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A agenda ESG na pecuária e seus benefícios para a sociedade • Portal DBO

    A agenda ESG na pecuaria e seus beneficios para a

    Foto: Divulgação

    Por Luís Eduardo Ferreira*

    Nos últimos séculos, assistimos a um crescimento vertiginoso da população mundial. Segundo dados do relatório sobre as perspectivas da população mundial projetado pela ONU (Organização das Nações Unidas), estima-se que até o ano de 2050 o número de habitantes do planeta poderá chegar a cerca de 10 bilhões.

    Paralelamente, haverá também aumento da demanda por itens básicos como água potável, alimentação, emprego, moradia, saneamento básico, energia elétrica limpa, educação de qualidade, saúde e bem-estar, mobilidade, cultura, tecnologia, entre outros . outras.

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    As pessoas, empresas, cidades e países estarão preparados para conviver com uma população deste porte?

    conceito ESG

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    Diante dessa situação, ligada às constantes mudanças e evoluções do mundo corporativo, o ESG consiste em um novo modelo de gestão adotado por diversas empresas como forma de adaptação a essas novas tendências.

    Os pilares que essa forma de gestão propõe e sustenta em sua pauta de discussão estão relacionados a temas focados em: meio ambiente (Meio Ambiente), Social (Social) e governança (Governança), que, em inglês, são as três letras iniciais da sigla ESG.

    O setor agropecuário é um dos principais responsáveis ​​pelo fornecimento de diversos tipos de commodities, insumos e derivados para a produção de alimentos diretos e indiretos.

    No mercado mundial, o Brasil se destaca por ser um dos principais exportadores de alimentos, o que beneficia a economia nacional, gerando milhões de empregos, além de contribuir para minimizar os efeitos negativos da fome e da pobreza no mundo.

    Dentro da cadeia produtiva da pecuária, a gestão ESG tem ocupado cada vez mais o centro estratégico das negociações, e atualmente é quase uma exigência que as empresas ligadas ao setor se adequem a essa tendência.

    Esta política é importante para atender às expectativas e interesses dos principais acionistas, que são seus próprios colaboradores, investidores, fornecedores, frigoríficos e clientes, nacionais e internacionais.

    De certa forma, estão envolvidos com o segmento pecuário, fiscalizando e cobrando responsabilidades ambientais, sociais e de governança das empresas ligadas ao setor.

    Pilar Ambiental

    Em definição, a sustentabilidade não consiste apenas em preservar os recursos naturais, mas também em usá-los e explorá-los de forma que respeite o equilíbrio da natureza, agregando valor e trazendo benefícios sociais de forma rentável.

    Dessa forma, ser sustentável é contribuir para o crescimento de todos os envolvidos e visar a melhoria da qualidade e das perspectivas de vida das gerações presentes, sem prejudicar as futuras.

    Nesse aspecto, o setor pecuário evoluiu significativamente nos últimos anos. Atualmente, podemos dizer que os avanços técnico-científicos já levaram a campo inúmeros novos conceitos e soluções relacionados à redução de áreas desmatadas e emissões de gases de efeito estufa.

    Entre as tecnologias implementadas estão aquelas ligadas ao melhoramento genético de animais e ao uso de dietas de precisão contendo ingredientes de origem vegetal com energia balanceada, podendo ou não competir com a alimentação humana.

    Paralelamente, a inclusão de suplementação mineral balanceada e aditivos naturais (sem uso de antibióticos promotores de crescimento), proporcionou redução no tempo de abate, aumento da eficiência produtiva por hectare, redução das emissões de gases de efeito estufa de origem entérica de animais e a melhoria da qualidade e segurança de derivados como carne e leite.

    Vale lembrar que grande parte do sistema de produção pecuária brasileiro é realizado a pasto (“gado capim”). Isso significa que, quando associadas a boas e corretas práticas de manejo, as emissões de gases entéricos dos animais podem ser compensadas por meio do metabolismo fotossintético da própria pastagem, que mitiga o dióxido de carbono (CO2).

    Assim, é possível considerar que as emissões de gases de efeito estufa tendem a ser totalmente neutralizadas, podendo até sequestrar ainda mais carbono da natureza, o que pode gerar créditos de carbono positivos para o pecuarista.

    Essa prática é chamada de “manejo carbono neutro” e foi calculada a partir de matrizes matemáticas desenvolvidas para associar as áreas de preservação e pastagem ao número de animais presentes na propriedade.

    Ainda dentro dos sistemas de manejo, destacam-se os avanços nos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que levaram a campo importantes métodos de preservação de matas, rios e nascentes e recuperação de extensas áreas de pastagens degradadas.

    Além disso, outras práticas têm contribuído para tornar a pecuária efetivamente sustentável, como o uso racional da água em toda a produção, a busca por fontes de geração de energia limpa, como energia solar ou biodigestores, e o uso de aditivos naturais que geram menos resíduos para o meio ambiente e minimizar os riscos quanto ao surgimento de resistência antimicrobiana.

    Diante dessas condições, o Brasil se posiciona como pioneiro no sistema produtivo sustentável, favorecendo a economia com a geração de empregos, renda e alimentos para a sociedade, de acordo com os ideais e conceitos propostos pelo modelo ESG.

    Pilar de Governança

    No pilar da governança, muitos churrasqueiros têm exigido ou dado preferência a negociações com criadores que possuam documentos que garantam a rastreabilidade dos animais em toda a cadeia produtiva.

    Esse mecanismo visa não apenas garantir a fiscalização em relação à qualidade do manejo sanitário, mas também avaliar se, em alguma fase do ciclo de cria, recria e engorda, o animal passou por propriedades que desrespeitam as leis relacionadas ao desmatamento ou à preservação ambiental , ou ainda , se foi abatido em locais que não seguem os protocolos de bem-estar animal (abate humanitário).

    Atualmente, atendendo a essas necessidades, a tecnologia denominada blockchain tem auxiliado o pilar de governança no modelo de gestão ESG, e muitos pecuaristas já começaram a adotar o sistema por demanda de alguns investidores e frigoríficos.

    Esse termo, que em português significa “cadeia de blocos”, visa acompanhar as operações realizadas ao longo do ciclo de vida dos animais do rebanho, desde o nascimento até a carne no prato do consumidor final. Nesse caso, é possível gerar rastreabilidade, transparência e confiança nos dados registrados dos animais ao longo da cadeia produtiva.

    Além disso, também é muito importante que as empresas apliquem regras de compliance (ética), tenham conselhos de administração com membros independentes, favoreçam a participação de mulheres e negros e ofereçam treinamento e qualificação para sua equipe corporativa.

    Pilar Social

    No pilar social, muitos pecuaristas têm respeitado principalmente as populações que vivem no entorno de sua propriedade, como carentes, indígenas e quilombolas.

    Nesse caso, é preciso preservar as terras já destinadas a essas populações e, em alguns casos, oferecer-lhes emprego, educação, cultura, moradia e acesso ao sistema de saúde.

    Diante de toda a discussão aqui apresentada, podemos considerar o modelo de gestão ESG como uma inovação nos modelos de negócios para os próximos anos. No entanto, todo processo de inovação tende a ser uma prática disruptiva, pois precisa quebrar velhos paradigmas, como sistemas de gestão produtiva, que foram aprendidos de forma errada.

    Portanto, é preciso desaprender para depois reaprender, de forma mais consistente com os novos conceitos e métodos de produção alinhados ao modelo ESG.

    Muitos consumidores estão cada vez mais atentos às empresas que incluíram os pilares da agenda ESG em seus valores e propostas de gestão. Nesse sentido, muito se tem monitorado sobre a prática do “greenwashing”, que são aquelas empresas que apenas aparentam usar boas práticas ambientais, mas por trás delas negam qualquer uma delas.

    Conhecimento

    Portanto, alimentar o mundo de forma ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, de forma a atender os padrões de consumo que serão exigidos pelas próximas gerações, não é uma tarefa fácil.

    Para isso, é preciso investir em tecnologia, inovação e, principalmente, liderança por parte dos pecuaristas e todos os demais envolvidos na cadeia produtiva, para que se construa um posicionamento que permita mudanças de paradigmas por meio da ação disruptiva da ciência .

    Apesar de toda a evolução aqui apresentada, muitos desafios ainda precisam ser superados. Nesse sentido, é necessário que a sociedade conheça e compreenda os verdadeiros princípios holísticos do sistema pecuário moderno.

    Portanto, antes de tratar ou punir o setor como vilão e principal responsável pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas, é importante diferenciá-lo da pecuária ilegal, que consiste em práticas criminosas como desmatamento, garimpo, queimada, contrabando de madeira e especulação. terrenos imobiliários.

    Tais práticas não podem ser confundidas ou associadas à atividade pecuária profissional, que obedece a todos os preceitos ambientais e sustentáveis ​​que conciliam produção e conservação.

    * Luis Eduardo Ferreira é médico biomédico, PhD em Biotecnologia e analista de Pesquisa e Desenvolvimento da Premix

    Fonte: Portal DBO