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As primeiras cultivares de pequi sem espinhos são lançadas no mercado

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Foto: Fabiano Bastos/Embrapa/Divulgação

A Embrapa Cerrados e a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO) lançaram, em Goiânia, seis cultivares de pequi – três com espinhos no endocarpo (semente) e três sem espinhos. É a primeira vez que cultivares de uma frutífera nativa do Cerrado são lançadas. Os novos materiais aliam alta produtividade e qualidade da celulose, atendem às necessidades de agroindústrias e consumidores e contribuem para a preservação das espécies.

“Chegamos a esse resultado com muito trabalho, esforço, ciência e tecnologia”, afirma o pesquisador Ailton Pereira, da Embrapa Cerrados. Foram 25 anos de pesquisas e trabalhos em parceria, realizados pelas duas instituições, com a participação dos produtores.

As cultivares foram cadastradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para cultivo em pequena escala na região de Goiânia e em outras localidades com condições edafoclimáticas semelhantes, por meio de avaliações prévias. A partir de agora, os produtores rurais poderão plantar pequizeiros em pomares comerciais, utilizando um sistema de produção adequado, com garantia de uniformidade, qualidade, precocidade e produtividade.

diversificação genética

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“Lançamos seis cultivares ao mesmo tempo pela necessidade de diversificação genética no plantio”, esclarece Pereira. Segundo ele, o objetivo era incentivar a fertilização cruzada e aumentar a produção de frutos. “É também uma medida preventiva contra futuras doenças ou pragas. É uma estratégia que deve ser adotada para minimizar o risco fitossanitário”, alerta.

Com o lançamento das variedades sem espinhos, o consumo dessa fruta de aroma e sabor marcantes, que faz parte da culinária e da cultura regional, principalmente em Goiás, Minas Gerais, Tocantins e Distrito Federal, deve aumentar, na opinião do pesquisador.

Além de evitar acidentes no consumo e manuseio do produto, essa característica favorece a mecanização do processo de extração da polpa e facilita o acesso à amêndoa. “Outra vantagem do pequi sem espinhos é que sua polpa tem um sabor mais suave, o que com certeza vai agradar o público que hoje resiste ou até se recusa a consumir a fruta”, acredita.

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Foto: Divulgação

histórico de busca

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As pesquisas voltadas para o cultivo do pequi começaram no final da década de 1990 com estudos de produção de mudas por sementes (propagação sexuada) e por reprodução vegetativa (propagação assexuada). “Coordenamos o primeiro projeto relacionado à propagação do pequizeiro. Naquela época, havia muita demanda, principalmente da agricultura familiar. Porém, os agricultores não conseguiram plantar, porque o pequi, assim como outras espécies do Cerrado, tem problema de germinação”, explica a pesquisadora Elainy Pereira, da Emater Goiás.

O trabalho de multiplicação começou, então, a partir da propagação sexuada (por semente), inicialmente para atender agricultores que buscavam essencialmente recuperar áreas degradadas. “Foi preciso, antes de tudo, desenvolver tratamentos para superar a dormência do pequi e assim aumentar a porcentagem de germinação. Em seguida, foram realizados estudos relacionados a substratos, adubação, pragas e doenças; tudo isso buscando produzir uma boa muda.”

Porém, segundo o especialista, as plantas resultantes da propagação sexuada apresentam alta variabilidade genética, o que é desejável quando o plantio é feito para recuperação ambiental, mas não para a formação de pomares comerciais. “Foi então que decidimos que teríamos que fazer clones”, disse o pesquisador. Segundo ela, dessa forma, ao identificar uma planta com as características consideradas ideais, seria feita a clonagem para que as demais fossem idênticas à planta-mãe.

Assim, os pesquisadores desenvolveram o método mais adequado de propagação assexuada. “Existem vários tipos, mas o que mais se encaixou, nesse caso, principalmente pela simplicidade, foi a enxertia (por placas de borbulhamento)”, explica o pesquisador Ailton Pereira. Segundo ele, essa fase da pesquisa serviu de base para o que viria depois. “Dominada a técnica de propagação, conseguimos garimpar o Cerrado em busca de matrizes nobres de pequizeiro para clonar e montar uma coleção funcional para fins de melhoramento genético.”

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prospecção de pequizeiros

Com isso, os pesquisadores começaram a prospectar pequieiros na natureza, para que fossem introduzidos em instituições de pesquisa e, assim, avaliados. “A participação do agricultor nesta etapa foi fundamental. Muitos nos procuraram dizendo que tinham muitos pequizeiros, mas poucos eram bons e que queriam ‘descruzar’ (multiplicar) os considerados melhores, para não se perderem. Depois íamos até a propriedade, clonamos a planta, deixamos as mudas para o produtor e trazemos outras para plantar em nossos campos experimentais”, detalha Elainy Pereira. “Percorremos mais de sete mil quilômetros em busca desses bons pequis”, disse Aiton Pereira.

O trabalho de avaliação e seleção dessas seis variedades que estão sendo lançadas teve como base os bancos de germoplasma (coleção de diferentes acessos ou genótipos da espécie) implantados na Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), e na Emater Goiás, em Goiânia e em Anápolis (GO). Em Goiânia, o sítio de 10 hectares abriga mais de mil plantas com diferentes características e foi montada a partir de genótipos produzidos na Embrapa Cerrados, por meio de sementes e mudas, e outros selecionados na natureza.

As avaliações genéticas para seleção de clones avançados continuarão em novas áreas nas estações experimentais da Emater Goiás, em Anápolis e Porangatu (GO), e no campo experimental da Embrapa Cerrados. O objetivo é validar os dados da pesquisa e dar continuidade ao processo de seleção de novos cultivares geneticamente superiores e sua recomendação para diferentes regiões do Cerrado.

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“70 clones de pequi com espinhos e 30 sem espinhos serão testados na Embrapa Cerrados. A implantação do experimento será ainda em 2022 e a previsão é que a produção comece em três anos”, afirma o pesquisador Carlos Lazarini, responsável pela condução do trabalho.

árvore símbolo do cerrado

Fruto nativo do Cerrado, o pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.) é a árvore símbolo do bioma. É encontrada em quase toda a região Centro-Oeste do Brasil e em parte das regiões Sudeste, Norte e Nordeste do país. O pequizeiro é uma espécie arbórea pertencente à família Caryocaraceae. A frutificação ocorre entre outubro e março e é colhida quando os frutos maduros caem no chão.

Muitas famílias, principalmente os pequenos agricultores, geram renda com a venda das frutas que são colhidas no campo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a extração de pequi no Brasil em 2021 foi de mais de 74 mil toneladas, sendo Minas Gerais responsável por mais da metade da produção nacional. Esses números, porém, podem ser ainda maiores, já que a maior parte da fruta é vendida no mercado informal.

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Pequi na culinária regional

O pequi pode ser servido puro ou como ingrediente de outros pratos salgados e doces. Arroz e frango com pequi não podem faltar no cardápio regional. A fruta também é utilizada na agroindústria em produtos como conservas, molhos, licores, sorvetes e picolés.

Da Embrapa Cerrados

Fonte: Agro

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