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Oportunidade de ouro? Brasil pode ganhar espaço importante no mercado…

    Oportunidade de ouro Brasil pode ganhar espaco importante no mercado

    Especialistas, porém, entendem que o setor ainda precisa alinhar estratégias para não perder o reconhecimento para países que produzem em menor quantidade, mas que já começam a testar a qualidade desse café.

    Com investimento em tecnologia e sustentabilidade, o cafeicultor de Rondônia, além de avançar em produtividade, também viu a “virada de chave” quando a qualidade dos Robustas amazônicos começou a chamar a atenção. Segundo a Conab, o estado deve produzir 3,1 milhões de sacas na atual safra e repetindo os últimos anos, a expectativa é grande pela qualidade da bebida.

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    Para Enrique Alves, pesquisador da Embrapa, a descoberta do perfil sensorial e da qualidade do robusta amazônico pode ser considerada uma grande revolução para o avanço da produção e a abertura de novos mercados para o Brasil. “A grande mudança foi na última década, quando o produtor passou a se preocupar com a qualidade. A qualidade foi a grande revolução da cafeicultura amazônica”, diz o pesquisador.

    Ainda nem todos os produtores fazem cafés especiais na região, mas a tendência, segundo o pesquisador, é aumentar a produção desses cafés, evidenciando a necessidade de manter a escala de produção para manter e conquistar novos mercados.

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    “Quando você busca a excelência, você melhora a média. Esses cafeicultores que trabalham com cafés especiais começaram a trazer um novo horizonte para a cafeicultura porque o café canephora sempre foi chamado de café de segunda linha, que servia apenas para blends, essa era a marca registrada”, comentários.

    A partir do momento que se entendeu a qualidade desses cafés, a orientação dos produtores foi justamente buscar novos mercados, além dos tradicionais, sempre com foco na agregação de valor ao produto final. “Aí começou um círculo virtuoso para essa cultura do café. E isso é uma quebra de paradigma porque ainda hoje tem gente que se surpreende com a qualidade desses cafés e isso também abriu um mercado para as nossas commodities”, acrescenta.

    O pesquisador explica que hoje o Brasil desenvolve um novo nicho de produtos especiais e, ao mesmo tempo, os tradicionais também avançam em qualidade, além de manter o café commodity em plena produção.

    amarelo robusto

    “Passamos a ter um comércio mais justo, diminuindo a distância entre quem consome e quem produz. A qualidade trouxe um melhor entendimento de quem consome o produto”, destacando que cabem nesse grupo além de consumidores, baristas, mestres torrefadores, entre outros. outros profissionais da cadeia.

    O pesquisador acrescenta que a rede já entendeu as possibilidades, mas que o setor ainda está se adaptando. “Posso afirmar com certeza que há uma década não existia esse café Robusta amazônico que está no mercado. São aromas novos e que trazem uma nova dimensão para a indústria, acostumada a trabalhar com a canephora comoditie, mas a canephora fina ainda não não sabe onde cabe, mas já entendeu, hoje não é mais uma surpresa”, acrescenta.

    Apesar dos avanços, para o pesquisador, o Brasil ainda não entende as oportunidades que essa produção pode trazer em negócios e também em termos de reconhecimento.

    “Temos cafés maravilhosos, com os perfis que o mundo quer, mas ainda pensam na Colômbia, por exemplo. Sempre abraçamos a questão da quantidade e não da comercialização dessa qualidade. E a Colômbia faz isso com maestria mesmo produzindo muito menos, com menos eficiência e o café colombiano tem um padrão. E o café do Brasil tem uma diversidade maravilhosa, o Brasil deveria ser referência não só em quantidade, mas também em qualidade, com essa diversidade que temos”, comenta .

    Robusta Amazônia (1)

    Enrique lembra, no passado, quando a Colômbia liderava o marketing de qualidade e destaca a importância de o Brasil estar atento para não perder o “tempo” com as canéforas. “Vai acontecer que algum outro país, pode ser o Vietnã, pode ser a Índia, algum outro que tenha um volume menor, que tenha menos tradição, e seja reconhecido no mundo como o melhor produtor de café canephora, algo que Brasil pode ganhar na avalanche Quantos países no mundo conseguem produzir com excelência as duas maiores cultivares do mundo? Nenhum”, comenta.

    Ele também destaca que na época do arábica era importante para o país se consolidar como o maior produtor de café do mundo, por isso o foco em garantir safras produtivas. Reconhece que a comunicação já melhorou, mas que como “nação” ainda é preciso falar dos cafés com mais estratégia e garantir esse reconhecimento para todos os cafés, inclusive commodities que também melhoraram em qualidade nos últimos anos. “É um mercado em expansão que serve para todos. Cada um tem sua referência de qualidade e os dois podem ser igualmente valorizados. Um não precisa perder para o outro ganhar, podem coexistir e isso vai ser bom para a rede”, ele acrescenta. .

    Amazônia Robusta (8)

    QUALIDADE RECONHECIDA E OPORTUNIDADE

    Silvio Leite, um dos pioneiros dos cafés especiais no Brasil e referência no setor, viu de perto toda a jornada da qualidade no país. Há mais de 40 anos no mercado, ele lembra quando esse perfil sensorial passou a ser apresentado ao mundo exterior, ocasiões que aconteciam quase sempre em competições internacionais.

    “No começo víamos aqueles “sorrisos” com todo mundo perguntando: “robusto e de qualidade? Não vai dar certo “. No árabe no Brasil também era assim”, diz ela. Com as apresentações, Leite conta que alguns compradores se interessaram, justamente por ser um produto totalmente novo no mercado.

    Em 2017, jurados internacionais querem conhecer os métodos de produção no Brasil nas lavouras de conilon, já impressionados com as técnicas de pós-colheita adotadas. Um ano depois, na hora de avançar com os Robustas Amazônicos, a Três Corações chamou o especialista para fazer parte de um projeto envolvendo a produção de café em áreas indígenas.

    Fui lá para ajudar a melhorar a produção, colheita e beneficiamento. E a Três Corações se comprometeu a comprar esses cafés com o projeto Tribos. Quando fomos provar esses cafés tivemos outro impacto, uma revolução nos sabores do café. Uma revolução completa que ninguém havia sentido até então. Foi o momento em que entendi que era hora de mudar todo esse conceito de produção de café”, comenta.

    Leite lembra que paralelamente às áreas indígenas, outros produtores também começaram a perceber o poder que ali tinham. “A Três colocou o café no mercado, mas é tudo novo, é um caminho a ser percorrido. É um processo porque cada um está acostumado com o café de um jeito e os sabores são diferentes”, comenta.

    Ele também explica que os cafés de canéfora são mais densos no preparo, extraem mais, têm mais corpo. “O café robusta tem um toque de amargor, mas diminui quando bem preparado e começa a ter um toque de acidez. As classes mais predominantes, depois do café, são as frutas secas. Esses toques de frutas secas aparecem com frequência. Às vezes, toques alcoólicos aparecem”, comenta.

    Recentemente Silvio participou de encontros internacionais com o objetivo de entender como esse tipo de café estava sendo aceito pela indústria. “A sala estava bastante cheia e isso chama a atenção, principalmente em grandes eventos, com muitas salas paralelas. Lá eu vi que o tema está chamando a atenção, as pessoas querem saber mais sobre esse produto e sobre esse percentual que está pronto para fazer algo diferente O Brasil pode ter uma oportunidade de ouro, esse caminho está sendo construído e precisa ser feito em termos de espaço de mercado”, conclui.

    Silvio Leite
    Silvio Leite trabalha com café há mais de 40 anos e acompanha de perto a evolução das especialidades no Brasil

    Fonte: Noticias Agricolas