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Produtor brasileiro quer espalhar cacau da Costa do Marfim; indústria não vê…

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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – Embora importar cacau para o Brasil seja algo trivial, a chegada à Bahia do navio Pichon, carregado com o produto da Costa do Marfim, promete ser o estopim para o início dos protestos contra a importação de amêndoas da África país, o maior produtor mundial.

Produtores brasileiros alegam que o cacau marfinense representa riscos fitossanitários para as lavouras nacionais, no momento em que buscam apoio do novo governo para suas posições. Eles ainda reforçaram os comentários de que a produção brasileira seria suficiente para atender a demanda local.

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A indústria de processamento de cacau no Brasil, que inclui multinacionais como Barry Callebaut e Cargill, rejeita os riscos fitossanitários mencionados. Além disso, ele afirma que as importações são necessárias para atender o mercado brasileiro – o quinto maior em vendas de chocolate do mundo.

O navio Pichon, carregado com cerca de 10 mil toneladas de amêndoas, deveria chegar ao porto de Ilhéus (BA) nesta sexta-feira, segundo a Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC). O sistema de monitoramento da Refinitiv indicou a embarcação próxima ao porto baiano.

“Nossa intenção é impedir de fato o desembarque de cacau”, disse a presidente da ANPC, Vanuza Barroso, acrescentando à Reuters que os produtores ainda estão se organizando para planejar como isso pode ser feito.

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Bloqueios na rodovia BR-101, para impedir o transporte de cacau importado, também não estão descartados, acrescentou. A região da Bahia onde a associação quer fazer a manifestação concentra a indústria de processamento de cacau do Brasil.

Foi convocada uma reunião dos associados da ANPC para o final da semana para definir detalhes da manifestação, disse Barroso, que considera que a indústria vai tentar descarregar rapidamente o produto.

PRAGAS

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Se as denúncias contra a importação de cacau da Costa do Marfim não são novas, os produtores brasileiros querem, com o novo governo, sensibilizar as autoridades sobre o assunto. Eles já tiveram uma audiência em janeiro com o ministro da Agricultura, Carlos Favaro, sobre o assunto – o ministério não respondeu aos pedidos de comentários da Reuters.

Segundo a ANPC, o produto importado pode reunir ervas daninhas da Costa do Marfim como a Striga, que não existe no Brasil, e insetos, entre outras pragas.

Barroso lembrou que uma instrução normativa anterior do governo indicava risco de pragas em 2020, antes disso ser revisada em nova IN, sem atender a critérios técnicos, segundo ela.

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O produtor disse que na instrução mais recente foi omitido o risco de pragas, embora continuem a existir nas plantações africanas de cacau. “O Brasil corre o risco de registrar doenças da Costa do Marfim que não existem aqui.”

Para Barroso, a indústria está interessada no cacau importado devido aos custos e ao fato de usar o regime de “drawback” para reexportar o produto beneficiado sem pagar impostos.

POSIÇÃO DA INDÚSTRIA

O Brasil importou 11 mil toneladas de amêndoas de cacau em 2022, ante 59,8 mil toneladas em 2021, segundo dados da Associação da Indústria Processadora de Cacau (AIPC), que reúne gigantes como Barry Callebaut, Cargill e ofi.

Já as importações de derivados de cacau pelo país chegaram a 36 mil toneladas, contra exportações de 47,9 mil toneladas no ano anterior.

Segundo a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi, se o Brasil tivesse uma produção de 300 mil toneladas de cacau por ano, como afirmam os produtores, importaria poucos derivados. “Para que a indústria teria o custo das importações?”

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Outra entidade do setor, a Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Amendoim e Doces, segue a mesma linha. “A Abicab é a favor do livre comércio e sabe-se que a produção nacional de cacau não é autossuficiente, portanto é preciso importar cacau de outras origens”, disse a entidade em nota.

Ainda de acordo com Losi, da AIPC, análises feitas pelo Ministério da Agricultura não apontavam riscos fitossanitários como os alegados pelos produtores nas importações da Costa do Marfim, importante fornecedor brasileiro.

“Não há dados novos que justifiquem essa preocupação do produtor”, afirmou.

Ela explicou que o cacau importado já passa por um processamento inicial, sendo seco e fermentado, o que “já elimina boa parte das pragas”.

Para o executivo da AIPC, desde a publicação da instrução normativa, em março de 2021, não há registro de problemas com embarques importados da Costa do Marfim.

Ela disse ainda que o cacau marfinense que chega ao Brasil é de alta qualidade, geralmente tipo 1 e 2, e nunca houve rebaixamento.

“Hoje estamos preocupados não com o que vem da Costa do Marfim, a preocupação é com a monilíase do cacau, uma praga que está no Equador, eles convivem bem com ela, mas aqui não estamos preparados, é pior que vassoura de bruxa”, disse. disse Lossi.

A vassoura-de-bruxa foi uma das responsáveis ​​pelo colapso da produção no Brasil há algumas décadas, quando o país estava entre os maiores produtores mundiais de cacau.

Hoje, a produção nacional é inferior a 5% do total produzido no mundo, sendo os países africanos responsáveis ​​por cerca de 70% da colheita mundial, segundo o AIPC.

A moagem de amêndoas de cacau no Brasil aumentou 0,8% em 2022 para cerca de 226 mil toneladas, enquanto o recebimento do produto brasileiro pelas indústrias somou 205,8 mil toneladas no ano passado, segundo a AIPC, que representa empresas que respondem por 95% do processamento de cacau no país.

(Reportagem de Roberto Samora)



Fonte: Noticias Agricolas

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