CHICAGO, 15 Fev (Reuters) – A gripe aviária atingiu novos cantos do globo e se tornou endêmica pela primeira vez em algumas aves selvagens que transmitem o vírus a aves domésticas, de acordo com veterinários e especialistas em doenças, que alertam há um ano. problema redondo.
A Reuters conversou com mais de 20 especialistas e agricultores em quatro continentes, que disseram que a prevalência do vírus na natureza sinaliza que os surtos recordes não diminuirão em breve nas fazendas, aumentando as ameaças ao suprimento mundial de alimentos. Eles alertaram que os agricultores devem ver a doença como um risco grave durante todo o ano, em vez de concentrar os esforços de prevenção durante as estações de migração de pássaros selvagens na primavera.
Surtos do vírus continuaram na América do Norte e do Sul, Europa, Ásia e África, invicto pelo calor do verão ou pelo frio do inverno, desde que uma cepa chegou aos Estados Unidos no início de 2022 geneticamente semelhante a casos na Europa e na África. Ásia.
Os preços dos ovos atingiram recordes depois que a doença eliminou dezenas de milhões de galinhas no ano passado, colocando uma fonte básica de proteína barata fora do alcance de alguns dos mais pobres do mundo em um momento em que a economia global está sofrendo com a inflação crescente.
As aves silvestres são as principais responsáveis pela disseminação do vírus, segundo especialistas. As aves aquáticas, como os patos, podem transmitir a doença sem morrer e apresentá-la às aves por meio de fezes contaminadas, saliva e outros meios.
Os melhores esforços dos fazendeiros para proteger seus rebanhos estão falhando.
Nos Estados Unidos, a Rose Acre Farms, a segunda maior produtora de ovos do país, perdeu cerca de 1,5 milhão de galinhas em seu local de produção no Condado de Guthrie, Iowa, no ano passado, embora qualquer pessoa que entrasse nos galpões fosse obrigada a tomar banho primeiro para remover quaisquer vestígios de o vírus, disse o presidente-executivo Marcus Rust.
Uma fazenda da empresa em Weld County, Colorado, foi infectada duas vezes em cerca de seis meses, matando mais de 3 milhões de frangos, disse Rust. Ele acha que o vento soprou o vírus dos campos próximos onde os gansos defecaram.
“Fomos pegos”, disse Rust. “Você só puxa o cabelo para fora.”
Os Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Japão estão entre os países que sofreram perdas recordes de aves no ano passado, deixando alguns produtores sem recursos.
“A gripe aviária está acontecendo mesmo em uma nova fazenda com equipamentos modernos e sem janelas, então tudo o que podemos fazer agora é rezar a Deus para evitar um surto”, disse Shigeo Inaba, que cria frangos para carne na província de Ibaraki, perto de Tóquio.
As aves de capoeira no Hemisfério Norte eram anteriormente consideradas de maior risco quando as aves selvagens estão ativas durante a migração da primavera. Os níveis crescentes do vírus em uma ampla variedade de aves aquáticas e outras aves selvagens significam que as aves agora enfrentam altos riscos durante todo o ano, disseram especialistas.
“É uma nova guerra”, disse Bret Marsh, um veterinário de Indiana. “É basicamente um relógio de 12 meses.”
Em um sinal de que a ameaça provavelmente persistirá, Marsh está buscando financiamento dos legisladores de Indiana para contratar um veterinário aviário adicional e um especialista em saúde aviária. Indiana perdeu mais de 200.000 perus e outras aves no ano passado, enquanto o total de mortes nos EUA chega a 58 milhões de aves, segundo dados do governo dos EUA, superando o recorde anterior estabelecido em 2015.
O vírus geralmente é mortal para as aves, e bandos inteiros são abatidos quando até mesmo uma ave dá positivo.
As vacinas não são uma solução simples: elas podem reduzir, mas não eliminar a ameaça do vírus, dificultando a detecção de sua presença no rebanho. Ainda assim, o México e a UE estão entre os que estão vacinando ou considerando vacinas.
PROBLEMA GLOBAL
Aves selvagens espalharam a doença mais e mais amplamente em todo o mundo do que nunca, provavelmente carregando quantidades recordes do vírus, disse Gregorio Torres, chefe do departamento de ciência da Organização Mundial de Saúde Animal, com sede em Paris, um grupo intergovernamental e global. . autoridade em doenças animais. O vírus mudou de surtos anteriores para uma forma que provavelmente será mais transmissível, disse ele à Reuters.
“A doença veio para ficar, pelo menos no curto prazo”, disse Torres.
Torres não pôde confirmar se o vírus é endêmico em aves selvagens em todo o mundo, embora outros especialistas tenham dito que é endêmico em certas aves em lugares como os Estados Unidos.
Embora o vírus possa infectar pessoas, geralmente aquelas que entram em contato com aves infectadas, a Organização Mundial da Saúde diz que o risco para humanos é baixo.
A forma circulante do vírus está infectando uma gama mais ampla de aves selvagens do que as versões anteriores, incluindo aquelas que não migram longas distâncias, disse David Suarez, diretor interino do Laboratório de Pesquisa de Aves do Sudeste do governo dos EUA na Geórgia.
Essas infecções de aves “residentes” estão ajudando o vírus a persistir ao longo do ano, quando não ocorria anteriormente, disse ele.
Os abutres negros, que habitam o sul dos Estados Unidos e evitaram a infecção anteriormente, estão agora entre as espécies que sofrem, disse David Stallknecht, diretor do Southeastern Cooperative Wildlife Disease Study da Universidade da Geórgia.
O vírus também infectou mamíferos como raposas, ursos e focas.
“Todos temos que acreditar em milagres”, disse Stallknecht, “mas realmente não consigo ver um cenário em que isso desapareça”.
CRUZANDO FRONTEIRAS
Altos níveis do vírus em aves como patos que migram longas distâncias ajudaram a espalhar o vírus para novas partes da América do Sul, disse Stallknecht.
Países como Peru, Equador e Bolívia relataram casos nos últimos meses.
O Equador impôs uma emergência de saúde animal de três meses em 29 de novembro, dois dias após a detecção do primeiro caso, disse o Ministério da Agricultura e Pecuária do país. Até agora, mais de 1,1 milhão de aves morreram, disse o ministério.
Casos na Bolívia aproximam a doença da gigante avícola brasileira.
“Todos estão focados em evitar que a gripe chegue ao nosso país”, disse Gian Carlos Zacchi, que cria frangos para o processador Aurora, em Chapecó, Santa Catarina.
Alguns especialistas suspeitam que a mudança climática pode estar contribuindo para a disseminação global, alterando os habitats das aves selvagens e as rotas migratórias.
“A dinâmica das aves selvagens mudou, e isso permitiu que os vírus que vivem nelas também mudassem”, disse Carol Cardona, especialista em gripe aviária e professora da Universidade de Minnesota.
Os agricultores estão tentando táticas incomuns para proteger os pássaros, alguns usando máquinas que fazem barulho para afugentar os pássaros selvagens, disseram especialistas.
Em Rhode Island, Eli Berkowitz, produtor de ovos e executivo-chefe da Little Rhody Foods, borrifou desinfetante Lysol em cocô de ganso em uma passarela de sua fazenda, para o caso de conter o vírus. Ele também limita os visitantes à fazenda, uma precaução mais tradicional.
Berkowitz disse que está se preparando para março e abril, quando a temporada de migração representará um risco ainda maior para as aves.
“É melhor você apertar o cinto e esperar pela vida”, disse ele.
Reportagem de Tom Polansek em Chicago. Reportagem adicional de Yuka Obayashi em Tóquio, Sybille de La Hamaide em Paris, Ana Mano em São Paulo e Alexandra Valencia em Quito; edição por Caroline Stauffer e Claudia Parsons
