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Como o cenário do gado magro interfere nas principais ações do agro? – Horas do Dinheiro

    Como o cenario do gado magro interfere nas principais acoes

    As ações dos principais frigoríficos registraram fortes altas nesta quinta-feira com preocupações sobre um novo surto de PSA na China (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

    Nesta quarta-feira (15), foi anunciado pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) as Pesquisas Trimestrais de Abate Animal, Produção de Leite, Couro e Ovos de Galinha, que ajudam a entender a evolução dos preços, principalmente para o boi gordo.

    Entre os destaques do relatório está o aumento de 19,1% no abate de fêmeas em 2022, em relação ao ano de 2021, que interrompeu a série de três anos consecutivos de retração na atividade.

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    Segundo Felipe Fabbri, analista de mercado e cadeia produtiva animal da Scot Consultoria, esse movimento confirma um mudança de fase no ciclo de preços do boi gordo em 2023já que os valores dos animais de reposição começaram a operar em baixa a partir do 2º semestre de 2021.

    Porém, o que movimenta o mercado dos principais frigoríficos nesta quinta-feira (16) são as informações sobre um novo surto de peste suína africana (PSA) na China, que resultou em valorização superior a 10% das ações da Marfrig (MRFG3).

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    As ações de JBS (JBSS3) avançou 4,39%, de Minerva (CARNE3) acumulou alta de 2,07%, e BRF (BRFS3) aumentou 0,40%.

    Análise

    Segundo Leonardo Alencar, analista de agro, alimentos e bebidas da XP Investimentosa variação dos preços hoje está ligada ao aumento dos casos de PSA na China, embora não tenham sido esclarecidos dados sobre as regiões afetadas no país asiático e o tamanho do problema de um novo surto, que tem sido um problema crônico.

    “Isso acontece em um momento muito frágil para os frigoríficos, com a suspensão das exportações para a China devido ao atípico vaca louca e a disseminação da gripe aviária na América do Sul, com risco de afetar os preços da carne de frango e paralisar as exportações. aqui no Brasil. Os preços das ações não reagem tão rapidamente à queda do preço do boi gordo, então esse movimento de alta está muito mais relacionado a esse caso de PSA na China”, aponta Alencar.

    O analista da XP avalia que esse ambiente sensível, aliado à virada do ciclo da pecuária nos Estados Unidos, fez com que os investidores adotassem posições vendidas nas ações.

    No entanto, devido às notícias do PSA na China e aos investidores que vendem embalagens de carne, houve uma demanda repentina e muito concentrada dos compradores (short squezee) o que resultou nesse aumento expressivo.

    “Não acho que seja uma mudança estrutural, acho muito cedo para concluir que teremos um evento semelhante a 2018, quando houve perdas de até 50% no rebanho chinês”, aponta.

    Alencar explica que a queda do gado vivo tem uma resposta mais de médio a longo prazo, já que os dados do IBGE que apontam para o aumento do gado disponível para abate são reflexo do ciclo da pecuária.

    “O Brasil vem retendo porcas e aumentando a produção de gado há cerca de 6 anos, e isso vai resultar em queda de preços. Essa queda está muito mais ligada ao ciclo da pecuária do que esse aumento da oferta. O boi representa, mais ou menos, 80% do custo de um frigorífico, então a virada de ciclo é muito favorável para a indústria”, comenta.

    O que um surto de PSA na China significa para o Brasil?

    O analista de mercado da XP destaca que a carne suína é a proteína animal mais consumida no mundo, sendo que a China tem o maior rebanho e a maior produção de suínos do planeta.

    Ou seja, se acontecer algo semelhante ao ocorrido entre 2018 e 2019, quando o país asiático perdeu entre 30% e 50% de seu rebanho, haveria um cenário bastante favorável para as exportações brasileiras.

    “A queda na produção da China naquele período abriu um vazio de proteína animal, que mesmo as exportações do mundo todo voltadas para o país não cobririam esse vazio. Isso se traduziu em um aumento no preço do
    todas as carnes do mercado internacional entre 2018 e 2019”, analisa Alencar.

    Ele também explica que com um movimento semelhante, não tão intenso quanto aquele, isso tende a ser positivo porque os chineses teriam que comprar mais de outros países, e os Estados Unidos estão em um momento de contração do rebanho, sendo o único O país que está aumentando sua produção de aves, suínos e bovinos é o Brasil, enquanto a gripe aviária não entrar em nossas indústrias e a China retomar as compras brasileiras.

    Por fim, o especialista não acredita que a gripe aviária, que já atingiu todos os países da América do Sul com exceção do Brasil, chegue a alguma granja comercial, mas é preciso ficar atento ao risco até maio, quando o fluxo de aves migratórias termina. .

    “Se entrar uma ave migratória infectada com gripe aviária, não muda nada, mas se afetar a produção comercial, pode paralisar as exportações. Isso, a princípio, já impacta porque a população começa a diminuir o consumo de carne de frango, mas sem a exportação, o preço cai muito no mercado interno e o consumo se desloca para a carne de frango, então você tem um BRF (BRFS3) e uma Seara (JBSS3) que teria um faturamento bem menor e a carne de frango “roubando” o consumo de outras proteínas, então tudo seria impactado”, finaliza.

    Fonte: Noticias Agricolas