima, que ajudarão a esclarecer dúvidas básicas dos produtores, como previsões de ocorrência de fenômenos como El Niño e La Niña. “A assistência técnica ao produtor trabalha pensando no futuro, no planejamento daquele sistema de produção para o ano todo”, completa.

Joaquim Cesar Neto, presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional dos Seguros Gerais (FenSeg), abordou alguns dos desafios para o crescimento do mercado no Brasil, entre eles a necessidade de reduzir os índices de acidentes, que representa a relação de indenização pelo valor arrecadado . Com perdas maiores observadas nos últimos anos, principalmente na safra 2022, segundo ele, foram atingidos percentuais acima de 65% dos sinistros, o que impacta na manutenção do serviço prestado pela seguradora. Entre as formas de reduzir esses índices e obter maior equilíbrio, segundo ele, está o aumento da área assegurada, a diversificação das lavouras atendidas e a indução na adoção de tecnologias, permitindo que o produtor busque se enquadrar em faixas com menores riscos de perdas e maior produtividade. “Devemos buscar induzir o uso da tecnologia. Se o seguro não busca induzir a tecnologia, não está cumprindo o seu papel”.

Ainda como parte da programação do encontro da Rede Zarc Embrapa, foram realizadas discussões técnicas para aprofundar estudos sobre avaliação de tendências climáticas, mudanças e agravamento de riscos, estratégias de incentivo à adaptação e resiliência na produção, como a metodologia desenvolvida a partir do nível de gestão (ZarcNM), e avanços na utilização de modelos agrometeorológicos e espectrais para monitoramento de culturas, apresentados por especialistas da Embrapa. Também participou do debate o gerente executivo da Cocamar Renato Watanabe, que trouxe exemplos concretos de resultados positivos de gestão que vêm sendo obtidos em propriedades rurais atendidas pela cooperativa paranaense a partir da adoção de boas práticas produtivas, como sistemas integrados.

Fonte: Noticias Agricolas

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