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Agronegócio até 2023 em três pontos: produtividade, inovação e…

    Agronegocio ate 2023 em tres pontos produtividade inovacao e

    O ano de 2023 promete ser um período de crescimento para todos os envolvidos com o agronegócio. De acordo com previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em setembro, o PIB do campo deve crescer em média 11% ao longo do ano. Na avaliação do órgão governamental, o principal impulsionador dos negócios agrícolas será o aumento da produtividade vegetal e da produção de proteína animal. Culturas como cana-de-açúcar, soja, café e milho prometem apresentar aumento médio de produção de 13,5%, o que representaria a retomada do desenvolvimento agrícola brasileiro, fortemente abalado pelo conflito na Ucrânia e instabilidade política no país em 2022.

    Por outro lado, a nota técnica não leva em consideração a possível chegada de frentes frias, a ocorrência de secas e/ou incêndios no território brasileiro. De fato, o estudo projeta “o alinhamento perfeito” entre as condições climáticas, políticas e de mercado internacional para a expansão do agronegócio, o que significa que podemos chegar a meados de 2023 com mudanças nas condições do jogo. Dessa forma, reunimos três grandes inovações, práticas e mentalidades que já fazem parte do agronegócio e certamente se consolidarão nos próximos meses, independentemente do contexto externo, implicações políticas ou mudanças climáticas.

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    1 Tecnologia de ponta na agricultura: 5G, IoT e outras ferramentas

    Ao longo de 2022 e, antes disso, durante a pandemia, duas tendências se consolidaram no meio agrícola: a tecnologia de ponta e a introdução da 5ª geração de telecomunicações, também conhecida como 5G. É claro que nem todas as empresas ou produtores conseguiram adotar essas inovações da mesma forma. Não é à toa, de acordo com o estudo Agricultura Digital Brasil, 2020, a principal tecnologia utilizada pelas fazendas e unidades produtivas é a internet disponível nos celulares.

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    Para piorar a situação, o Relatório de redes móveis, elaborada e apresentada pelo Senado no primeiro semestre de 2022, aponta grandes desafios para a implantação das tecnologias 3G e 4G no contexto rural. Segundo o parecer, no cenário mais otimista seriam necessárias 4.440 novas antenas para ampliar a cobertura de telecomunicações no território brasileiro. O estudo não detalha quais seriam os custos, nem quanto tempo levaria para o Poder Público introduzir transformações na infraestrutura, e considera que o investimento tem potencial para gerar um aumento de 4,5% no PIB anual do agronegócio, ou cerca de R$ US$ 47,5 bilhões.

    Ou seja, não há nada concreto na influência dessas tecnologias para a maioria dos estabelecimentos rurais, visto que a maior parte dessas inovações, transformações e atribuições tecnológicas estão concentradas nas mãos de famílias e produtores que tradicionalmente sempre tiveram acesso facilitado às novidades. Por outro lado, embora essas inovações não tenham chegado ou se consolidado na maioria das fazendas, sua presença tímida vem transformando a cultura do agronegócio, principalmente entre os pequenos e médios agricultores e pecuaristas.

    De acordo com 8ª Pesquisa da ABMA Hábitos Produtor Rural, realizado pela Associação Brasileira de Comercialização Rural e Agro em 2021, apesar da falta de infraestrutura, houve uma democratização do acesso à internet no campo. Mesmo com a conexão centralizada em smartphones ou computadores, 76% dos entrevistados utilizam o ambiente virtual para fazer negócios, pesquisar tecnologia e se atualizar sobre as novidades do mundo e do universo agro. Assim, nos últimos anos, agricultores e pecuaristas têm buscado entender a nova dinâmica do mercado de grãos e comercialização de proteínas a fim de se preparar internamente para a modernização dos negócios.

    Tanto que, segundo levantamento da Berg Insight, Consultoria independente, durante 2020, o investimento global em agricultura de precisão (representada por drones, máquinas inteligentes, Big Data e outras inovações de serviços em nuvem) foi de cerca de € 2,7 bilhões, além de financiamento para soluções proprietárias de rápido crescimento, como geolocalização, automação de alguns máquinas agrícolas e, em casos raros, a implementação da Internet das Coisas (IoT) superou barreiras sociais e alcançou produtores nos quatro cantos do globo. Ainda de acordo com o levantamento, a tendência é que esse mercado cresça 7% ao ano, proporcionando mais produtividade a todos os envolvidos na cadeia.

    Para se ter uma ideia, no Brasil, segundo o Radar Agtech Brasil 2022, painel interativo que reúne fintechs do mundo agrícola, mais de 40% das agro startups apresentam soluções voltadas para a otimização de safras e aumento da produtividade na agricultura. Assim, há uma grande demanda de pequenos, grandes e médios agricultores e pecuaristas pela adoção dessas ferramentas e técnicas, que será cada vez mais acentuada.

    2. Soluções fora da caixa (de-banking, mudança na cultura organizacional, soluções fintech)

    Em linha com as inovações preconizadas pelas agtechs, um grande segmento de serviços fora de casa, ou seja, antes do período de plantio e da época da colheita, tomou conta do mercado do agronegócio e democratizou o acesso ao crédito de forma horizontal. Não é por acaso que o esforço dessas startups, na jornada de capacitação dos produtores rurais, rendeu o Plano Safra deste ano (edição 2022|2023) disponibilizam R$ 340,8 bilhões para a agricultura e pecuária, um aumento de mais de 36% no valor ofertado em relação à última edição.

    Entre as novidades disponibilizadas pelas empresas do segmento estão soluções em fertilizantes, análises laboratoriais de exemplares e plantas e, principalmente, ferramentas de crédito, permuta e financiamento de safras. Este último ponto tem sido um divisor de águas no agronegócio e, talvez, um dos principais focos de desenvolvimento do setor para pequenos e médios agricultores. De acordo com dados de Relatório de Bolso AgTech 2022, divulgado pela startup de inovação Distrito em junho, entre 2017 e 2022, as agritechs tiveram um salto de investimento em torno de 600%, com destaque para 2021, em que as empresas agrícolas receberam investimentos de U$ 109,2 milhões.

    Um dos principais responsáveis ​​pelo aumento dos números e pela democratização do cenário do crédito agrícola foi a aprovação de dois dispositivos legais: a Lei 13.986/2020 e a Lei 1.104/2022 — denominadas, respectivamente, Lei do Agro 1 e 2 — que não apenas ampliaram o leque de opções para os produtores rurais assinarem contratos de financiamento, além de facilitar a entrada de novas instituições financeiras no mercado. Nesse contexto de mudanças no cenário agrícola, o programa governamental AgroHub, criado e disponibilizado pelo Governo Federal em 2022, tem como objetivo reunir todas as iniciativas público-privadas em uma única plataforma, onde investidores e produtores poderão conhecer, analisar e participar de discussões que traçarão novas oportunidades para os participantes do cadeia do agronegócio.

    Porém, nada disso seria possível se as unidades produtivas não tivessem investido na transformação de sua cultura organizacional. De fato, uma pesquisa realizada pelo Fundação Dom Cabral com cerca de 200 entrevistados, apontou que mais da metade das famílias entrevistadas já realiza planejamento sucessório gerencial — muitas vezes para a mesma família. No entanto, apenas 7% dos produtores afirmam investir na criação de um conselho constituinte, apesar de já acreditarem no potencial produtivo da mentalidade empreendedora. Na avaliação dos pesquisadores que elaboraram o estudo, a tendência é que medidas governamentais voltadas para boas práticas sociais, culturais e de transparência sejam os próximos passos para o pleno desenvolvimento do agronegócio, que tem suas raízes na gestão familiar.

    3. Consolidação da mentalidade ESG

    Por fim, mas não menos importante, as práticas ESG (ligadas à governança ambiental, social e corporativa) estarão cada vez mais presentes no cotidiano de agricultores, pecuaristas e aquicultores de todo o país. Seja para aumentar as oportunidades de negócios e revitalizar o agromercado, seja para mudanças drásticas no funcionamento do mercado internacional em 2023. No dia 6 de dezembro, o Conselho e o Parlamento Europeu aprovaram um resolução que proíbe a entrada de commodities produzidas em áreas desmatadas ou, com indícios de crimes ambientais, após 31 de dezembro de 2021. Embora o texto final ainda precise do aval de ambas as casas, as fazendas de café, soja e algodão, bem como propriedades de corte de animais devem estar atentos às novas exigências.

    Em suma, o que cada vez mais será exigido dos produtores rurais serão os chamados “selos verdes” ou “certificados de boas práticas” que garantirão o livre trânsito de produtos e ferramentas entre os países. Por outro lado, a mentalidade ESG, especialmente a sigla “E”, pode trazer uma série de benefícios para empreendedores rurais e investidores agrícolas em todo o país. Segundo levantamento da agência Bloombergações baseadas em sustentabilidade ecológica, governança transparente e preocupação social movimentaram mais de US$ 41 trilhões em fundos verdes ao redor do globo, principalmente para a recuperação de biomas e unidades produtivas.

    Oportunidade de negócio ou obrigação de sobrevivência? Só o tempo dirá qual será o lema adotado pelo produtor nacional nos próximos anos. Com o tempo, uma coisa fica clara: a mentalidade ESG é a melhor forma não só de ampliar a presença no mercado, mas também a melhor estratégia para aumentar a produtividade e consolidar a presença do agronegócio brasileiro como líder incontestável no cenário global. De acordo com uma pesquisa recente do Embrapa, com base nos Cadastros Ambientais Rurais (CARs), o país já possui áreas de preservação em cerca de 25% de todas as propriedades rurais e, mesmo com esse grande número, está entre as três maiores nações agrícolas do mundo. Ou seja, as correntes sustentáveis ​​que sopram da Europa podem representar o sopro transformador dos campos brasileiros no celeiro do mundo e no moinho do progresso global.

    Em resumo, 2023 será um ano repleto de oportunidades e desafios para todos os segmentos da grande roda agrícola brasileira. À medida que os novos atores assumem seus cargos e as engrenagens da máquina agrícola são lubrificadas, teremos um terreno fértil para o desenvolvimento de culturas, comportamentos e, principalmente, práticas que serão benéficas a todos os participantes de mais um círculo virtuoso no campo .

    Gustavo Foz é CEO e co-fundador da Culttivo, startup que garante financiamento 100% online para produtores de café em um prazo muito menor do que os bancos tradicionais. prazo muito mais curto do que os bancos tradicionais.



    Fonte: Noticias Agricolas