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Reuters: Lula sugere regra para substituir teto de gastos;…

BRASÍLIA (Reuters) – Pressionada para detalhar planos de gestão das contas públicas do país a partir de 2023, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou a sugerir propostas para substituir o teto de gastos, enquanto a do presidente Jair Bolsonaro (PL) a equipe também apresenta apenas sinalizações sobre ideias para a área fiscal.

Os candidatos terão que discutir e negociar a nova estrutura enquanto buscam formas de assumir compromissos de campanha que impactem diretamente as contas públicas, com os dois lados prometendo manter o valor adicional do Auxílio Brasil e corrigir a tabela do Imposto de Renda.

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SQUID E O GOL

À frente das pesquisas no primeiro turno, mas com margem de votos mais apertada em relação a Jair Bolsonaro do que as pesquisas indicavam, Lula tem resistido em detalhar seus planos para a área fiscal. Nos bastidores, porém, sua equipe começou a indicar possíveis caminhos nessa área.

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O PT analisa duas propostas principais para substituir o teto de gastos, mas o ex-presidente só deve bater o martelo no modelo a ser adotado se vencer as eleições.

Uma das alternativas é voltar à meta de superávit primário como principal âncora fiscal do país, mas não com valor fixo, como já é adotado, mas com faixas que permitem ajustá-lo de acordo com os ciclos econômicos.

Uma segunda proposta prevê uma regra para reajustar o limite de gastos pelo IPCA e por outro indicador, ainda não definido, mas que abriria espaço para um crescimento real dos gastos.

A ideia é que a alta acima da inflação ocorra principalmente em gastos considerados “nobres” – infraestrutura e gastos sociais – evitando constrangimentos, como acontece atualmente com o teto, que impede o governo de investir mais mesmo com uma arrecadação maior do que o previsto.

O plano PT pretende induzir a atividade através da despesa pública, gerando um efeito em cadeia de estímulo ao setor privado, crescimento económico e consequente aumento da arrecadação de impostos. Com isso, o partido buscaria reduzir o endividamento do país no médio e longo prazo.

BOLSONARO E A DÍVIDA

A equipe de Bolsonaro tem duas propostas na mesa para substituir a atual regra do teto. Ambos colocam a dívida pública como a principal âncora fiscal e têm um limite para o crescimento dos gastos, embora permitam que os gastos superem a inflação.

Assim como na campanha de Lula, as medidas não foram apresentadas formalmente.

De acordo com uma fonte que participou da redação dos textos, a ideia é fortalecer o quadro fiscal porque o teto teria sido “mal construído”, sem dar uma válvula de escape para gastos que não incharem a máquina pública. Uma das ideias em discussão prevê, por exemplo, o uso de recursos da privatização para financiar obras e programas sociais sem levar em conta a regra fiscal.

Discutida desde o início do atual governo, a proposta do Tesouro Nacional permite que os gastos públicos cresçam acima da inflação se o indicador de endividamento estiver abaixo de um determinado patamar – os patamares ainda não foram formalizados.

Em 2019, o Tesouro apresentou um texto para discussão com uma proposta semelhante ao modelo que está sendo avaliado pelo ministério. No documento, a agência afirmou que uma meta de endividamento de 60% do PIB parecia ser a mais adequada e propôs um período de transição, com gatilhos de ajuste escalonado das contas públicas para que a dívida fosse trazida ao patamar estabelecido.

Mais recentemente colocada em debate, uma nova proposta organizada pela Assessoria Especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia autoriza aumento dos gastos do governo acima da inflação em função do nível da dívida pública e acrescenta o PIB como condição, abrindo espaço para mais gastos em período de crescimento da atividade e também em caso de recessão.

A regra permitiria um aumento real dos gastos se a dívida bruta fosse inferior a 80% do Produto Interno Bruto (PIB), facilitando o aumento da despesa se a dívida fosse inferior a 60% do PIB. O nível desse crescimento dependeria da variação do PIB.

TETO PERFURADO

Aprovado em 2016, o teto de gastos tornou-se a principal âncora fiscal do país, limitando o crescimento dos gastos do governo à variação da inflação.

A norma, no entanto, pressionou a gestão das contas públicas porque os gastos obrigatórios com benefícios previdenciários e salários seguiram tendência de alta, ao mesmo tempo em que comprimiam o espaço disponível para investimentos e custeio da máquina pública.

A regra foi flexibilizada em todos os anos do governo Jair Bolsonaro, por meio da aprovação de emendas constitucionais.

Em 2019, as transferências de recursos petrolíferos para estados e municípios foram retiradas da contabilização da norma. Em 2020, foi aberto o teto para liberação de gastos emergenciais para o enfrentamento da pandemia de Covid-19.

No ano passado, o governo limitou o pagamento dos precatórios e retirou parte dessas despesas da regra fiscal, alterando também o período de cálculo do teto, o que abriu uma folga para os gastos. Neste ano eleitoral, foi aprovado o estado de emergência para ampliar os benefícios sociais fora da norma fiscal.

Mesmo com o aumento dos gastos após a flexibilização da regra e a perda de arrecadação com desonerações, a dívida bruta do governo segue em trajetória descendente, sob o impacto de sucessivos recordes de arrecadação, com impulso da inflação, da alta das cotações de commodities e a retomada da atividade.

Após oito anos seguidos de déficit primário, o governo federal espera atingir um superávit neste ano. No entanto, já é esperado um retorno do saldo fiscal negativo em 2023, lacuna que poderá ser maior dependendo do cumprimento das promessas eleitorais pelos candidatos.

(Por Bernardo Caram)



Fonte: Noticias Agricolas

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