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Dor em Equinos Saiba Tudo O que ? Como ? Por que ?

    Dor em Equinos Saiba Tudo O que ? Como ? Por que ?

    O reconhecimento da dor em equinos pode ser um desafio para qualquer pessoa. O animal pode revelar dor, medo, irritação e contentamento por meio de sua linguagem corporal.

    Segundo a IASP (Associação Internacional para o Estudo da Dor) a dor é definida como uma experiência sensitiva emocional desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial, ou descrita nos termos de tal lesão.

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    A capacidade de sentir dor tem algumas vantagens como:

    • Pode limitar o movimento de uma parte do corpo ferida, o que pode ajudar na cura. No passado, isso levou alguns a argumentar contra o tratamento de um animal para reduzir a dor.
    • Ter uma experiência dolorosa também pode ajudar o indivíduo a aprender a evitar estímulos prejudiciais no futuro. No entanto, tratar e administrar adequadamente a(s) fonte(s) de dor pode ser importante para a cura e reabilitação geral enquanto um cavalo se recupera de uma lesão ou doença.
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    A dor é classificada em relação temporal (aguda ou crônica), patológica (nociceptiva ou neuropática) e a localização (somática ou visceral).

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    As escalas de dor são ferramentas úteis para a identificação da dor em equinos e a avaliação é feita baseada nos comportamentos expressões faciais.

    Caso você queira ir para uma parte específica de seu interesse no artigo, clique em um dos links abaixo:

    Introdução

    Existem estímulos que desencadeiam sofrimento nos animais, sendo os principais:

    • Dor;
    • Ansiedade;
    • Medo;
    • Estresse;
    • Desconforto;
    • Injúria ou trauma (LUNA; NETO, 2012).

    A comunicação verbal na medicina é considerada o “padrão ouro” para a investigação de enfermidades. Porém os animais, ao contrário dos humanos, não são capazes de realizar a verbalização.

    Dessa forma, para o reconhecimento da dor, são utilizados a avaliação dos sinais comportamentais e expressões faciais, conhecidos como Escalas de Dor para compreender o grau e intensidade da dor ali presente (KREBS; WEINBERG; AKESSON, 2013; LUNA; NETO, 2012; MATHEWS et al., 2014).

    Independente da classificação da dor é imprescindível que o médico veterinário saiba reconhecer e compreender os comportamentos anormais dos cavalos, assim será possível socorrê-los a tempo.

    Isso garante o bem estar físico e mental do animal acometido por uma enfermidade, principalmente as emergências que envolvem o trato gastrointestinal (síndrome cólica) presentes diariamente na rotina da medicina equina que podem levar o animal a óbito.

    O Cavalo e sua Natureza

    Na natureza, o cavalo é um animal nômade, rotineiro, que vive em grupo e prioriza a segurança (SILVA, 2014).

    Há um líder dentro do grupo, sendo em situações normais, uma égua mais experiente. Porém, em situações de perigo, o garanhão toma a iniciativa para proteger o grupo.

    Os cavalos são considerados presas perante aos inúmeros predadores que aguardam uma oportunidade para caça-los (SENAR, 2018). Em decorrência disso, os cavalos não demonstram a dor quando estão submetidos a locais de perigo constante, para assim não revelar que estão fracos e que são “presas fáceis” a vista dos inimigos, colocando em risco a manada.

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    Escondendo a dor

    Esconder a dor é uma forma de proteção utilizada em defesa do grupo, protegendo à todos, principalmente os cavalos idosos e jovens que não podem se defender sozinhos.

    Este fenômeno de esconder a dor é conhecido como analgesia induzida pela resposta ao estresse que explica como um cavalo com um membro fraturado continua a galopar após a lesão.

    Deve-se entender que a principal escolha de defesa de um cavalo é a fuga, pois mordidas e coices são utilizadas quando o animal encontra-se encurralado pelos predadores. Dessa forma ele vai optar em correr por longas distâncias ignorando totalmente a dor que pode estar presente e deixando de ser um alvo para os predadores.

    Depois de passado o perigo, a sensação de dor aumentada, como alodínia (sensação de dor causada por um estímulo normal) e hiperalgesia (resposta de dor aumentada a estímulos nocivos) pode ajudar a prevenir danos adicionais aos tecidos já lesados como uma forma de proteção (SPRAYBERRY; ROBINSON, 2014).

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    É possível concluir que o reconhecimento da dor em equinos é difícil requer paciência e compreensão dos pequenos detalhes que o mesmo expressa durante a manifestação de uma enfermidade dolorosa.

    Fatores que Levam a Dor em Equinos

    Há alguns fatores que contribuem com o desenvolvimento dos diferentes níveis de dor, variando-se em diferentes momentos da vida do cavalo, como:

    • Idade,
    • Raça;
    • Comportamentos nos treinos para os cavalos que participam do esporte.

    Os potros ainda não experimentaram as sensações de dor logo nos primeiros momentos de vida, dessa forma algumas reações comportamentais acabam sendo despercebidas pelo proprietário. Entretanto, há potros que manifestam fielmente ao utilizarem sons de desconforto, tenesmo e ausência do aleitamento materno.

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    As raças também podem ser um fator relevante, pois cavalos de sangue quente, como por exemplo o Puro Sangue Inglês, podem comportar-se de maneira mais tolerante ao perceber que está sentindo dor.

    Os cavalos que estão em constante treinamento, preparando-se para determinadas modalidades esportivas, devido ao treino intenso, podem demonstrar sinais quase imperceptíveis como encurtamento do passo.
    Em consequência disso realizam mecanismos de compensação, ou seja, atrofiam estruturas (ligamentos, músculos, articulações e tendões) para conviver da melhor maneira possível com a dor e agravando lesões que eram de início simples e de prognóstico bom para o animal.

    Fisiopatologia da dor em Equinos

    Para entender melhor o reconhecimento da dor em equinos, precisamos saber sobre a fisiopatologia da dor.

    Nociceptores

    Os nociceptores são terminações nervosas livres dos neurônios pseudounipolares, também chamados de neurônios de primeira ordem.

    Estão localizados na periferia de estruturas somáticas e viscerais. São inervados por dois tipos de fibras aferentes sensoriais ativadas por um estímulo nocivo e encaminhados para o corno dorsal da medula espinhal.

    • Fibras A-delta – possuem a bainha de mielina conduzindo o potencial de ação em curta duração e alta intensidadenormalmente presente na dor aguda como uma resposta fisiológica de autoproteção.
    • Fibras C – que não possuem a bainha de mielina, por consequência, o potencial de ação é conduzido em longa duração. Porém, com menos intensidade em relação a anterior e está envolvida com a dor patológica.
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    Os neurotransmissores utilizados pelas fibras nociceptivas são o glutamato e substância P, pois são substâncias químicas excitatórias da via da dor.

    Quando o nociceptor é ativado, resulta na abertura dos canais de sódio e cálcio, que leva a despolarização da membrana, gerando os potenciais de ação. Os neurotransmissores citados são liberados na sinapse com o neurônio de primeira ordem ao de segunda ordem na medula espinal (BAGATINI et al., 2017; GAYNOR; MUIR, 2014; KREBS; WEINBERG; AKESSON, 2013).

    Dor Aguda – Via Neoespinotâmica

    A dor aguda é conhecida por ser fisiológica, com a duração limitadafácil localização e rápida pelas fibras presentes nos neurônios.

    Apresenta função de sinalização biológica, sendo uma resposta imediata à ameaça, ou seja, é a retirada do membro afetado para escapar do evento potencialmente prejudicial e prevenir ou minimizar danos aos tecidos.

    Ela sinaliza anormalidades funcionais no organismo e tende a desaparecer com a resolução da causa. Porém, caso não haja o tratamento adequado ou tardio, em consequência agrava-se para a dor crônica.

    Costuma estar associada a:

    • Procedimento cirúrgico;
    • Traumatismo;
    • Condições clínicas.

    Anatomicamente, a via neoespinotalâmica representa a dor aguda e apresenta três neurônios: neurônio de primeira ordemsegunda ordem (ou espinotalâmico) e terceira ordem (ou tálamocortical), responsáveis por carregar e encaminhar o potencial de ação a partir dos nociceptores até o córtex (BAGATINI et al., 2017; GRIMM et al., 2017).

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    Fases da Dor

    As fases da dor estão relacionadas aos neurônios aferentes primários, citados anteriormente, incluem a transduçãotransmissãomodulação percepção, respectivamente nessa ordem e estão presentes na dor aguda e na crônica.

    • Transdução – é a fase em que os terminais aferentes primários convertem a energia química, mecânica ou térmica no local da lesão em potencial de ação, através da despolarização da membrana do neurônio de primeira ordem.
    • Transmissão – ocorre a partir do local da lesão para o corno dorsal da medula espinhal, tronco cerebral até o cérebro. Na via da dor aguda, o neurônio de segunda ordem está presente na segunda lâmina do corno dorsal da medula espinhal, também conhecida como região da substância gelatinosa, responsável por receber analgésicos endógenos (GOLDBERG; SHAFFRAN, 2015).
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    • Modulação – ocorre no corno dorsal da medula espinhal e está envolvida com a via descendente analgésica ou via inibitória que atinge a conexão entre os neurônios de primeira e segunda ordem.

      Os neurônios aferentes primários vindos da periferia realizam a sinapse com os neurônios do trato espinotalâmico (segunda ordem), liberando neurotransmissores excitatórios, o glutamato e bradicinina, como estímulo de dor presente.

      Em decorrência disso, os neurônios descendentes são responsáveis em realizar a analgesia endógena, utilizando substâncias inibitórias como os neurotransmissores de serotonina, ácido gama-aminobutírico (GABA) e noradrenalina, liberadas por opióides endógenos chamados de endorfina, encefalina e dinorfina (BAGATINI et al., 2017).
    • Percepção – é a fase do reconhecimento da dor pelo neurônio de terceira ordem, localizado no córtex somatosensorial do lobo pariental (KREBS; WEINBERG; AKESSON, 2013; MENCALHA, 2019).

    Dor Crônica – Via Paleoespinotalâmica

    A dor crônica é patológicapermanece no animal mesmo após a resolução da causa e também é presente na ausência de lesão.

    É uma dor lenta com projeção difusa e necessita de outras regiões anatômicas do sistema nervoso como a formação reticular no tronco encefálico e está relacionada com o sofrimento. Na medicina, é considerada dor crônica quando a duração é superior a três meses e na medicina veterinária há estudos que acreditam que a mesma dor nos animais seja confirmada com apenas duas ou três semanas.

    É representada pela via paleoespinotalâmica, na qual há uma grande quantidade de neurônios em comparação com a dor aguda. Há duas vias na dor crônica, a via contralateral e a lateral, ou seja, a dor será duplicada e consequentemente o número de neurônios será duplicado (MENCALHA, 2019).

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    Fases da Dor

    Em relação às fases da dor crônica, o Dr. Rodrigo Mencalha (2019), afirma que há diferenças anatômicas extremamente relevantes. A fase de transdução ocorre com os mesmos princípios que a dor aguda, porém em diante disso há mudanças significativas que necessitam a compreensão do profissional.

    Na fase de transmissão, a conexão do neurônio de primeira ordem com o segundo é realizada na quinta lâmina do corno dorsal da medula espinhal. Por consequência disso, há um grande prejuízo na via descendente da dor na modulação, pois as fibras são mais profundas e a liberação da analgesia é realizada apenas no início das lâminas medulares.

    É importante ressaltar que o neurônio de segunda ordem cruza a medula espinhal e percorre pela via contralateral até o tálamo. Porém, na dor crônica, o trajeto é duplicado com a inclusão da via lateral.

    A seguir, o neurônio de segunda ordem será nomeado como espinoreticular, pois prolonga-se até a formação reticular até a conexão com o neurônio de terceira ordem. A dor crônica envolve-se com o lado emocional, pois a formação reticular tem ligação com a emoção da dor.

    Os neurônios de quarta e quinta ordem estão localizados nos núcleos talâmicos. Em seguida, nas áreas cerebrais encontram-se neurônios de sexta, sétima, oitava e nona ordem que estão próximos na região de córtex sensorial. Por fim, os neurônios dez, onze e doze estão apresentam uma projeção difusa, ou seja, ramificam-se em várias áreas dentro da cápsula cortical. Em decorrência disso, a dor crônica é difícil de ser localizada anatomicamente, sendo um desafio para os profissionais da saúde.

    Sistema Límbico

    Em 1937, James Papez afirmou, baseado nos seus estudos, que os componentes do sistema límbico seriam a base neural das emoções. O “Circuito de Papez” surgiu sendo responsável pela perpetuação do estímulo emocional através da formação reticular (localizada no tronco encefálico), em direção ao tálamo, seguido pelo hipotálamo, tálamo anterior, córtex singular e finalizando no hipocampo.

    Após passar pelo hipocampo, o estímulo retorna ao hipotálamo e inicia-se novamente o circuito.

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    Ao conhecer o circuito, deve-se compreender a função de cada estrutura participante.

    • Amígdala – possui funções referentes às emoções e comportamentos como o de luta ou fuga;
    • Hipocampo – está associado com armazenamento da memória;
    • Hipotálamo – é responsável pelo controle de liberação de hormônios endócrinos;
    • Tálamo – possui estruturas com a função de se comunicar com o córtex (GNEIDING et al., 2018).

    A conclusão é que o animal continua experimentando a dor mesmo após a resolução da causa da lesão, pois o circuito foi ativado no animal e há uma grande liberação contínua de neurotransmissores excitatórios, favorecendo a presença constante da dor que torna-se sofrimento.

    Dor Nociceptiva

    A dor nociceptiva ocorre pela ativação de nociceptores por estimulação térmica, mecânica e química (MANICA, 2018). É a dor relacionada a danos somáticos e/ou viscerais decorrentes de trauma e inflamação, como por exemplo uma osteoartrite.

    Apresenta uma função protetora, avisando quanto à presença de uma lesão importante. Ela termina quando o estímulo é descontinuado e está envolvida com os efeitos do processo inflamatório (ROWLAND; PEDLEY, 2011).

    A dor nociceptiva faz parte da rotina durante os atendimentos na clínica médica, pós operatórios e procedimentos emergenciais. Há duas classificações: a dor nociceptiva somática e visceral que apresentam algumas características específicas:

    • Dor somática – está relacionada com a pele, periósteo, ligamentos e articulações, sendo conduzida pelas fibras A-delta e C, acompanha os sinais inflamatórios.
      A pele protege os animais na dor somática e é bem localizada, pois há um alto grau de somatotopia (ligação de uma área corporal com uma localização no SNC).
    • Dor visceral – envolve-se com as estruturas localizadas no abdômen, pelve e tórax (relacionada com as cólicas).
      Ao contrário da dor somática, os nociceptores viscerais não são ativados pela lesão por perfuração intestinal, e sim, pela distensão dos órgãos, isquemia e processos inflamatórios, ou seja eventos fatais não são dolorosos, porém um evento não fatal é doloroso.

      Ela é conduzida apenas pelas fibras C e não há uma localização bem definida devido ao baixo nível de somatotopia, citado anteriormente. A dor visceral é mais complexa, sua proteção não é confirmada como na dor somática, sendo considerada um desafio para os profissionais de saúde na medicina veterinária (BAGATINI et al., 2017; GOLDBERG; SHAFFRAN, 2015).

    Inflamação

    O processo inflamatório apresenta os sinais básicos da inflamação: dorcalorrubortumor (inchaço) perda de função. Estímulos químicos, físicos ou mecânicos causam um processo inflamatório que irá desencadear a produção de uma série de mediadores químicos que estimulam a dor.

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    Quando ocorre uma lesão na membrana celular, que é constituída fundamentalmente por fosfolípideos, a enzima fosfolipase A2 é ativada e leva à degradação dos fosfolipídios, resultando na produção de ácido araquidônico. É formado pelo ácido araquidônico a ciclooxigenase (COX) e lipoxigenase.

    A COX leva ao desenvolvimento de prostaglandinas e tromboxano. Após a liberação dos mediadores químicos, inicia-se a fase vascular, caracterizada por vasodilatação que aumenta o fluxo sanguíneo gerando a elevação da temperatura corpórea, eritema e aumenta a permeabilidade vascular que leva ao edema que, por si só, causa dor pela compressão das terminações nervosas (SPINOSA; GÓRNIAK; BERNARDI, 2017).

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    A lesão na pele libera diversas substâncias constituintes da “sopa inflamatória”. Esta mistura sensibiliza os nociceptores e cria um estado hiperalgésico para prevenir danos futuros.

    Dor Neuropática

    É a “dor que surge como uma consequência direta de uma lesão ou doença que afeta o sistema somatossensorial“. A dor neuropática resulta da presença de uma doença e disfunção dos sistemas nervosos periférico e/ou central e representa anormalidades na transmissão de informações nociceptivas podendo evoluir para a dor neuropática.

    Na medicina humana, as descrições para a dor neuropática incluem um déficit sensorial, como por exemplo, a dor em queimaçãoformigamentotoques leves na pele e ataques de dor sem estímulos.

    Normalmente a dor neuropática é grave, considerada como dor crônica e resistente aos tratamentos convencionais como o uso de AINES e opióides. Os nociceptores aferentes primários tornam-se altamente sensíveis à estimulação mecânica, podendo gerar impulsos na ausência de estímulos e o aumento da sensibilidade e de atividade espontânea ocorre pela maior concentração dos canais de sódio (HAUSER; JOSEPHSON, 2015).

    Categorias da dor

    Há duas categorias conhecidas na dor neuropática (ambas surgem pelo processo de inflamação ou formação de neuroma):

    • Dor provocada por estímulo – é caracterizada por alodinia ou hiperalgesia que resultam de estimulação mecânica, térmica ou química nos nociceptores aferentes primários.
    • Dor espontânea – pode ser contínua ou intermitente e suas manifestações são decorrentes de parestesias que ocorrem por meio de impulsos ao longo das fibras A-delta e C. Como exemplo, podemos citar o tremor idiopático da cabeça (“Headshaking”), compressão do nervo femoral por uma égua prenha e cavalos diagnosticados com laminite.

    Roberts (2019) descreve com maiores detalhes sobre a enfermidade “Headshaking” mediado pelo trigêmeo, também chamada de Neuropatia Trigeminal. A alteração está localizada no ramo infraorbital do nervo trigêmeo. Os sinais clínicos descritos são movimentos verticais violentos com a cabeça, sons audíveis na respiração (ronco), angústia, desconforto e comprometimento nasal.

    Reconhecimento da dor em Equinos

    A avaliação da dor apresenta muitos desafios nos cavalos, pois são presas, não verbais e variações individuais podem dificultar a avaliação da dor com maior precisão (LAWSON et al., 2020). Independentemente do tipo de dor, todas precisam ser controladas, pois provoca mudanças nos parâmetros fisiológicos identificadas rotineiramente pelo médico veterinário durante os atendimentos clínicos.

    Infelizmente, muitas vezes os parâmetros fisiológicos não estão bem correlacionados com a gravidade da dor, pois outras manifestações como endotoxemia, o medo diante de pessoas desconhecidasestressedesidratação uso de analgésicos podem afetar os parâmetros fisiológicos e interferir nos resultados.

    Conclui-se que os parâmetros comportamentais são os indicadores de dor mais úteis para avaliação da dor em equinos pela facilidade de identificação dos proprietários. É preciso reconhecer os indicadores comportamentais inespecíficos que estão presentes em animais com dor e não confundi-los com sinais de envelhecimento ou relaxamento.

    • Dor aguda – geralmente é demonstrada violentamente pelos cavalos por reações de fuga ou ataque, agitação, ansiedade, coices mordidas constantes no local da dor.
    • Dor crônica – inclui inapetência, desinteresse ao socializar com outros animais/pessoas e poderá ficar com a cabeça baixa no canto da baia (EGGER; LOVE; DOHERTY, 2013; LORENZ; COATES; KENT, 2011).
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    Escalas de Dor em Equinos

    Gleerup e Lindegaard (2016) afirmam que a avaliação da dor é mais bem sucedida quando realizada por pessoas que conhecem o cavalo dentro do seu ambiente de rotina, mantendo sempre uma distância mínima do animal ou por uso de filmagens e realizada com um único ou o mínimo de observadores.

    Consequentemente, avaliação em um hospital veterinário é difícil, já que as escalas são utilizadas por vários observadores que atingem pontuações diferentes no mesmo paciente.

    Além disso, o cavalo pode considerar as pessoas desconhecidas como predadores e a reação de defesa pode substituir a presença da dor ou aumentá-la pelo medo e os usos de sedativos e analgésicos podem afetar o comportamento do cavalo em relação à avaliação da dor.

    cavalo assustado
    reação de defesa pode substituir a presença da dor ou aumentá-la pelo medo

    Segundo Van Loon e Van Dierendonck (2018), as escalas de dor precisam de dois itens para a sua utilização:

    • Confiabilidade – produção dos mesmos resultados em tentativas repetidas da escala;
    • Validade – se a escala mede o que pretende medir.

    Gleerup e Lindegaard (2016) e Van Loon e Van Dierendonck (2018) concordam que as escalas de dor são simples de usarnão exigem equipamentos carosnão estressa o animal, o resultado é imediatodiferencia os cavalos com e sem dor e podem ser colocadas na rotina.

    Os autores reforçam que há maiores necessidades de estudos e pesquisas sobre as escalas de dor. Ambos acreditam que as escalas de dor baseadas na expressão facial parecem ser mais promissoras pela avaliação ser rápida, ao contrário das escalas baseadas em etogramas que requerem mais tempo.

    Escala de Dor para Avaliação da Síndrome Cólica

    A EAAPS (Escala de Dor Abdominal Aguda Equina) é uma escala baseada em dez comportamentos manifestados durante a síndrome cólica criada por Sutton e Bar (2016).

    Para a realização do estudo foram utilizados 40 vídeos de cavalos, sendo 34 com cólica e 6 cavalos controle analisados por dois grupos de médicos veterinários que avaliaram os vídeos com a Escala de Classificação Numérica (NRS) indicando 0 (sem dor), 1 (dor leve), 2 (dor leve a moderada), 3 (dor moderada), 4 (dor moderada a forte) e 5 (dor forte) e o outro grupo usou a EAAPS.

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    134549193 434578474228311 5287293285553784381 n 768x768 1
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    Os autores afirmam que a EAAPS é uma escala simples e fácil para aplicar nos haras e clínicas, incluindo os comportamentos e números de 1 a 5 para a classificação da dor e leva menos de dois minutos para pontuar. A desvantagem da EAAPS é que não leva em consideração fatores como raça, sexo ou comportamentos individuais que podem influenciar a expressão da dor.

    Os autores concordaram que a EAAPS tem uma confiabilidade entre os observadores igual da NRS e é válida para avaliação de dor abdominal aguda em cavalos. Também concordam que estudos são necessários para demonstrar a funcionalidade da escala na prática.

    Escala da Universidade de Utrecht para Avaliação da Dor Composta em Equinos (EQUUS-COMPASS)

    Van Loon e Van Dierendonck (2015) introduziram a EQUUS-COMPASS, uma escala composta de dor e uma escala de expressão facial de dor para uma avaliação objetiva dos sinais de dor em equinos com cólica aguda.

    A EQUUS-COMPASS é uma combinação de diversos comportamentos e parâmetros fisiológicos avaliados individualmente, incluindo quatorze parâmetros, cada um é pontuado de 0 a 3.

    Por fim, todas as pontuações são somadas para produzir uma pontuação final de dor de 0 (sem sinais de dor) a 42 (pontuação de dor máxima). O uso da escala deve ser feita apenas por médicos veterinários, pois há parâmetros fisiológicos que devem ser avaliados e a avaliação leva cinco minutos. O estudo foi realizado com cinquenta cavalos adultos (25 com cólica aguda e 25 de controle).

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    Escala da Universidade de Utrecht para Avaliação de Dor Composta Equina (EQUUS-COMPASS)

    Fonte: Adapatada de Van Loon e Van Dierendonck (2015)

    O uso do EQUUS-COMPASS melhorou o monitoramento de forma mais objetiva ao longo do tempo em cavalos com cólica aguda, pois ambas as escalas foram capazes de diferenciar vários níveis de dor e apresentaram alta confiabilidade com os observadores. Porém, os autores afirmam que ainda há necessidade de mais estudos para a identificação da dor em equinos com cólica aguda.

    Escala da Universidade de Utrecht para Avaliação Facial da Dor em Equinos (EQUUS-FAP)

    Descrita por Van Loon e Van Dierendonck (2015), a EQUUS-FAP é uma escala composta de dor baseada na expressão facial para avaliar cavalos com cólica aguda por um período de observação de 2 minutos e, portanto, pode ser aplicado de forma eficaz na prática clínica.

    Igualmente a EQUUS-COMPASS, é baseada na CPS abrangendo nove parâmetros avaliados na expressão facial dos cavalos e cada um dos nove parâmetros pode ser pontuado de 0 a 2.

    A avaliação da dor envolve a soma total da pontuação total de dor de 0 (sem sinais de dor) a 18 (pior dor possível).

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    Escala da Universidade Utrecht para Avaliação Facial da Dor em Equinos
    (EQUUS-FAP)

    Fonte: Adapatada de Van Loon e Van Dierendonck (2015)

    Diferente da EQUUS-COMPASS, a escala baseada nas expressões faciais pode ser usada por proprietários e médicos veterinários. Os resultados mostraram que a expressão facial foi muito adequada para o reconhecimento e gravidade da cólica em cavalos.

    Horse Grimace Scale (HGS)

    A primeira escala de dor para cavalos baseada em parâmetros de expressão facial foi a Horse Grimace Scale (HGS). Construída por Dalla Costa et al. (2014), compreende seis parâmetros faciais com classificação de 0 a 2 (sinais de dor ausentes, moderadamente ou obviamente presentes) e leva dois minutos para fazer a avaliação.

    O resultado é determinado somando as pontuações individuais para cada uma das seis categorias.

    133824554 412440870092097 2663454849758502423 n 768x768 1
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    134466312 112501154066027 8685841216479531735 n 768x768 1
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    134516101 1531983963859033 7383943836780937847 n 768x768 1
    Dor em Equinos Saiba Tudo O que ? Como ? Por que ? 32
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    O estudo incluiu quarenta garanhões, divididos em dois grupos com a administração de tratamentos diferentes, submetidos à castração sob anestesia geral e seis cavalos participaram de procedimentos não invasivos como grupo controle. A pontuação da dor foi baseada em cento e vinte e seis fotografias, a partir de imagens de vídeo, tiradas antes e oito horas após a castração.

    A vantagem desta escala é a observação do animal no seu ambiente natural sem manipulação das pessoas. Os autores concluíram que a Horse Grimace Scale mostrou-se válidarápidaeficaz e pode ser utilizada com confiança pelos proprietários e tratadores como um sistema de alerta precoce de dor em equinos presentes na fazenda/haras para na avaliação da dor após a castração. Tabela 3 – Horse Grimace Scale (HGS) Fonte: Adaptado de DALLA COSTA et al., (2014).

    Conclusão

    É essencial ser capaz de reconhecer e avaliar a dor em equinos para determinar quando a intervenção é necessária e para estabelecer a eficácia dos analgésicos. A fisiopatogenia da dor é complexa, porém sua compreensão contribui para estabelecer os protocolos analgésicos para o alívio da dor.

    As escalas de dor nunca substituirão a tomada de decisão clínica, como o exame físico e exames de imagem, mas são úteis e podem ser aplicadas com sucesso para a identificação da dor em equinos, alertam a necessidade de encaminhamento a um hospital veterinário nos haras e podem ajudar no acompanhamento do paciente com dor.

    Portanto, as escalas de dor são capazes de aumentar significativamente o bem-estar dos equinos. Segundo Hipócrates, o pai da Medicina, “Sedare Dolorem Opus Divinum Est”, ou seja, aliviar a dor é uma obra divina.

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