Para quem não consegue acompanhar as rápidas mudanças, é bom dedicar um tempo ao assunto e entender como é possível diversificar os produtos da fazenda, sempre com o foco na maior rentabilidade e sustentabilidade possíveis.
A Fazenda Caimbé, desde 2001 no Grupo Caimbé, de Paulo Rogério de Morais Machado, com três propriedades em Mato Grosso trabalhadas desde a década de 1980 é uma boa resposta, estruturada a partir da Integração Lavoura Pecuária (ILP) e do Boi Safrinha. As estratégias foram aprimoradas e a criação e engorda de gado tornou-se uma importante unidade de negócios.
Muitos devem se perguntar como sobreviver com um modelo tão tecnificado nestes tempos de vacas magras, o ciclo recorrente de preços baixos no gado de corte.
O que oferece saída é gestão e planejamento, enfim, contabilidade e afinação no custeio e investimento do imóvel (negócio). A explicação é de Franklin de Resende Mattei, supervisor de ILP e produtor rural.
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Com o ILP, são várias as oportunidades de aproveitamento das diversas áreas. Uma delas é a oportunidade do “boi safrinha” que, tecnicamente, se refere ao uso da forragem produzida em consórcio no verão com a finalidade de cobrir o solo e também alimentar o gado na estação seca (inverno).
É uma pastagem de curta permanência em um período em que normalmente ocorre déficit de forragem.
Um raio-x da propriedade – A agricultura é o carro-chefe do Grupo Caimbé, produzindo algodão, soja e milho.
A propriedade denunciada fica no município de Primavera do Leste e acabou sendo obrigada a realizar rotação de culturas, por meio do ILP, devido à queda brusca de produtividade ao longo dos anos e à infestação por nematóides.
Seu terreno é de composição mista, com áreas mais arenosas, o que dificulta o direcionamento para as lavouras de milho e soja. Caimbé tem um total de 15 mil hectares, dos quais 12 mil são agricultáveis.
Para realizar a rotação de pastagens, foi necessária a introdução de capim, única opção de cobertura vegetal; portanto, a melhor estratégia era aproveitar a forragem com a criação de gado. O que é certo é que atualmente de 3 a 5 mil hectares estão ocupados por pastagens de excelente qualidade.
Com o tempo, o trabalho com o gado tornou-se uma unidade de negócios autônoma, precisando produzir resultados como todas as outras lavouras. “Os animais estão aí para gerar resultado e não só porque o modelo de ILP pede ou até mesmo o sistema de rodízio”, explica Franklin. E tudo segue com um bom manejo, pois a entrada no pasto requer cercamento, abastecimento de água e instalação de bebedouros.
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Oportunidade com desperdício – Os subprodutos do algodão também fazem parte da dieta do gado, como caroço de algodão, capulho (resíduo da colheita, rico em fibras e que pode substituir a silagem) e torta de caroço (material resultante da extração do óleo, rico em fibras e proteínas).
tudo isso “acaba sendo muito interessante pelo preço, competitivo até com WDG e DDG, vindo da usinagem do milho para etanol”diz Franklin. Assim, o gado ganhou tamanho. Hoje a Caimbé trabalha com um volume de 10 a 12 mil cabeças/ano, abatendo de 7 a 8 mil animais no mesmo período.
O tempo de criação dos bezerros é de 15 a 16 meses, enquanto o tempo de confinamento é de até 4 meses. Isso significa que o gado está pronto antes dos 30 meses de idade. O sistema alcança o bônus “boi chinês”.
O sistema é fornecido na compra de bezerros machos, para agregar valor e maior facilidade de manejo. Eles descartaram a possibilidade de procriação, pelo mesmo motivo.
“A recria e a engorda são mais adequadas ao nosso sistema de produção”, diz o produtor. Há seis anos, quando tudo começou, era difícil achar um bom substituto, mas o perfil da região mudou e não é preciso caminhar mais de 300km para conseguir.
Pecuária com bons números – Quanto ao desempenho, bovinos em recria atingem ganhos diários de 400 a 500g. Na engorda, em dois modelos, em semi-confinamento de 1,3 a 1,4 kg/dia; em confinamento, 1,5 a 1,6 kg/dia.
Nesse sentido, a pecuária de corte da Caimbé deixou de ser uma estratégia e passou a ser uma importante resposta do Grupo. A rotação entre pastagem e lavoura ocorre a cada cinco anos.
Quando os animais vão embora, o plantio direto é feito com soja. Após a colheita, na estação chuvosa seguinte, é introduzido o algodão, permanecendo ali por dois anos. Mas este é um ciclo médio. O que determina de forma mais incisiva é a produtividade das lavouras agrícolas. Se cair muito, o ciclo pode cair para quatro anos. Se se mantiver, pode subir para seis anos.
Quando o Grupo implantou o ILP, o fez com o capim ruziziensis, avaliado como o mais adequado para a estratégia. Mas, ao longo das safras, foram testados o mavuno e a piatã, esta última respondendo muito bem pela resistência à seca, que hoje é predominante na fazenda.
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Resta o problema para o retorno da área à agricultura, já que sua estrutura radicular mais desenvolvida acaba dificultando o manejo. Porém, como o custo-benefício é quem manda, a obra continua com a piatã. Ainda existem cerca de 130 hectares dedicados à produção de silagem de miyagi ou mombasa.
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**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Do Campo**