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Reuters: Ligações de mercado e linha direta com Lula tornam Galípolo…

    Reuters Ligacoes de mercado e linha direta com Lula tornam

    Por Lisandra Paraguassu, Bernardo Caram e Rodrigo Viga Gaier

    BRASÍLIA, 8 Mai (Reuters) – Com as duas primeiras indicações ao Banco Central, em especial a de Gabriel Galípolo para o cargo-chave na diretoria de Política Monetária da autarquia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva traça o caminho para introduzir contrapontos em um colegiado que hoje opera com poucas divergências, na tentativa de fazer a autoridade monetária baixar os juros no país.

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    Se aprovado pelo Senado, Galípolo assumirá o cargo de responsável por cuidar dos instrumentos de juros e câmbio, além de orientar tecnicamente a gestão das reservas internacionais do país, no que pode ser apenas o início de seus passos na instituição.

    Segundo fonte que acompanhou a escolha dos nomes, Galípolo está cotado para ser indicado à presidência do BC após o fim do mandato de Roberto Campos Neto, em dezembro de 2024.

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    Segundo o governante, a estratégia escolhida foi colocar o ex-presidente do Fator no órgão como forma de pavimentar sua candidatura ao cargo máximo e criar um ambiente propício ao alinhamento de ideias com os demais membros da diretoria em torno o “entendimento do governo sobre juros”.

    Galípolo foi elevado a esse papel estratégico por causa de sua linha direta com Lula – foi apresentado a ele pelo heterodoxo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos principais assessores do presidente, em 2021 – mas não apenas por isso.

    O economista formado pela PUC-SP, com mestrado em economia política, tornou-se homem de confiança do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e, já na transição, usou suas conexões para fazer a ponte entre o futuro ministro e o setor financeiro mercado, ajudando a amenizar a desconfiança que existia no setor com o novo governo.

    Além disso, o atual secretário-executivo da Fazenda conta com mais um trunfo: o relacionamento com Campos Neto –que já o parabenizou pela indicação–, que pode melhorar a comunicação entre a atual diretoria e o governo.

    Apesar das críticas contundentes de Lula ao atual patamar da taxa Selic (13,75% ao ano), a ideia não é que Galípolo entre no BC como o arauto que prega a queda dos juros, segundo fonte a par do assunto.

    Segundo os cálculos desta fonte, sua chegada efetiva ao conselho de administração deve acontecer quando a sinalizada queda dos juros se aproxima. Ou seja, seria uma redução “natural”, produto do traçado de alinhamento já em curso.

    Em declarações públicas desde que assumiu a secretaria-executiva do Tesouro, Galípolo vinha evitando repercutir as críticas do governo ao Banco Central e adotou um tom moderado, apesar de alertar que a equipe econômica monitora possíveis dificuldades no mercado de crédito.

    Em conversas internas no ministério, porém, ele compartilhou a opinião de integrantes do governo de que já chegou o momento de o Banco Central iniciar o ciclo de juros baixos, considerando o estágio da inflação e da atividade, além de elementos adicionais como o medo de uma crise global e problemas em bancos na Europa e nos Estados Unidos.

    A expectativa no governo é que essa visão seja apresentada no Comitê de Política Monetária (Copom) por Galípolo e também por Ailton de Aquino Santos, que presidirá o Conselho Fiscal do BC. Segundo a reportagem, Santos, por sua vez, conquistou a simpatia de Lula após uma conversa recente durante a avaliação de uma lista de servidores do BC para o cargo.

    Até o momento, o Copom decidiu por unanimidade sobre os juros básicos, com exceção da reunião de setembro do ano passado, em que o BC interrompeu o ciclo de alta dos juros em decisão que teve dois votos divergentes, no sentido de promover uma taxa adicional de aumento.

    Os juros básicos estão no maior patamar em seis anos, o que gerou uma série de críticas de Lula. O mercado, segundo o boletim Focus do BC, espera que o primeiro corte na taxa Selic ocorra apenas em setembro.

    O início dos trabalhos dos dois indicados dependerá da tramitação no Senado, com agendamento de uma sessão sabática na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e votação no plenário. Portanto, não é possível afirmar se os novos diretores já estão empossados ​​na próxima reunião do Copom, em junho.

    Lula terá mais duas vagas este ano para indicar ao BC. Em dezembro, encerram-se os mandatos dos diretores de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta, Maurício Moura, e de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos, Fernanda Guardado.

    A previsão é de que o PT alcance a maioria dos nove membros da diretoria do BC indicados por seu governo somente a partir de dezembro de 2024, quando terminarão mais três mandatos, incluindo o de Campos Neto, que estreou o novo regime formal de independência do BC. , com vigência a partir de 2021.

    Com Galípolo à frente do grupo de indicados, Lula sela o plano de levar o BC à convergência sem, no entanto, buscar ativamente derrubar a autonomia da autarquia.

    NO FIO DA FACA

    Esse não seria o primeiro trabalho no fio da navalha realizado por Galípolo, que teve o nome ligado ao PT ao acompanhar a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, em um jantar com empresários em abril de 2022.

    Na época, pouco se sabia por que um ex-presidente de banco, ligado ao mercado financeiro e que trabalhava para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), acompanhava o presidente de um partido de esquerda a um encontro com empresários . Galípolo foi jantar com Gleisi a pedido de Lula.

    Um ano antes, o petista havia dito a Luíz Gonzaga Belluzzo que gostaria de conhecer Galípolo depois de ler algumas de suas ideias – o economista tem um livro com Belluzzo e é interlocutor de outro nome de ideias pouco ortodoxas, André Lara Resende. O contato com Lula foi o início de um vínculo que não se rompeu e se estendeu a Haddad.

    Tanto Haddad quanto Galípolo escreveram juntos um artigo sobre a criação de uma moeda única para compensação comercial na América do Sul, citado pelo então presidenciável ainda em campanha.

    Chamado a colaborar na formulação do programa econômico do governo, Galípolo foi preterido na transição e indicado para um grupo de infraestrutura pelo então coordenador Aloizio Mercadante. Ele voltou ao centro das decisões com Haddad, quando Lula chamou o ex-prefeito de São Paulo para coordenar o grupo de transição econômica.

    Nesses primeiros meses de governo, a proximidade de Galípolo com Haddad, que já era grande, aumentou. Segundo na pasta, liderou, ao lado do ministro, algumas das principais formulações do ministério, desde o arcabouço fiscal até as negociações do modelo de crédito com a Argentina, incluindo a nova proposta de lei de PPP.

    Agora, nas palavras da ministra do Planejamento, Simone Tebet, o Galípolo vai “pacificar” a agenda do Banco Central. O desafio já começou a se mostrar. O dólar e as taxas de juros de longo prazo subiram na segunda-feira em reação à indicação.

    (Editado por Flávia Marreiro)



    Fonte: Noticias Agricolas