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Cultivar da Embrapa para trigo safrinha no Cerrado é apresentada no Dia de…

    Cultivar da Embrapa para trigo safrinha no Cerrado e apresentada

    Com grãos de alta qualidade industrial e plantas tolerantes à seca e ao calor, a cultivar de trigo seco BRS 404 é a opção disponibilizada pela Embrapa aos produtores interessados ​​em cultivar trigo safrinha no Cerrado do Brasil Central. A variedade foi apresentada a cerca de 130 técnicos, consultores e produtores rurais no Dia de Campo promovido pela Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF) no dia 11 de julho no Núcleo Rural Tabatinga, no DF. No local, a cooperativa faz um ensaio de trigo safrinha com cultivares da Embrapa e das empresas Biotrigo, OR Sementes e Semevinea.

    “Um dos desafios do país é ser autossuficiente na produção de trigo, e a fronteira é o Cerrado”, disse o vice-presidente da Coopa-DF, Leandro Maldaner, na abertura do evento. Para o gerente técnico da cooperativa, Cláudio Malinski, a cultura do trigo safrinha está se consolidando na região e os produtores já estão administrando. Ele destacou a importância do trigo para o sistema produtivo: “Os produtores que utilizaram essa cultura em suas atividades, além de terem retorno dela, têm retorno da cultura que a sucede. E como produzimos no sistema de sequeiro, cuja colheita ocorre no mês de julho e início de agosto, a qualidade é muito boa. Esse é um diferencial do trigo do Cerrado em relação aos outros trigos do Brasil”, afirmou.

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    O supervisor de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, Sérgio Abud, disse que o Dia de Campo é um importante momento de troca de experiências na região e que o trigo é uma cultura que contribui significativamente para o sistema produtivo. “O trigo seco aqui tem produtividade média em torno de 40 a 50 sc/ha, com produtores já ultrapassando 60 sc/ha. A Embrapa tem trabalhado fortemente no desenvolvimento do sistema de produção de trigo para o Cerrado como um todo. Hoje devemos ter mais de 350.000 ha de trigo plantados na região. Isso mostra que temos muito a crescer, mas também que já alcançamos muito do que esperávamos”, avaliou.

    Abud destacou que cuidar do sistema de produção é de grande importância para o sucesso do cultivo do cereal. Ele lembrou que a brusone, principal doença que atinge a cultura do trigo na região, é um problema sério, mas que tem sido amenizado graças ao trabalho de pesquisadores com biotecnologia e genética de variedades mais recentes, menos sensíveis ao fungo doença. “Sabemos que devemos seguir as recomendações, principalmente em relação à época de plantio, para não termos muitos problemas de insegurança com o cultivo do trigo”, acrescentou.

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    Nesse sentido, recomendou aos produtores e técnicos o acesso às informações do Zoneamento de Riscos Climáticos Agrícolas (Zarc), ferramenta desenvolvida pela Embrapa que auxilia na tomada de decisão quanto à época de plantio, permitindo minimizar os riscos climáticos na cultura do trigo e da outras 43 culturas. As informações podem ser encontradas no aplicativo gratuito Zarc – Plantio Certo.

    BRS 404 e os diferenciais como planta no campo e grão para a indústria

    Os pesquisadores Júlio Albrecht, da Embrapa Cerrados (DF), e Jorge Chagas, da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), apresentaram as principais características do trigo de sequeiro BRS 404 e como a cultivar deve ser manejada. A variedade foi desenvolvida para o sistema de produção de segunda safra (safrinha) no Cerrado, embora alguns produtores já a tenham utilizado sob pivôs de irrigação, atingindo produtividades de 100 sc/ha.

    O cultivo da BRS 404 é indicado para o Distrito Federal e para os estados de Minas Gerais e Goiás, em altitudes acima de 800 metros, que são recomendadas para o trigo segunda safra. “É um dos melhores materiais em termos de tolerância à seca e ao calor, características fundamentais do trigo safrinha, e não reduz o PH* mesmo nas condições mais desfavoráveis”, afirma Albrecht.

    As plantas da cultivar possuem ciclo precoce (90 a 110 dias em sistema seco); alta estatura, tolerância ao alumínio no solo; boa tolerância às manchas amarelas e marrons e boa resistência à debulha. Devido à brusone, como todas as cultivares de trigo, requer tratamento preventivo com fungicidas.

    A pesquisadora destacou que o ano de 2023 foi excepcional em termos climáticos, com chuvas bem distribuídas durante o ciclo do trigo da segunda safra, o que favoreceu o desenvolvimento das plantas. “Não foi um ano normal, então veremos lavouras com alta produtividade e qualidade”, projetou.

    Por outro lado, Albrecht alertou que o trigo safrinha é uma cultura de alto risco. “É cultivada no final da estação chuvosa e com grande pressão para ocorrência de doenças, principalmente brusone”, disse, justificando porque a Embrapa desenvolve pesquisas não só no desenvolvimento de cultivares, mas também no manejo da cultura, a fim de para gerar recomendações aos produtores.

    A cultivar BRS 404 possui alta liquidez, sendo classificada como trigo panificação. Apresenta farinha branca, mas não é um trigo branqueador. A força do glúten (W), relacionada à quantidade de proteínas, é superior a 250, e a estabilidade da farinha é alta (tempo de amassamento da massa acima de 10,4 minutos), o que atende às exigências da indústria de moagem.

    O PH é, em média, de 80 kg/hL mesmo com baixa precipitação, e o peso de mil sementes (PMS), medida utilizada para calcular a densidade de semeadura, é em média de 40 gramas. A produtividade de grãos pode variar de 30 sc/ha (com 60 a 70 mm de chuva, comprovando tolerância à seca) a 70 sc/ha (com 160 mm de chuva).

    Recomendações de manejo para uma cultura de alto risco

    A BRS 404 pode ser semeada a lanço ou, preferencialmente, com semeadora. Embora mais simples e rápida, a semeadura a lanço exige maior quantidade de sementes (cerca de 30% a mais) e sua incorporação, o que implica em revolvimento da palhada do solo utilizada no plantio direto. A utilização de semeadora proporciona um aproveitamento mais eficiente dos fertilizantes, que são aplicados diretamente nas linhas de plantio; a uniformidade do arranjo das plantas, favorecendo a aplicação de defensivos; a conservação do plantio direto; além de possibilitar o uso de herbicidas pré-emergentes.

    A cultivar é indicada para plantio no mês de março, sendo mais recomendada entre os dias 15 e 30 na região do Distrito Federal, Goiás e Noroeste de Minas Gerais. “É um material moderadamente suscetível à explosão, por isso não pode receber muita chuva na fase de sangria”, alertou Jorge Chagas.

    O pesquisador acrescenta que o produtor pode planejar o plantio de verão de uma variedade de soja de ciclo tardio para posterior cultivo do trigo BRS 404. “Ele pode ganhar um pouco mais com a soja e terá a oportunidade de plantar essa cultivar de trigo, tolerante à seca e ao calor”, disse.

    Quanto à densidade de semeadura, Chagas recomendou observar o PMS e a germinação do lote. Ele mostrou dados de testes em Uberaba e Santa Juliana (MG), na Coopa-DF e na Embrapa Cerrados que levaram à definição de 250 a 300 sementes viáveis/m2 como a densidade ideal para a região, sendo 42 a 52 plantas/linear metro, visando a maior rentabilidade possível.

    Júlio Albrecht destacou que um erro cometido por muitos produtores, principalmente os que estão iniciando a lavoura, é querer usar uma densidade de semeadura maior que a recomendada, acreditando que é necessário ter mais plantas, já que é um sistema de sequeiro. “Na verdade é o contrário: tem que ter menos plantas. Há um custo menor com sementes. Os dados mostram que não precisa colocar uma densidade muito alta porque não vai ter resposta”, afirmou.

    Ao falar sobre recomendações de adubação, os pesquisadores explicaram que a adubação nitrogenada deve ser de 10 a 20 kg/ha na base e 30 kg/ha em cobertura. A aplicação deve ser feita até 15 dias após a germinação, não devendo ser feita tardiamente. A cultivar não necessita de regulador de crescimento.

    O pesquisador apresentou dados de testes com a cultivar em diferentes localidades, mostrando aplicações de adubação nitrogenada em cobertura em doses crescentes e as respectivas produtividades de grãos. As respostas observadas nos experimentos mostram que a quantidade total de fertilizante nitrogenado não deve ultrapassar 50 kg/ha.

    “Se aplicar mais do que isso e chover bem, o trigo pode apodrecer. Se chover pouco, você estará jogando nitrogênio fora, pois não haverá umidade para as plantas aproveitarem esse nitrogênio. Então, você precisa se concentrar no custo. Apesar de ser tolerante à seca, ainda é uma cultura de risco, embora inferior a outras culturas”, explicou.

    “É importante entender que a safra de trigo safrinha tem que ser de baixo custo. Os níveis de fertilização são baixos porque é uma cultura de alto risco. É preciso aproveitar a adubação residual da soja. Mesmo assim, você terá uma boa produtividade”, disse Albrecht. “Como o risco é alto, o investimento tem que ser equilibrado. Quando as chuvas forem bem distribuídas durante o ciclo da cultura, essa cultivar vai produzir e corresponder a tudo o que foi investido na lavoura”, acrescenta Chagas.

    Para adquirir as sementes da cultivar de trigo BRS 404, procure empresas licenciadas pela Embrapa. Os contatos estão disponíveis aqui.

    Fonte: Noticias Agricolas