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Poesia campestre – uma arte que transcende a erudição e fala diretamente à alma

    Poesia campestre uma arte que transcende a erudicao e

    Quem nunca ouviu essas histórias contada por nossos avós em forma de rimas e versos, que narravam a vida simples do homem do campo, suas relações e outras situações de seu cotidiano, isso mesmo, isso é poesia sertaneja.

    E confessa que você se emocionou ao ouvir, não é? No artigo abaixo, escrito por Edward Chaddad, do blog Vírus da Arte & Cia, você vai entender um pouco mais sobre essa arte que transcende a forma erudita da escrita e atinge diretamente o coração de todos aqueles que se identificam com a linguagem simples do cara. do acampamento.

    Para ilustrar esse assunto, escolhemos o artista Almeida Júnior, nascido em 1850, na cidade de Itú, interior de São Paulo, foi pioneiro em tratar o tema regionalista no cenário pictórico nacional. Ao rejeitar os estilos e técnicas tradicionais que prevaleciam em sua época, o artista trouxe para sua pintura personagens simples, anônimos de sua época e, sobretudo, representavam a vida no campo, o cotidiano das fazendas brasileiras.

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    E como bônus, ao final deste artigo, você poderá ouvir a poesia “O MARVADO”interpretado pelo jornalista e escritor, Lima Rodrigues, membro da Academia Paraupebense de Letras e apresentador do programa Conexão Rural.

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    a poesia caipira

    A poesia caipira é escrita no dialeto caipira, que imita o som das palavras, escritas como são ouvidas nas áreas rurais do interior de São Paulo, ainda que com graves erros de ortografia e gramática. Na verdade, escreve-se como se ouve, dentro do dialeto popular regional, que busca captar a deliciosa forma de expressar o caipirado do interior paulista, repleto de erros de português foneticamente assimilado e linguisticamente existente no seio do povo.

    Por conter tantas transgressões do vernáculo, os grandes gramáticos têm preconceito contra a poesia caipira, colocando-a nas camadas mais incultas, ligando-a à linguagem vulgar. Essa crítica é feita por aqueles que defendem intransigentemente a obediência incondicional às normas gramaticais.

    Cozinha Rural, 1895, Almeida Júnior

    Meu avô, que era um homem culto, escreveu peças de teatro e escreveu muitos poemas campestres, atendendo artistas de circos e teatros, principalmente, onde conquistou amigos que levaram a arte para a cidade mais intocada e solitária de São Paulo, viajando pelo interior, proporcionando alegria e diversão, demonstrando tristeza, falando das coisas do coração, do dia a dia do agricultor quase inculto, numa linguagem que eles entendiam e aceitavam devido às condições locais.

    É claro que existe uma variação do dialeto em todo o nosso país, dada a grande dimensão territorial, a formação cultural de cada região, sua origem baseada em diferentes raças e tribos, especialmente mestiças, e também nas classes sociais diferenciadas, com peculiaridades encontradas, difundidas e sustentadas ao longo do tempo, enfim, tantos fatores essenciais e coadjuvantes que impedem que seu dialeto, sua própria língua, fato social, seja totalmente escravizado pelos grilhões da gramática.

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    Há, inquestionavelmente, uma enorme colheita de variedades linguísticas que não podem ser censuradas e condenadas, insistindo nelas para impor as rédeas da linguagem urbana culta, em detrimento de um melhor sentido de comunicação que é a finalidade da linguagem. Essa ação vai contra a tradição da cultura popular, onde o dialeto é uma de suas manifestações.

    Não há colisão, de fato, entre o primeiro e o segundo, pois ambos se desenvolvem em seus próprios cenários. Não podemos ver na poesia caipira um desafio à linguagem culta, pois o dialeto não está subsumido por regras gramaticais, mas certamente faz parte da Língua que é, de fato, a síntese de todas as formas de expressão dos pensamentos, desejos e emoções dos um povo ou mesmo uma tribo.

    Este tipo de poesia graciosa e hilariante, muitas vezes emotiva e romântica, resultante dos sentimentos mais íntimos do sertanejo, presentes no seu quotidiano, a quem se dirige, fez e faz muito sucesso no meio artístico que lhe compreende o significado. Por isso, principalmente, no passado, foi muito utilizado em teatros, rádios e até, em seus primórdios, na televisão. Vejo em seu antagonismo uma preciosidade desnecessária, porque a língua culta é estranha até para as pessoas mais simples, onde se encontram os fatos do dialeto, fenômeno linguístico.

    A poesia caipira foi feita basicamente para ser recitada em teatros, festas juninas e em escolas. No fundo, é uma imitação da fala caipira, do povo do mato, que tinha pouco acesso à escola. Não deve ser entendido como uma forma de cultivar a desordem gramatical, mas, sim, entender que é retratar o contexto social, voltado para pessoas que falam dessa forma e, dessa forma, compreendem seu mundo, indiferente à beleza gramatical, mas consagrando a expressão da linguagem isolada de seu contexto maior, mas ligada ao seu mundo mais próximo do trabalhador rural.

    Nos meios literários, há quem a defenda da forma mais rude e grosseira, mas há quem pense em trazê-la ao gosto mais refinado dos cultos, longe das pessoas a quem foi endereçada. Assim, não podemos deixar de compreender que, no dialecto, e esta é a sua função essencial, existe uma variedade de expressões próprias de cada região, que não podem ser substituídas por estranhas, o que impediria uma melhor comunicação.

    Poesia campestre - uma arte que transcende a erudição e fala diretamente à alma 2

    Existe, portanto, preconceito contra esse tipo de poesia, embora haja muita arte nela, principalmente porque ela mostra, com expressões típicas das pessoas que viveram ou ainda vivem no meio rural, seus sentimentos, seu interior, suas alma. Há muita beleza nela, encantando quem é abordado, quem ri, acha graça e às vezes, segundo a letra, até chora. Em suma, um potencial artístico maravilhoso.

    Literatura é, acima de tudo, beleza. Mesmo com uma língua totalmente divorciada da gramática, a poesia caipira reflete os mais belos sentimentos de um povo trabalhador, simples, ingênuo e honesto. Há quem escreva esse tipo de poesia com apego ao melhor português, com letra bonita, amarrada numa língua culta, mas voltada para a cultura urbana, mostrando a beleza do sentimento e do comportamento dos nossos caipiras do interior de São Paulo. Mas esse tipo de poesia caipira, com linguagem culta, não pode ser entendida como verdadeira poesia caipira, desconsiderando o dialeto, pois jamais será compreendida pelo povo simples da região.

    A pseudopoesia caipira só tem, como elo com o verdadeiro, o pensamento caipira, construído com a palavra e a forma de expressão urbana, despida das expressões rurais, que não a revelam nua, na pureza de suas expressões do caipira variedade linguística. Assim, a verdadeira poesia caipira está simplesmente no quadro do confronto com as regras gramaticais, assim como com o dialeto, sem, no entanto, iludir a beleza da expressão. E um dos que escrevia esse tipo de poesia era meu saudoso avô, que procurava cantar em versos os sentimentos do fazendeiro brasileiro. Para ilustrar meu texto, segue um poema sertanejo, escrito por meu avô, J.Triste:

    O MARVADO

    Eu namorei o Sr Libório,
    Cumbinamos si casa…
    Mai, no dia do casamento…
    Que pena!… Onde ele está?

    Salto marvado Insperei!
    O juiz veio, a inscrição veio!
    Veja todos os convidados,
    Só que ele não viu, não!

    Virou sorvete!
    Ele tinha enlouquecido!

    Me mandando esse biete:
    – Mi adiscurpe…sou casada!…

    Para entender como deve ser lida, no contexto rural, ouça a poesia sertaneja “O MARVADO”, interpretada pelo jornalista Lima Rodrigues, membro da Academia Paraupebense de Letras:

    Lima Rodrigues
    Narrativa protagonizada pelo jornalista e escritor Lima Rodrigues, membro da Academia Paraupebense de Letras e apresentador do programa Conexão Rural.

    Por: Vicente Delgado -AGRONEWS®, com texto principal escrito por Edward Chaddad, do blog Vírus da Arte & Cia🇧🇷

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    Fonte: Noticias Agricolas