FAZENDA MONALISA, UM MODELO DE RECONVERSÃO PECUÁRIA PARA O MUNDO – boiapasto.com.br

Legenda: Levy Cangussu, a cavalo, ladeado por seu filho, o veterinário Mauroni Cangussu e sua esposa, a agrônoma Glaucia Cangussu.

Por Marisa Rodrigues, editora do portal Boi a Pasto

Desde 2015, a Fazenda Monalisa, propriedade da família do veterinário Mauroni Cangussu, adquirida na década de 1980 por seu pai, o pecuarista Levy Cangussu, tornou-se um inspirador exemplo de sucesso na implantação de práticas sustentáveis. Ao se mudar para o Maranhão, após o trágico incêndio que deixou sua fazenda em Carlos Chagas, Minas Gerais, infértil por muitos anos, Levy Cangussu decidiu que nunca mais colocaria fogo em um pé de cana-de-açúcar, tão traumatizado ficou com os resultados obtidos pelo queimadas que se espalharam por seus pastos, devastando-os. Aliás, tal ação era comum na época, pois era uma tradição cultural que vinha dos índios Aimóres, quando se acreditava que depois das queimadas, seguidas das chuvas, as plantações brotavam lindas e fortes, eliminando o trabalho anterior. de capina ou gradagem. o mesmo.

Infelizmente, naquele ano, as chuvas demoraram a chegar, o que levou à devastação dos pastos e da própria fazenda, que viveu um cenário terrível de destruição, pois o rebanho ficou sem comida e morreu de fome. Levy Cangussu, com sua família, assistiu a uma verdadeira tragédia iniciada por suas próprias mãos, momento em que decidiu que era hora de mudar sua forma de encarar a agricultura e a pecuária. Inspirado pela lição aprendida, ele optou por nunca repetir o erro do passado e investir em práticas sustentáveis.

Legenda: Acima, diversas imagens do FML que demonstram a perfeita integração do rebanho com os pastos que crescem em meio à flora original, sem nenhum ponto de degradação, além de se beneficiar da sombra oferecida pelas árvores que permitem um clima bem mais ameno temperatura do que nas áreas externas da granja, proporcionando saúde e bem-estar em tempo integral aos animais.

Braço direito do pai, o pecuarista Mauroni Cangussu conta que a jornada de transformação da Fazenda Monalisa começou com uma busca incessante por conhecimento e parcerias. Ele lembra que assim que chegaram à região do Maranhão, em busca de expansão dos negócios, as terras que adquiriram tinham 900 hectares, porém, cerca de 700 hectares “eram verdadeiros campos de futebol”, como era comum referir-se a terras degradadas, tempo na região. O empresário não teve outra alternativa a não ser se envolver em pesquisas, participar de cursos e colaborar com especialistas em manejo sustentável e pecuária regenerativa, tanto do próprio Maranhão, quanto de diversas regiões do país, e até mesmo de diversas partes do mundo, como a Universidade Federal de São João Del Rey MG), o CIPAV, da Colômbia, Jaipur, Índia e até da Mongólia.

Toda esta dedicação levou-o a transformar a quinta do ML num laboratório vivo para o desenvolvimento de novas técnicas pecuárias, bem como a implementação de inovações tecnológicas na área, decidindo iniciar um processo de regeneração das pastagens e implementar a pecuária regenerativa. Segundo Mauroni, essa decisão foi motivada pela busca de um sistema que pudesse não apenas restaurar a saúde do solo, mas também preservar e melhorar o meio ambiente. Ele sabia que precisava desafiar a tradição da queima e encontrar uma maneira sustentável de administrar a terra. Obviamente, o processo de conversão de pastagens degradadas em terras férteis na Fazenda Monalisa exigiu tempo, paciência e planejamento cuidadoso. Começou com uma análise detalhada do solo, identificando suas deficiências e necessidades específicas. Com base nessas informações, o fazendeiro começou a introduzir uma variedade de técnicas e práticas de manejo sustentável.

A restauração da paisagem começou com a implementação de sistemas de rotação de pastagens. Mauroni dividiu a fazenda em várias áreas, permitindo que cada área se recuperasse enquanto outras eram utilizadas pelo gado. Isso evitou a superexploração e deu tempo para a regeneração da vegetação. Além disso, a veterinária introduziu espécies vegetais nativas e adaptadas à região, visando aumentar a diversidade vegetal e melhorar a qualidade do solo. Plantou leguminosas fixadoras de nitrogênio, como o feijão Guandu e a Leucena, capazes de enriquecer o solo e melhorar sua estrutura. “Essas plantas também fornecem forragem de alta qualidade para o gado”, diz ele.

O processo de regeneração das pastagens durou vários anos, pois as plantas nativas foram – gradativamente – brotando e se misturando à paisagem. Mauroni adotou uma abordagem holística, observando e respondendo às necessidades do ecossistema em constante evolução. A diversidade da vegetação aumentou significativamente, fornecendo uma base sólida para a restauração ecológica da fazenda. Com as pastagens em processo de recuperação, Mauroni introduziu a pecuária de ciclo completo na Fazenda Monalisa, quando o gado é criado de forma sustentável, seguindo princípios éticos e de bem-estar animal. “O rebanho tem acesso a pastagens saudáveis ​​e diversificadas, comendo naturalmente e se movimentando livremente”, explica o empresário.

É importante destacar que o sistema pecuário de ciclo completo envolve a criação do gado desde o nascimento até o abate, eliminando a necessidade de deslocamento dos animais para outras propriedades, o que reduz o estresse e contribui para o manejo sustentável da fazenda. O agricultor explica que a reintrodução do gado na área desempenha um papel importante no processo de regeneração, pois os animais ajudam a dispersar as sementes, provocando a fertilização natural do solo e a ciclagem de nutrientes. “O pastoreio controlado contribui para a manutenção da vegetação e estimula o crescimento saudável das plantas”, destaca.

O compromisso de Mauroni com a pecuária regenerativa e a restauração da Fazenda Monalisa trouxe resultados significativos ao longo do tempo. A paisagem degradada foi transformada em um ambiente biodiverso e saudável, com solos mais férteis e pastagens resistentes. A fazenda tornou-se um exemplo de sucesso na implementação da pecuária sustentável e é reconhecida como modelo por seu compromisso com a sustentabilidade global. A história da Fazenda Monalisa mostra que é possível reverter os danos causados ​​à terra e implementar práticas agrícolas que beneficiem tanto a produção de alimentos quanto o meio ambiente, tanto que se tornou um case de sucesso ao ser apresentado em uma das palestras promovidas pela Mauroni no exterior, durante a Global Sustentável, no Kansas em 2015. Não há dúvida de que Mauroni Cangussu empreendeu uma verdadeira jornada de herói quando decidiu transformar a FML no exemplo de pecuária regenerativa que é hoje, o que inspira outros agricultores e pecuaristas a adotarem abordagens sustentável em suas atividades, abrindo caminho para um futuro resiliente e regenerativo.

Legenda: Visita de estudantes de veterinária, agronomia e zootecnia da região, em dia de campo na Fazenda Monalisa. A propriedade está sempre aberta à recepção de produtores, pesquisadores, empresários, que vão até lá interessados ​​em conhecer de perto os benefícios da pecuária regenerativa na prática.

Fonte: Entrevista com o engenheiro e pecuarista Mauroni Cangussu, proprietário da Fazenda Monalisa