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Vinhos sustentáveis ​​ganham espaço no mercado internacional

    Vinhos sustentaveis ​​ganham espaco no mercado internacional

    Garantir a qualidade do vinho no copo e, ao mesmo tempo, desenvolver sistemas de produção com o mínimo impacto ambiental são fatores que têm vindo a ganhar destaque no setor vitivinícola mundial. Apesar de ser considerado um estreante no mundo do vinho, o Brasil já está à frente de países tradicionais nesse quesito, o que pode ser um grande diferencial para a produção nacional, com a ampliação do uso de cultivares desenvolvidas pelo “Programa de Melhoramento Genético Uvas de Brasil”, coordenado pela Embrapa.

    “O desenvolvimento de cultivares de uva para processamento pela Embrapa, adaptadas ao clima e solo do Brasil, resistentes a importantes doenças e que produzam uvas com alto potencial enológico é um diferencial que pode ser cada vez mais explorado pelos produtores brasileiros e apreciado pelos consumidores”, aponta comenta Marcos Botton, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho. Desde sua criação, em 1977, o Programa de Melhoramento da Embrapa trabalha para disponibilizar cultivares competitivas no mercado, visando agregar valor aos produtos e renda aos produtores.

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    A busca por uvas obtidas de sistemas de produção sustentáveis ​​será o foco da palestra “Vinhos de mesa: oportunidades para aumentar a qualidade e a competitividade com cultivares made in Brazil”, que será apresentada por Marcos Botton, na tarde do dia 19 de abril no Congresso Internacional da Cachaça e do Vinho, que acontece paralelamente à Feira do Vinho e à Feira da Cachaça, de 18 a 20 de abril, em São Paulo (SP).

    O Programa já lançou 20 cultivares, com destaque para as uvas para vinificação ‘Moscato Embrapa’, ‘BRS Lorena’, ‘BRS Margot’ e mais recentemente ‘BRS Bibiana’, que se referem a produtos elaborados com uvas europeias. Além disso, possui cultivares como ‘BRS Magna’, que agregam valor aos produtos elaborados com os tradicionais Isabel e Bordô.

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    “A disponibilização dessa genética, desenvolvida no Brasil, é uma oportunidade para a vinificação alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), foco dos tradicionais países produtores, visando promover a biodiversidade, a conservação do solo e a a redução do uso de produtos químicos, além de contribuir com a gestão de energia, água e resíduos”, destaca Botton.

    Segundo a pesquisadora Patrícia Ritschel, uma das coordenadoras do Programa de Melhoramento Genético da Embrapa, os cruzamentos envolvem espécies do gênero Vitis originando cultivares híbridas. “O objetivo é reunir o máximo de características desejáveis, como alto potencial enológico e resistência a doenças, em uma única planta, permitindo a elaboração de vinhos de qualidade, com menores custos e impactos ambientais reduzidos”, acrescenta.

    Segundo a última edição do Panorama da Vitivinicultura Brasileira, elaborada pelos pesquisadores Loiva Ribeiro de Mello e Carlos Ely Machado, em 2021, no Rio Grande do Sul, foram produzidos 173,90 milhões de litros de vinhos de mesa a partir de uvas americanas ou híbridas, e 43,47 milhões de vinhos finos vinhos elaborados com uvas V. vinifera.

    No que diz respeito às vendas, em 2021 na categoria de vinhos de mesa foram comercializados 210,01 milhões de litros. Em vinhos finos, foram comercializados 27,08 milhões de litros, um aumento de 11,39% em relação a 2021. com a utilização de cultivares desenvolvidas pela Embrapa e garantem a expansão dos vinhos sustentáveis”, destaca Marcos Botton.

    Uvas híbridas pelo mundo

    Em consonância com o tema do Congresso Internacional da Cachaça e do Vinho, que é “Disrupção e Transformação no Ambiente de Gestão Empresarial”, o uso de cultivares resistentes ou híbridas vem ganhando espaço nas tradicionais regiões produtoras. Essas cultivares foram especialmente desenvolvidas para serem uma alternativa às mudanças climáticas e com menor necessidade de intervenção com produtos químicos, buscando uma viticultura sustentável.

    Um exemplo recente foi a aprovação, em fevereiro de 2022, pelo Institut National de l’Origine et de la Qualité (INAO) do pedido do Committee interprofessionnel du Vin de Champagne (CIVC) para o uso da uva Voltis nos espumantes cortes de vinhos produzidos na região de Champagne. A partir de agora, esta uva híbrida poderá ser utilizada no limite máximo de 5% da área plantada e 10% do blend, em um período preliminar de cinco anos.

    Esta será a primeira vez que uma denominação de origem destacada dá direito a incluir uma variedade híbrida em seus lotes, sem perder a classificação de origem controlada. A utilização de uvas híbridas só era permitida em regiões com indicação geográfica.

    Na Alemanha, em 1967, o pesquisador Gerhardt Alleweldt, do Julius Kühn-Institut (Alemanha), lançou a uva Regent, uma cultivar híbrida que, com base em avaliações agronômicas e sensoriais, desde 1996 é oficialmente reconhecida como apta para a produção de Qualitätswein (vinho de qualidade, com Denominação de Origem Controlada na Alemanha). Além de ser resistente a doenças fúngicas, também é resistente às severas condições climáticas do norte da Europa, sendo equiparada a uma cultivar de Vitis vinifera na Alemanha.

    Na Itália, a L’Universitá di Udine desenvolve um programa na mesma linha, que foi responsável, em 2013, pela inclusão de 10 novas cultivares no catálogo nacional de produção de vinhos de mesa e Indicações Geográficas do país.

    No Brasil, além da iniciativa liderada pela Embrapa, o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, vinculado à Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, lançou em 2021 a cultivar branca para vinho IAC Ribas , pela sua boa adaptabilidade às condições de cultivo, produtividade e qualidade da uva e do vinho, fruto do trabalho do Programa de Melhoramento Genético da Vinha do IAC.

    A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) também vem realizando um trabalho de avaliação da uva Piwi, abreviação alemã do nome Pilzwiderstandsfähige, que significa ‘variedades híbridas de uva resistentes a fungos’, a partir de cruzamentos de variedades de vinho com espécies selvagens.

    Os resultados dos programas de melhoramento genético acontecem a longo prazo, tanto com o desenvolvimento e validação de cultivares, quanto com sua disponibilização e adoção pelo setor produtivo, com aceitação e valorização por parte dos consumidores. A postura visionária do Programa de Melhoramento ‘Uvas do Brasil’ colocou o Brasil em posição privilegiada, e hoje pode-se dizer que existem opções nacionais que atendem a demanda por uma viticultura mais sustentável. Ainda assim, é preciso trabalhar para legitimar e valorizar as cultivares junto ao sistema de produção e consumidores no mercado brasileiro.

    SERVIÇO:

    Palestra: “Vinhos de mesa: oportunidades para aumentar a qualidade e a competitividade com cultivares made in Brazil”, que faz parte do Congresso Internacional da Cachaça e do Vinho (Cicavi) que acontece paralelamente à Feira do Vinho e Feira da Cachaça.

    Sobre o palestrante:? Marcos Botton possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Pelotas (1990) com mestrado (1994) e doutorado (1999) em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (ESALQ). Em 2008 fez pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Berkeley nos EUA. Atualmente é pesquisador e Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho, onde coordena atividades de inserção de novos ativos tecnológicos para o setor produtivo.

    Quando: 15h30 do dia 19 de abril
    Informações adicionais: https://www.winetradefair.com.br/congresso



    Fonte: Agro