Torrefador reconhece sustentabilidade da cafeicultura brasileira e diz que mais de 70% dos cafés recebidos em 2022 superaram expectativas de qualidade
“Sobre a área desmatada, não acho que deva ser um problema para os cafés no Brasil”, disse Andrea Illy – presidente da illy café, sobre as novas regras de importação da União Europeia, em entrevista coletiva concedida na manhã desta quinta-feira ( 2) em São Paulo.
Há mais de 30 anos, a illy é uma das principais compradoras de café do Brasil. Em uma agenda recente pautada não só na qualidade, mas também na sustentabilidade, a empresa está atenta às práticas adotadas pelos produtores brasileiros e também às novas regras de importação da UE.
Andrea destacou que as novas leis fazem parte de uma estratégia adotada pela Europa para acompanhar a fase de transição ecológica que está acontecendo naturalmente com a economia global.
“É o caminho do não sustentável para o sustentável. Já aconteceu com alguns herbicidas e tudo mais. Sobre as áreas desmatadas, não acho que deva ser um problema para o Brasil. Aqui você tem 2 milhões de hectares de café e ainda tem muita terra que ainda pode ter café sem desmatar, o Brasil tem reservas para aumentar sua produtividade”, afirmou.
O porta-voz também destacou que todas as pontas da cadeia do café podem ajudar a resolver futuros impasses. “Existem áreas desmatadas nas origens, mas não está claro onde estão essas áreas. A Organização Internacional do Café (OIC) pode ajudar a resolver esses problemas. É um processo legislativo um tanto complexo, típico da União Européia”, afirmou .
Nos últimos anos, a illy tem focado o trabalho em avançar com a agricultura regenerativa nas áreas de café. Nesse sentido, o foco é fazer a transição da cafeicultura tradicional para a cafeicultura regenerativa, contemplando a vegetação e o solo. A prática já vem sendo adotada por produtores de café nas principais regiões do país.
“O Brasil é um ponto muito importante e do ponto de vista da biosfera, é o país mais importante do mundo”, afirmou. O empresário comentou ainda que a illy continua investindo em muita pesquisa para que a transição entre os modelos de produção seja efetiva. “Nada dito é linear, tudo isso precisa ser estudado e é isso que estamos fazendo”, afirmou.
Qualidade dos cafés brasileiros
Pelo menos 50% do café comprado pela illy no mundo vem de plantações brasileiras. Responsável por uma das premiações mais tradicionais da cafeicultura, a torrefadora também reconhece que os cafeicultores do Brasil estão cada vez mais comprometidos com a qualidade, principalmente após anos de desafios climáticos.
Prova disso é que os números atuais da illy mostram que mais de 70% dos cafés recebidos pela torrefadora atendem à demanda por cafés de alta qualidade, tornando a concorrência cada vez mais acirrada.
“Nos sentimos muito positivos e tivemos dificuldades em selecionar os 40 finalistas e depois os primeiros colocados, é muito difícil. Temos uma equipe de análise muito qualificada que cuida dessa dificuldade de selecionar a qualidade do café. mais dificuldade, felizmente”, finaliza illy.
Histórico
O acordo que impede a importação de commodities ligadas ao desmatamento foi assinado em dezembro. Em 13 de setembro de 2022, o Parlamento Europeu já havia aprovado as novas regras, que agora também foram aceitas pelo executivo. Segundo informação divulgada pela Comissão Europeia, uma vez adotada e aplicada, a nova lei vai garantir que um conjunto de bens essenciais colocados no mercado da UE deixe de contribuir para a desflorestação e degradação florestal na UE e noutras partes do mundo.
Vale lembrar que as novas regras de importação podem afetar as compras de soja, café, carne bovina, cacau, madeira e óleo de palma. Produtos derivados e manufaturados, como chocolate, papel impresso e móveis, também devem ser incluídos.
+ Além da Europa, exportadores de café do Brasil também acompanham possíveis mudanças nas importações dos Estados Unidos
novas regras de due diligence para empresas
O novo regulamento estabelece fortes regras obrigatórias de due diligence para empresas que desejam colocar produtos relevantes no mercado da UE ou exportá-los. Os operadores e comerciantes terão que provar que os produtos são livres de desmatamento (produzidos em terras que não foram sujeitas a desmatamento após 31 de dezembro de 2020) e legais (em conformidade com todas as leis relevantes aplicáveis em vigor no país de produção).
As novas regras exigem que as empresas coletem informações precisas sobre as áreas de produção agrícola. O descumprimento pode resultar em multas e até no impedimento das vendas para a União Europeia.
“O acordo político de hoje sobre a lei de desmatamento da UE marca um importante ponto de virada na luta global contra o desmatamento. Ao fazermos a transição verde na União Europeia, também queremos garantir que nossas cadeias de valor também se tornem mais sustentáveis. O desmatamento é uma tarefa urgente para esta geração e um grande legado a ser deixado para a próxima”, disse Frans Timmermans, vice-presidente executivo do European Green Deal à publicação da Comissão Europeia na época.