Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) – O Ibovespa estava sem fôlego nesta quinta-feira, trabalhando abaixo de 100 mil pontos pela primeira vez em nove meses, com as varejistas Magazine Luiza e Via entre as maiores quedas, após o Banco Central sinalizar que há pouco espaço para cortes taxas de juros do país.
Às 12h11, o Ibovespa caía 0,47%, a 99.747,83 pontos. Antes, endossado por Wall Street e refletindo os ajustes, chegou a 101.125,76 pontos. O volume financeiro foi de 7 bilhões de reais.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve na véspera em 13,75% ao ano, reforçando que “perseverará até que não apenas o processo de desinflação se consolide, mas também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que apresentavam maior deterioração”.
Além dos reflexos sobre o próprio custo do dinheiro, o posicionamento da autoridade monetária corrobora os temores sobre o aumento da tensão entre o governo e o BC, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem pressionando a instituição por conta da taxa Selic.
“No mercado, há uma percepção de que o clima entre o presidente Lula e o BC vai esquentar ainda mais, com potencialmente mais troca de farpas, pressões e críticas, o que pode contaminar o cenário”, observou o superintendente da Necton/BTG Pactual , Marco Tuli.
“As recentes medidas do governo vão na contramão do movimento feito pelo Copom, que na véspera foi mais duro do que o governo esperava”, acrescentou.
O comunicado do BC reforçou a visão dos grandes bancos de que as reduções da taxa Selic ficarão para o segundo semestre, possivelmente apenas no final desse período.
Para o economista-chefe da Mirae Asset Wealth Management (Brasil) CCTVM, Julio Hegedus Netto, o acirramento das tensões entre o BC e o governo Lula será inevitável, segundo relatório enviado a clientes nesta quinta-feira.
“Houve todo um debate sobre como o BCB responderia às ‘exigências’ do governo. Se cedesse, sinalizando uma redução da Selic neste ano, poderia mostrar uma perda de autoridade, caso mantivesse uma conduta mais ‘hawkish’ , como acabou acontecendo, seria interpretado como intransigente em defender a autonomia e atuar como ‘guardião da moeda’. Ele optou pela segunda opção.”
Hegedus Netto acrescentou que “a impressão que se tem é que, nessa escalada, quanto mais o governo ‘protestar’ contra a política de juros, mais o BC deve endurecer, isso, claro, se as expectativas fiscais e inflacionárias piorarem”.
Ele avalia que, para que a paz seja estabelecida entre o governo e o BC, será muito importante que haja avanços concretos na direção do ajuste fiscal e de um arcabouço fiscal consistente e abrangente.
A análise técnica do Itaú BBA também apontou anteriormente que, após a queda da véspera, o Ibovespa abriu caminho para novas quedas rumo a 97.000 e 95.200 pontos.
“Existe alguma expectativa de reverter esse cenário? Sim, mas será preciso vencer a primeira resistência em 102,5 mil pontos para iniciar um rebote, que pode se estender para a casa dos 106,7 mil pontos. A partir daí, então, veremos um alívio em fato”, afirmou Fábio Perina e equipe em reportagem.
Para abandonar a tendência de queda, porém, eles afirmaram que o Ibovespa precisa superar 106,7 mil pontos.
Nos Estados Unidos, Wall Street teve uma sessão positiva, o que endossou os ganhos do pregão brasileiro anterior.
DESTAQUES
– MAGAZINE LUIZA ON recuou 10,31%, a 3,22 reais, e VIA ON perdeu 4,52%, a 1,9 reais, já que a decisão e o sinal do BC prejudicaram as apostas de flexibilização do aperto monetário no início do ano Brasil, provocando um ajuste para cima no futuro curva de rendimento.
– GOL PN cedeu 6,77%, a 6,2 reais, e AZUL PN caiu 5,29%, a 11,63 reais, também influenciado pela valorização do dólar frente ao real.
– O MINERVA ON avançava 2,74%, a R$ 11,61, depois que a China concordou em retomar imediatamente as importações de carne bovina brasileira com menos de 30 meses. JBS ON subiu 0,54%, enquanto MARFRIG ON caiu 3,12%.
– NATURA&CO ON subiu 0,75%, para 13,43 reais, amparada por expectativas relacionadas ao desinvestimento da fabricante de cosméticos. Segundo reportagem do Valor Econômico, citando fontes familiarizadas com o assunto, a empresa está perto de ter uma oferta firme pela Aesop, marca de luxo da empresa.
– O PNA BRASKEM recuou 3,71%, para R$ 16,85, após divulgar prejuízo líquido no quarto trimestre do ano passado acima do prejuízo registrado um ano antes, em resultado marcado por demanda e margens menores. O lucro líquido caiu 33%. A petroquímica também prevê menor investimento em 2023 em uma estratégia de preservação de caixa em um ambiente de demanda pressionada.
– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 0,04%, a 23,75 reais, enquanto BRADESCO PN abandonou o sinal positivo e registrou queda de 1,92%, a 12,77 reais.
– PETROBRAS PN cedeu 0,34%, a 23,25 reais, apesar da melhora dos preços do petróleo no exterior. O UBS cortou o preço-alvo da ação de R$ 22 para R$ 20, mantendo a recomendação de venda. O conselho de administração da Petrobras também aprovou na véspera os novos diretores da estatal.
– VALE ON ficou estável em 81,68 reais, em um dia negativo para os futuros de minério de ferro na Ásia. O contrato mais negociado na Dalian Commodity Exchange (DCE) encerrou as negociações diurnas em queda de 2,01%, a 854 iuanes (US$ 125,25) a tonelada, o nível mais baixo desde 14 de fevereiro.
