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Juros é entrave à função social do BNDES

    Juros e entrave a funcao social do BNDES

    O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloízio Mercadante, disse nesta terça-feira (20), no Rio de Janeiro, que o nível da Selic – taxa de juros vigente no Brasil – em 13,75% é um obstáculo à função social da instituição e ao crédito em geral, o que resulta na retração do crédito para empresas e no aumento da inadimplência de pessoas físicas e jurídicas. Ele criticou o atual patamar dos juros e destacou as mudanças no cenário econômico que permitiriam uma redução dos juros.

    “O ambiente macroeconômico melhorou muito. parabenizo aqui o [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad, [a ministra do Planejamento, Simone] Tebet e o governo. Esse novo quadro de responsabilidade fiscal ajudou a taxa de juros no mercado futuro de longo prazo a ceder, o câmbio chegou a R$ 4,70 ontem (19), a inflação caiu e os preços no atacado desaceleraram, mas temos uma taxa de juros crescendo em termos reais . Enquanto a inflação está caindo, a taxa de juros permanece em 13,75%. O país que tem uma das taxas de inflação mais baixas tem a taxa de juros mais alta”, afirmou na abertura da série de painéis Nosso Passado, Presente e Futuro, em comemoração aos 71 anos do BNDES.

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    Novos desafios
    Mercadante ainda usou de ironia para encaminhar um pedido de redução do nível da Selic. “Não vou pressionar hoje. Vou fazer como fiz na Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo]. Vamos dar uma salva de palmas ao presidente do Banco Central na expectativa do que virá esta semana no Copom [Comitê de Política Monetária]. Mesmo que ele não tenha grandes expectativas, vamos dar-lhe uma salva de palmas. Quem sabe a gente pode conscientizar?”, disse.

    Na visão do presidente do BNDES, esse banco deve sempre pensar no Brasil e se adaptar aos novos desafios, cenários e missões. Acrescentou que o governo eleito democraticamente tem uma missão muito difícil pela frente, depois de enfrentar um difícil processo eleitoral, quando “os dados sobre o uso da máquina pública atingiram um patamar sem precedentes na história da democracia”.

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    Aloízio Mercadante lembrou que foi eleito deputado federal em 1990, ano em que o ex-presidente Jair Bolsonaro também chegou à Câmara. Desde então, segundo ele, viu se formar uma defesa coerente e sistemática do golpe, da ditadura e da censura no país, terminando com a última campanha eleitoral, na qual se defendeu até o fechamento do Supremo Tribunal Federal, em além do posicionamento de tanques do Exército em frente ao Palácio do Planalto para exigir que a eleição seja realizada por meio de cédula impressa e até o encontro do ex-presidente com embaixadores de vários países, para, conforme relatou, “tentar deslegitimar o processo eleitoral ”.

    O destaque neste momento, segundo ele, foi reforçar a ideia de que a reconstrução da democracia no Brasil é uma tarefa difícil.

    “Reconstruir a democracia brasileira, preservar o Estado Democrático de Direito, recuperar o prestígio do Supremo Tribunal Federal como instituição e do Executivo como gestor do país não é coisa alguma. Não é uma tarefa simples enfrentar essa parlamentarização do orçamento brasileiro, que retira do Executivo a capacidade de coordenar e estruturar ações e uma mudança nos padrões de governança”, argumentou.

    papel do banco
    Para ele, nesse processo de reconstrução é preciso discutir o papel de um banco público no Brasil, a exemplo de investimentos a empresas oferecidos por instituições congêneres de países como os Estados Unidos, que liberaram US$ 20 bilhões para uma empresa de microprocessadores e a Alemanha , onde o financiamento do hidrogênio verde tem taxa de juros zero.

    Mercadante destacou que o Brasil tem a matriz energética mais limpa dos países que compõem o G20 [grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia], com grande expertise em etanol para liderar o processo de transformação e energia sustentável. “Precisamos abrir os horizontes do debate neste país. Precisamos refletir com um pouco mais de pragmatismo e pé no chão o que estamos enfrentando e qual a concorrência que temos”, sinalizou.

    crise climatica
    Para Mercadante, um dos desafios do BNDES é garantir investimentos no combate aos efeitos da crise climática. Ele alertou que, com a chegada prevista do El Niño [fenômeno natural caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico]a seca vai se agravar no Brasil e pode haver impacto na safra com novos extremos climáticos na região sul.

    “Temos um caminho gigantesco a percorrer para que o Brasil contribua para o enfrentamento da crise climática. Somos o país com maior diversidade do planeta, com a maior reserva florestal estratégica que é a floresta amazônica, além de outros biomas. Essa agenda veio para ficar no BNDES e vai ficar”, concluiu.



    Fonte: Agro