Voltada para pequenos e médios produtores rurais, a iniciativa também conta com a participação de outras instituições associadas
O avanço no uso de tecnologias digitais é apontado como um dos fatores determinantes para que a agricultura brasileira mantenha sua capacidade produtiva de forma sustentável, tanto do ponto de vista econômico, quanto ambiental e social. E a participação dos pequenos e médios produtores rurais nesse processo de transformação do campo é fundamental. Com esse foco, foi inaugurado hoje, 11/04, o Centro de Ciências para o Desenvolvimento da Agricultura Digital (CCD-AD/SemeAr), uma iniciativa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que tem o CPQD como uma de suas instituições associadas.
Aprovado no final de 2022, em edital da FAPESP para a criação de centros virtuais voltados para problemas específicos e com impacto social e econômico, o projeto terá investimento total de R$ 25 milhões nos próximos cinco anos. Sua missão será atuar em pesquisa, desenvolvimento e inovação em tecnologias emergentes visando à inclusão de pequenos e médios produtores rurais no processo de transformação digital, a fim de ampliar a competitividade e os serviços agrícolas brasileiros.
“As tecnologias e soluções propostas neste projeto são de fundamental importância para o país. Temos a agricultura tropical mais competitiva em termos globais, mas a conectividade no meio rural é muito baixa e o uso de tecnologias digitais ainda deixa muito a desejar, principalmente para pequenos e médios produtores”, afirma Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP. “O desenvolvimento de soluções de comunicação e aplicativos relevantes para os diversos tipos de cultivo e criação pode aproximar esses produtores do mercado e viabilizar ferramentas capazes de aumentar a produtividade e a renda desses produtores”, acrescenta.
Entre as ações previstas nessa iniciativa está a implantação de dez Distritos Agrotecnológicos (DATs), distribuídos pelo estado de São Paulo e em outras regiões do país, considerando a diversidade produtiva e os recursos naturais. Selecionados com base em indicadores socioeconômicos, os DATs servirão de base para identificar gargalos na
conectividade e o mapeamento de soluções digitais demandadas por produtores rurais, bem como por instituições públicas ou privadas, empresas e startups capazes de atender às necessidades daquele arranjo local. Como pilotos de fazendas inteligentes, os DATs também permitirão investigar e validar tecnologias facilitadoras para o desenvolvimento de soluções digitais priorizadas para cada realidade.
Para Silvia Masshurá, pesquisadora da Embrapa Agricultura Digital e responsável pela coordenação do projeto, a expectativa é, por meio dos DATs, promover a conexão com múltiplos atores das cadeias produtivas e viabilizar novos modelos de negócios, de forma a escalar tecnologias e reduzir transações custos. “O objetivo é estimular a integração das tecnologias digitais aos processos produtivos rurais de forma efetiva e simples, que atenda às reais necessidades dos produtores, gerando impactos socioeconômicos a curto e médio prazo, além de oferecer capacitação tecnológica e o compartilhamento de conhecimento e conhecimento. práticas, com vistas a acelerar a adoção de tecnologias digitais”, enfatiza.
Dentre os dez DATs previstos pelo CCD-AD, dois já foram implantados em um projeto liderado pelo CPQD e pela Embrapa, dentro da iniciativa SemeAr, criada para estruturar a governança e o suporte econômico desse modelo de atuação para fomentar a agricultura digital. Os primeiros pilotos, que servem de referência para o novo projeto, foram implantados nos municípios paulistas de Caconde, região caracterizada pela presença de pequenos e médios cafeicultores, e de São Miguel Arcanjo, que tem como base a produção de uvas atividade principal.
A implementação dessas DATs contemplou aspectos como conectividade – um dos principais desafios para a adoção de inovações na agricultura digital –, prestação de serviços e capacitação. E envolveu a participação de atores locais, como produtores rurais, cooperativas, associações, sindicatos, prefeituras municipais, institutos de pesquisa, assistência técnica e extensão rural, empresas, prestadores de serviços e startups. O objetivo é validar um modelo viável, capaz de ser replicado em outras localidades do Brasil, gerando subsídios para políticas públicas e outras iniciativas no campo da agricultura digital.
“O projeto CCD-AD/SemeAr proporciona conectividade e implementação de soluções digitais em diferentes regiões do país, com diferentes necessidades e desafios. Assim, em locais onde já existe infraestrutura de conectividade, a ideia é aproveitar o que está disponível. Mas a estratégia do projeto também prevê a escolha de localidades que apresentem desafios de conectividade que demandarão a pesquisa e desenvolvimento de soluções inovadoras. E isso pode ser feito com as competências do CPQD e parceiros na área de tecnologias de conectividade”, explica Alberto Paradisi, diretor do CPQD e um dos diretores adjuntos do CCD-AD/SemeAr.
Paradisi observa que a diversidade de atores é um fator importante para o sucesso do projeto, como mostra a experiência do DAT São Miguel Arcanjo, que atraiu empresas e fornecedores de diferentes soluções e serviços – entre eles, um provedor de internet local , provedores de equipamentos e links via satélite e várias startups. “É uma experiência muito interessante, que mostra a importância de atrair diferentes atores”, diz.
A Embrapa Agricultura Digital, localizada em Campinas, é a instituição sede do CCD-AD/SemeAr. O projeto também tem como instituições associadas, além do CPQD, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o Instituto Agronômico (IAC), o Instituto de Economia Agrícola (IEA), o Instituto Nacional de de Telecomunicações (Inatel) e da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
