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Soja: Frete e armazenagem mais altos pesam sobre os preços do mercado…

As estimativas para a safra de soja 2022/23 no Brasil seguem sendo reajustadas, porém, as perspectivas de uma nova oferta robusta – apesar dos problemas sentidos, principalmente no sul do país – já exerceram pressão sobre o mercado doméstico. Os preços não são afetados apenas pela chegada de grandes volumes de soja, mas também por preocupações com uma infraestrutura logística que não tem crescido no mesmo ritmo da safra. O frete rodoviário é o primeiro sinal dessa situação.

Segundo levantamento da Consultoria Brandalizze, uma rota como Sorriso/MT até o porto de Paranaguá, que custava entre R$ 350,00 e R$ 370,00 a tonelada, custava entre R$ 500,00 e R$ 550,00 até o início desta semana e, nesta Na quarta-feira (15), já chegou a R$ 510,00 a R$ 560,00. “Só pelo impacto do frete é que pelo menos R$ 0,60 a saca é sentido no preço ao produtor”, explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze.

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Em reais a saca, os valores que antes variavam de R$ 20,00 a R$ 22,00 agora variam de R$ 30,00 a R$ 33,00 e podem chegar a R$ 40,00 – nesta mesma rota – no pico da safra brasileira. Muito além disso, porém, como explica Brandalizze, os preços não devem subir, pois é quando os negócios começam a ficar mais limitados. E será preciso agilidade para escoar toda essa soja.

Durante o evento On-Board Agrologistics, o pesquisador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog), Fernando Bastiani, afirmou que o frete rodoviário pode aumentar de 10% a 15% nos próximos dois meses, refletindo justamente esse atraso na colheita da soja.

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Temos muito mais soja do que na safra 2021/22, mas a mesma frota de caminhões. Hoje, cerca de 61,1% de todo o transporte de grãos no Brasil é feito por rodovia, seguida pela ferroviária – com 20,7% – e pela hidroviária – 13,6%, segundo dados da CNT (Confederação Nacional do Transporte).

“O último ciclo foi muito precoce e o pico da colheita ocorreu entre o final de janeiro e o início de fevereiro. Este ano, com excesso de chuvas, os trabalhos regressarão a um ritmo mais normal e as vindimas serão mais extensas e decorrerão em todo o país em simultâneo. Com isso, haverá concorrência por caminhões”, disse Bastiani, em reportagem publicada pelo Valor Econômico.

O especialista acrescenta ainda que, para o segundo semestre, os preços também devem ser elevados para o transporte de granéis, já que as perspectivas apontam para maior produção de milho e açúcar, além da soja, em aumentos que, somados, devem totalizar 38 milhões de toneladas. “Com o atraso na colheita da soja, restará uma carga restante para exportação no segundo semestre, que se juntará ao escoamento do milho (segunda safra) e do açúcar”, afirmou.

Além da concentração da oferta e dos maiores volumes a serem escoados, conforme explica Vlamir Brandalizze, os custos para o setor de transporte são maiores. Além do combustível – e das mudanças que podem ocorrer nas políticas de preços nos próximos meses, intensificadas pela mudança de governo -, as parcelas dos caminhões e os custos de manutenção são maiores neste início de 2023. “E isso vai ser repassado para o frete, não tem outro jeito. Os caminhoneiros estão entrando, depois de dois, três anos, um ano de margens positivas. Nos últimos anos, muitos trabalharam no prejuízo”, explica o consultor.

A dificuldade de escoamento da soja até os portos reacende outros alertas sobre a infraestrutura logística brasileira, inclusive de armazenagem, que também manteve sua capacidade praticamente inalterada nos últimos anos, enquanto a safra vem apresentando aumentos consideráveis ​​de safra para safra. Brandalizze diz que apesar do bom 2022 para as exportações de milho ao país, ainda há muitos armazéns – principalmente nas regiões Sul e Sudeste – com muito grão para entregar e vender – o que pode piorar a situação com a chegada da nova soja colheita e milho de verão.

E isso pode ser mais um fator de pressão sobre os preços no mercado interno, já que o produtor brasileiro pode “ser obrigado” a avançar com suas vendas diante dessa falta de maior capacidade de armazenamento em um cenário de mercado que pode não ser o mais oportuno para o seu planejamento comercial. “O armazenamento – ou a falta dele – pode até ser mais um fator que tira renda dos produtores brasileiros, pode significar receita menor”, explica o consultor de mercado.

Nos últimos três anos, como lembra Vlamir Brandalizze, o produtor de soja brasileiro que esperou um pouco mais para vender conseguiu preços melhores, que este ano podem ser diferentes. “Nos últimos anos tivemos menos oferta e mais vendido. Hoje temos mais oferta, pouca safra – que vai concentrar maiores volumes nos próximos meses – e pouco comercializada, e assim o contrário do que pode acontecer nos últimos anos, com o produtor encontrando preços mais baixos posteriormente”, diz.

Nos próximos quatro meses, portanto, devemos ter alguns problemas logísticos, grandes volumes de soja circulando e o Brasil embarcando cerca de 15 milhões de toneladas da oleaginosa por mês, “e isso está próximo da capacidade dos nossos portos”, lembra Brandalizze.

Levantamento da Royal Rural mostra que a fila de soja nos portos brasileiros, em fevereiro, já soma 9.589,24 milhões de toneladas. O total já embarcado chega a 2.885,71 milhões. Do total, 4 milhões estão destinados ao porto de Santos, mais de 1,6 milhão a Barcarena e mais de 1,026 milhão a Paranaguá. O tempo de espera pelos embarques, porém, é longo e crescente diante de todo esse atraso na safra, reflexo direto nos prêmios oferecidos ao produto nacional.

“Há uma queda assustadora no prêmio da soja brasileira no porto de Paranaguá. O Brasil teria plantado mais rápido no ano passado para a safra deste ano e essa janela de plantio não se confirmou na safra. , exportadores são obrigados a mudar de posição e perder vendas ou mesmo as posições de washout que não podem entregar em fevereiro.

Assim, em 30 dias até o início desta semana, os prêmios dos embarques de fevereiro já marcavam uma perda de 44 centavos de dólar, chegando a menos 9 centavos, ou seja, menos do que o valor do alqueire praticado na Bolsa de Chicago. Os meses seguintes apontam para prêmios melhores que os de março, mas ainda bem abaixo dos observados no mês anterior. “Abril, maio, junho e julho estão 20 centavos a menos nos últimos 30 dias. É claro e claro entender que são problemas pontuais que o Brasil está tendo em sua safra, que não consegue chegar no prazo de entrega determinado pela compromissos do ano que passou”, acrescentou Mariano.

É verdade que produtores de todo o Brasil vão sentir os impactos da chegada dessa nova oferta, das consequências desse aumento de produção nos mais diversos elos da cadeia logística, porém, com o passar dos meses, esses impactos vão ser diferente entre as regiões produtoras, em especial aquelas que mais sofreram com as adversidades climáticas e perdas de potencial produtivo. Mesmo assim, o planejamento comercial precisa ser revisto, detalhado e adaptado a este cenário, independente de onde no Brasil o produtor de soja esteja comercializando sua safra 2022/23.

“Teremos diferentes ‘Brasis’ devido à oferta ‘mal’ localizada”, completa o diretor comercial, destacando as diferenças de safra que podem ser registradas em todo o país, incluindo índices de comercialização e destino dos negócios, que serão divididos entre demanda interna e exportação.



Fonte: Noticias Agricolas

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