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Boas práticas e inovação tecnológica beneficiam a comunidade ribeirinha do Amapá

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O compartilhamento do conhecimento científico e tradicional entre a Embrapa Amapá e a comunidade ribeirinha Limão do Curuá, localizada no Arquipélago do Bailique (Amapá), resultou em melhorias no processo de extração do óleo de pracaxi, produto amplamente utilizado na região como antiinflamatório . ?amatório, cicatrizante e antiofídico.

Além de boas práticas que aumentam a produtividade, a inserção de inovações tecnológicas, como a mecanização da prensa artesanal utilizada no processo (veja mais detalhes no box ao longo deste artigo), levou ao desenvolvimento de um produto com aparência, odor e qualidade adequados ao mercado de insumos bioecológicos, com grande potencial para atrair indústrias farmacêuticas e cosméticas.

A adoção de boas práticas em todas as etapas, desde a coleta das sementes até o engarrafamento do óleo, além de novos equipamentos, proporcionou o aumento da escala de produção e comercialização. Segundo a extratora Claudiane Barbosa, um dos maiores ganhos foi o aumento da produtividade, além da melhoria da qualidade do óleo. “Se antes a extração de um litro de óleo de pracaxi levava de três a quatro dias, hoje leva apenas 30 minutos”, compara.

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A extração de óleos vegetais na Amazônia é uma prática comum que envolve o conhecimento das populações locais sobre o ambiente onde vivem, passado de geração em geração. O óleo de pracaxi, extraído das sementes da árvore pracaxizeiro, é um dos exemplos nesse sentido.

O trabalho da Embrapa Amapá com a comunidade de Limão do Curuá se baseia principalmente no aprimoramento de técnicas, por meio de treinamentos em boas práticas e parcerias para customização e aquisição de equipamentos, envolvendo diretamente membros do Núcleo de Recursos Florestais, da Unidade, como as pesquisadoras Ana Cláudia Lira Guedes e Ana Euler, os pesquisadores Marcelino Carneiro Guedes e Paulo Paiva, e a auxiliar Adjalma dos Santos Souza.

A pesquisadora Ana Cláudia Guedes destaca que a produção de óleo de pracaxi nessa comunidade é a mais expressiva no Amapá, chegando a duas toneladas por ano. “Isso porque, além de eliminar as etapas de cozimento e repouso das sementes, foi introduzido um novo modelo de prensa que proporciona uma redução significativa no tempo de extração, já que não há necessidade de trabalhar a massa todos os dias, três vezes ao dia. dia, por 30 dias, para o óleo escorrer.”

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Claudiane Barbosa é da geração atual e aderiu a tecnologias que visam melhorar a qualidade do óleo e reduzir o esforço físico. “Trabalhávamos da maneira mais antiga, criada por nossas avós. Cozinhávamos as sementes no fogo, que durou o dia todo. Hoje, nosso grupo adotou a prática de levá-los ao sol. Além disso, em vez de serem trituradas, as sementes são trituradas em um liquidificador industrial. Com isso, em poucos minutos temos a massa para ser levada à prensa mecânica”, explica.

As boas práticas em todo o processo são essenciais para se obter um produto final de qualidade e têm potencial para referenciar outras comunidades tradicionais que extraem ou pretendem extrair o óleo da semente de pracaxi. As recomendações são publicadas em documento gratuito, disponível no portal da Embrapa, que também descreve os custos de produção desse óleo vegetal, para apoiar a comunidade na definição do preço mínimo ou preço justo, este último contemplando diversos fatores de valoração. .

Metas de desenvolvimento sustentável

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Vale lembrar que o manejo dessa espécie, visando a extração e comercialização do óleo, promove o desenvolvimento das comunidades (ODS 1) que praticam essa atividade, além de contribuir para o protagonismo da mulher (ODS 5), emprego e geração de renda (ODS 8) e conservação da Floresta Amazônica, por meio do uso sustentável de seus recursos (ODS 15).

Boas práticas para garantir a qualidade sanitária do óleo de pracaxi

As adaptações feitas no processo de extração do óleo de pracaxi resultam da união entre o conhecimento tradicional dos extratores e o conhecimento técnico-científico. As mudanças no método já trazem impactos positivos, principalmente nas características físico-químicas do óleo, como acidez e peróxido, que são os parâmetros levados em consideração pelas empresas que buscam o óleo de pracaxi para a fabricação de cosméticos.

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Sobre as boas práticas disseminadas na comunidade, a extratora Claudiane Barbosa destaca que “a Embrapa trouxe informações que desconhecíamos, como a forma mais adequada de trabalhar para evitar a contaminação do óleo. Com o apoio do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e da Embrapa, nossa comunidade vem ganhando recursos e projetos a partir do incentivo à melhoria da qualidade do petróleo”.

As boas práticas envolvem coletar, lavar, descascar, secar e triturar as sementes. Segue-se a preparação da massa, prensagem, drenagem e, por fim, o engarrafamento do azeite.

a árvore do pracaxi

O óleo de pracaxi é extraído das sementes da árvore Pentaclethra macroloba (Willd.) Kuntze, popularmente conhecida como pracaxizeiro. É uma espécie típica da Amazônia que pode atingir 14 metros de altura, o equivalente a um prédio de quatro andares, e seu tronco atinge um Diâmetro na Altura do Peito (DAP) de até 59 centímetros.

Leguminosa da família Fabaceae, é vista em grande quantidade às margens dos rios do estuário do Amazonas (ponto de encontro do rio com o mar, na divisa do Amapá com o Pará). As folhas do Pracaxizeiro são de cor verde brilhante. É uma espécie oleaginosa exigida pela indústria de fitoterapia e cosméticos.

Os frutos amadurecem e as sementes se dispersam entre os meses de janeiro e abril até 10 metros de distância das árvores e flutuam nos ambientes de várzea, onde são transportadas pelas marés ao longo dos rios e córregos. No caso desta comunidade do Bailique, as sementes dispersas são coletadas no Rio Limão. A semente é marrom escura e opaca, e o óleo é amarelo claro.

Prensa mecânica: inovação na extração de óleo

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Uma das inovações marcantes no processo de extração do óleo de pracaxi da comunidade de Limão do Curuá é o uso de uma prensa mecânica. Anteriormente, o equipamento mais utilizado era a prensa artesanal feita pelos próprios agroextrativistas com a madeira da pracuúba. No entanto, por ser de madeira, é vulnerável a rachaduras que se tornam habitat de microrganismos nocivos, como fungos e bactérias, que podem aumentar a acidez e reduzir a qualidade química do óleo.

Para solucionar esse problema, o engenheiro florestal João Felipe Vilhena Correa, quando ainda era acadêmico da Universidade do Estado do Amapá (UEAP) e estagiário de Ana Claudia Lira Guedes, na Embrapa, dedicou-se à pesquisa de seu Trabalho de Conclusão de Curso Trabalho de Curso (TCC) com o objetivo de adaptar a prensa artesanal utilizada pelos extratores à época, a um modelo que adicionava uma chapa de aço inoxidável e um macaco hidráulico à peça de madeira, a fim de melhorar a qualidade do óleo, em além de aumentar o ganho ergonômico. com menor esforço físico para os trabalhadores extrativistas.

A nova prensa, recomendada pela Embrapa, foi construída em madeira e tem 120 centímetros de altura por 64 centímetros de largura. A parte lateral é composta por duas peças de madeira, que servem de suporte para garantir maior firmeza durante a prensagem e uma parte fixa composta por três peças, uma das quais revestida a aço inoxidável. O macaco hidráulico de 16 toneladas é fixado na parte inferior, que também é fixa.

O fato de a prensa ser dobrável facilita a movimentação entre as comunidades. O novo equipamento foi feito por Adjalma Souza, auxiliar da Embrapa, com base nas necessidades identificadas pelos extratores e nas orientações técnicas dos pesquisadores Ana Cláudia Lira Guedes e Marcelino Guedes.

Os testes foram realizados em ambas as prensas: no modelo adaptado e no antigo, tradicionalmente utilizado pelos extratores. Também foram coletadas amostras de óleo das duas prensas, submetidas à análise laboratorial da Embrapa. Os resultados mostraram que houve diferença significativa no índice de acidez, de 20 mg KOH/g (hidróxido de potássio/grama) a 4,0 KOH/g, entre amostras da prensa antiga e amostras da prensa nova, respectivamente. O óleo extraído na nova prensa apresentou melhor qualidade e também proporcionou ergonomia superior para as mulheres extratoras desta comunidade.

A Embrapa contou com a parceria do IEB nas ações de fortalecimento da organização dos extratores e no apoio à gestão do empreendimento, bem como na compra de materiais como chapa de inox para compor as prensas, material fundamental para a implantação das boas práticas disseminado.

Ana Claudia destaca que o baixo custo da tecnologia e sua adequada adequação à realidade dos usuários são aspectos decisivos para a eficácia da tecnologia. “Também é importante considerar as condições da comunidade. Por exemplo, a falta de energia elétrica, saneamento e internet são fatores que limitam o trabalho da equipe de pesquisa, e isso deve ser considerado na geração da tecnologia. Além disso, os saberes tradicionais dessas comunidades devem ser levados em conta e, sobretudo, respeitados”, enfatiza.

Comunidade de Limão do Curuá

Limão do Curuá é uma das 50 comunidades do Arquipélago do Bailique, distrito do município de Macapá caracterizado como território de populações tradicionais adaptadas e dependentes de ecossistemas naturais para sua reprodução cultural e socioeconômica. O meio de transporte para chegar a essas ilhas é a hidrovia, e os barcos de linha não possuem dia e horário fixos de partida e chegada, pois dependem do regime de marés do rio Amazonas. Isso influencia no tempo de viagem, que pode variar de 12 a 18 horas de Macapá até a Vila Progresso (sede administrativa do Bailique), ou de 6 a 8 horas até a comunidade de Limão do Curuá.

Há registros de que os primeiros habitantes chegaram a esta comunidade por volta de 1819, quando a ilha chamada Curuá ainda nem existia. A comunidade foi formada às margens do rio Curuá e atualmente é formada por 70 famílias, que vivem basicamente do manejo do açaí, pesca artesanal, pesca de camarão e extração do óleo de pracaxi, segundo levantamento do pesquisador João Freitas , do Instituto Estadual de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (Iepa).

Atuação feminina na extração do óleo de pracaxi

A extração do óleo de pracaxi é uma prática associada às mulheres ribeirinhas de comunidades da Amazônia. Com o objetivo de demonstrar essa atividade como ferramenta de protagonismo feminino de Limão do Curuá, além de auxiliar na organização comunitária das mulheres extrativistas e na capacitação para o desenvolvimento da cadeia produtiva do óleo de pracaxi, a então estudante de Engenharia Florestal Isabelly Ribeiro Guabiraba desenvolveu seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em contato direto com essa comunidade. Ela constatou que o grupo de mulheres extrativistas vem aprimorando as práticas de extração do óleo de pracaxi de forma autônoma.

“Essas mulheres estão sempre em busca de conhecimento e novas tecnologias para aumentar a qualidade de seus produtos”, observou Isabelly, que mergulhou na rotina das extrativistas da Associação de Mulheres Extrativistas de Limão do Curuá (Amelc). Ela acrescentou que é claro que esta atividade pode se consolidar como um dos principais exemplos de empreendedorismo feminino no Arquipélago do Bailique, dinamizando a economia da biodiversidade amazônica.

A valorização desse produto extraído da comunidade ribeirinha do Bailique deve estar associada ao trabalho dessas mulheres, à pureza e qualidade do óleo, à origem das sementes e aos serviços ecossistêmicos intrínsecos a um sistema de produção que conserva as florestas estuarinas e conhecimento.



Fonte: Agro

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