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Recessão técnica nos EUA traz riscos para o Brasil

Foto: Pixabay

A recessão nos Estados Unidos, sinalizada por dois trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto (PIB), confirma que existe uma desaceleração global em curso nas economias desenvolvidas. Isso complica, sobretudo, a situação de países emergentes como o Brasil, que é exportador de matérias-primas, e pode impactar no enfraquecimento da atividade no quarto trimestre deste ano, segundo economistas. Mas do ponto de vista da inflação, a recessão global pode trazer algum alívio das pressões dos preços mundiais. Mesmo assim, a inflação brasileira deve encerrar este ano em patamares elevados, entre 7% e 8%, longe da meta de 3,5%.

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No segundo trimestre deste ano, o PIB norte-americano registrou contração de 0,9%, em termos anualizados, segundo a primeira leitura do indicador divulgado ontem pelo Departamento de Comércio do país. Como a atividade econômica encolheu 1,6% nos três primeiros meses do ano, a maior economia do mundo teve dois trimestres consecutivos de contração, critério normalmente utilizado pelos economistas para definir uma recessão técnica.

Os Estados Unidos e a economia global como um todo estão enfrentando inflação permanentemente alta e enfraquecimento do crescimento, especialmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia, que elevou os preços da energia e dos alimentos. As empresas e os consumidores dos EUA têm lutado sob o peso da alta inflação e dos custos de empréstimos mais altos. Na última quarta-feira, o Federal Reserve (alimentadoo banco central dos EUA) elevou sua taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual pela segunda vez consecutiva em uma tentativa de resistir ao pior surto de inflação em quatro décadas.

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“É difícil o Brasil escapar disso” – Sergio Vale

“Se havia alguma dúvida de que teríamos recessão nas economias dos países desenvolvidos, ela não existe mais”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Em sua avaliação, o resultado do PIB norte-americano indica que a esperada recessão global está mais avançada do que o esperado. “É difícil o Brasil escapar disso”, prevê.

Recessão não apenas nos EUA

economia, PIB

Foto: Pixabay

A Vale acredita que a recessão global pode impactar o ritmo de atividade da economia brasileira neste semestre, principalmente no quarto trimestre, que deve combinar os efeitos dos juros altos com o cenário conturbado por conta das eleições. “Esse não é um cenário de forte desaceleração porque teremos um terceiro trimestre com o PEC da ajuda que tende a ajudar marginalmente, mas talvez no quarto trimestre possa haver uma queda do PIB.”

Para o economista Lívio Ribeiro, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a recessão americana é mais um ponto em um cenário mundial com múltiplos vetores, o que é complicado, principalmente para os países emergentes. Esse ambiente, em sua opinião, reduz a capacidade de crescimento da economia brasileira. “Não é a recessão americana que nos afeta, mas o ambiente internacional mais restritivo que empurra o mundo para baixo, a taxa de juros para cima e cria mais pressão sobre todos os países emergentes.”

“A China vai crescer, mas a um ritmo muito mais lento do que se imaginava” — Lívio Ribeiro

Comparando com freios anteriores, Ribeiro avalia que a situação atual é mais frágil, pois a capacidade da China de resgatar a economia global hoje é menor. “A China vai crescer, mas em um ritmo muito mais lento do que o imaginado.” Por isso, ele acredita que a capacidade do gigante asiático de ser um contrapeso à desaceleração global, como importador de commodities mercados emergentes, terá um impacto muito pequeno.

inflação dos EUA

taxa do dólar

Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

Apesar do balde de água fria em atividade, a recessão pode trazer algum alívio na inflação. O economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada, destaca diferentes efeitos. Por um lado, a desaceleração da economia norte-americana representa um impacto na demanda global, incluindo as exportações brasileiras de produtos de maior valor. No entanto, tem efeitos contracionistas sobre os preços de ativos e matérias-primas e contribui para conter as pressões inflacionárias.

“A recessão americana acaba sendo um fator de alívio para as pressões inflacionárias globais mais agudas” — Silvio Campos Neto

“Neste momento, com a inflação sendo a grande preocupação, a recessão nos EUA acaba sendo um fator de alívio para as pressões inflacionárias globais mais agudas.” A recessão também contribui para aumentar a especulação nos mercados de que o Fed interromperá o ciclo de alta das taxas de juros mais cedo do que o esperado. Isso poderia parar a subida do dólar.

A Vale também acha que é possível aliviar os preços, mas ressalta que, no caso brasileiro, mesmo assim, o nível inflacionário continua alto.

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Fonte: Noticias Agricolas

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