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Cultivo protegido de tomate sem solo obtém produtividade superior no Ceará

    Cultivo protegido de tomate sem solo obtem produtividade superior no

    As plantas foram cultivadas em vasos contendo substrato formado por fibra de coco fertirrigada com solução nutritiva.
    O cultivo pode ser realizado em qualquer época do ano e até mesmo em regiões com solos salinizados ou afetados por patógenos.
    Bons resultados foram obtidos com tomate cereja e tomate para salada.
    A técnica de cultivo promove maior eficiência no uso da água, menor uso de agrotóxicos e redução de mão de obra.
    A pesquisa beneficia um importante polo de produção de hortaliças do Nordeste, a região da Serra da Ibiapaba (CE).

    Um sistema de cultivo protegido de tomate desenvolvido pela Embrapa tem apresentado produtividade surpreendente na região da Serra da Ibiapaba, norte do Ceará. “O rendimento do tomate cereja foi de 166 toneladas por hectare por ano, levando em conta os dois ciclos de cultivo de 180 dias por ano. Os frutos produzidos eram de excelente qualidade, sendo comercializados na íntegra a preços superiores aos obtidos com tomates produzidos no sistema tradicional”, comenta o pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) Fábio Miranda. Ele considera os resultados bastante satisfatórios, pois são muito superiores à produtividade média de tomate da região (63 t/ha), além de gerar com boa aceitação no mercado. foram cultivados em sacos de cultivo (lajes), contendo substrato de fibra de coco, sendo avaliados diversos híbridos de tomate tipo salada, modos de condução das plantas e controle automatizado de irrigação. Os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento da produção de tomate em cultivo protegido e sem solo na região da Ibiapaba começaram em 2009.

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    pólo vegetal do nordeste

    Localizada na Serra da Ibiapaba, no norte do Ceará, Guaraciaba do Norte tornou-se um importante polo de produção de hortaliças da Região Nordeste. De acordo com a Pesquisa Agropecuária Municipal (PAM) 2020, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município apresentou o maior volume de produção do estado naquele ano, com R$ 286,1 milhões, seguido por duas cidades vizinhas: Tianguá ( R$ 229,7 milhões) e São Benedito (R$ 158,9 milhões).

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    A cultura do tomate tem um papel importante neste resultado. Em 2020, foram produzidas 59.250 toneladas no município, perdendo apenas para a cana-de-açúcar. Portanto, as pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, como o cultivo protegido do tomate sem solo, abrem perspectivas para que essa atividade se torne ainda mais sustentável, tanto econômica quanto ambientalmente.

    Em 2020, a Embrapa Agroindústria Tropical foi convidada por uma empresa produtora de mudas de hortaliças de Guaraciaba do Norte a firmar uma parceria com o objetivo de validar, em escala comercial, o cultivo protegido e sem solo de tomate cereja na região. Dois ciclos de cultivo do tomate cereja híbrido “Sweet Heaven” foram realizados em casa de vegetação de 2.500 m2 e em vasos contendo substrato de fibra de coco fertirrigado com solução nutritiva.

    Produção com maior controle e menos gastos
    No cultivo de tomate sem solo, as plantas crescem em vasos ou sacos de cultivo contendo um substrato. Suas necessidades hídricas e nutricionais são atendidas por meio de uma solução nutritiva. Materiais como fibra de casca de coco, considerada ideal para a região Nordeste, areia, vermiculita, casca de arroz carbonizada, casca de pinus e outros podem ser utilizados como substratos.

    Segundo Miranda, vários benefícios são esperados com a adoção da técnica: melhor controle da irrigação e nutrição, resultando em maior produtividade da lavoura; redução do uso de agrotóxicos (herbicidas, nematicidas, fungicidas e inseticidas); maior eficiência no uso de água e fertilizantes; obtenção de frutos mais uniformes, de maior qualidade e maior valor comercial; e redução de custos de mão de obra devido à eliminação ou redução de práticas culturais como capina e pulverização.

    Além disso, o cultivo pode ser realizado em qualquer época do ano e em locais com solos salinizados ou afetados por patógenos do solo, como nematóides, fungos ou bactérias. Na região da Serra da Ibiapaba, a colheita do tomate cereja ou salada produzido em substrato de fibra de coco inicia-se entre 55 e 60 dias após o transplante das mudas em vasos ou sacos.

    Dependendo das práticas culturais, estendem-se até 160 a 180 dias após o transplante, podendo ser feitos até dois plantios por ano. A produção comercial pode atingir cerca de 160 toneladas de tomate cereja por ha/ano ou 280 toneladas de tomate para salada por ha/ano.

    Proteção contra pragas e doenças

    A região da Serra Ibiapaba tem área estimada de cultivo de tomate em cerca de 1.800 hectares, segundo o IBGE. Segundo Lindemberg Mesquita, entomologista e pesquisador da Embrapa, o cultivo de tomate em campo aberto enfrenta sérios problemas com a incidência de pragas e doenças do solo, comprometendo a produção em várias propriedades. A solução tradicional tem sido a aplicação intensiva de defensivos químicos para manter a produção, com riscos ao meio ambiente e à saúde de trabalhadores e consumidores.

    Nos cultivos em casa de vegetação e sem solo, o uso de nematicidas e herbicidas é desnecessário; o uso de fungicidas pode ser reduzido em mais de 90% em relação ao cultivo em campo aberto. Mesmo assim, Mesquita ressalta a importância do monitoramento de pragas e doenças em cultivos protegidos. “Mesmo com todos os cuidados, algumas espécies de insetos ainda são encontradas dentro da estufa, e uma das formas de verificar a ocorrência de pragas é por meio do uso de armadilhas”, relata.

    Armadilhas com feromônios específicos são utilizadas para espécies como a traça do tomateiro (Tuta absoluta), a broca-do-fruto (Neoleucinodes elegantalis) e as armadilhas adesivas amarelas e azuis para mosca-branca (Bemisia tabaci, biótipo B), pulgões (Myzus persicae) e tripes ( Frankliniella schultzei e Thrips palmi).

    “Como resultado, registramos uma baixa infestação da praga. Há, no máximo, 3% de frutos atacados pela traça do tomate, o que é considerado um percentual baixo”, declara.

    João Victor de Souza Soares é estudante de Agronomia, mas já ajuda o pai no manejo do cultivo protegido. Cabe ao jovem acompanhar o monitoramento diário e semanal da presença de pragas no tomateiro. O resultado desse esforço tem sido gratificante. “Como o nome indica, cultivo protegido é uma cultura em que as plantas são protegidas, ou seja, a incidência de pragas será muito menor porque o ambiente é fechado. O inseto só entra se eu deixar as portas abertas ou se houver um buraco na tela da estufa. E, se ele entrar, fica muito mais fácil adotar o manejo integrado de pragas (MIP), ou seja, todas as medidas de controle que precisam ser tomadas”, descreve.

    “No cultivo tradicional, em campo aberto, existem muitas condições climáticas que afetam negativamente a produção, como mudanças no clima. O principal resultado da adoção do cultivo protegido é a possibilidade de um melhor planejamento do manejo, adotando as melhores medidas de controle, com foco no fruto. Com isso podemos economizar muito em relação aos gastos com agrotóxicos”, completa o produtor.

    Na propriedade onde trabalha, Soares realiza dois monitoramentos: um diário e outro semanal. “O monitoramento é um dos pontos mais importantes porque, a partir daí, você pode tomar sua decisão. Semanalmente, contamos o número de frutos e lagartas atacados nas folhas para ter uma ideia da eficiência dos produtos aplicados. Com base no monitoramento diário dos adultos através das armadilhas, tomamos medidas de controle e decidimos o período. A taxa de ataque é muito baixa. Além disso, o dano causado aos frutos foi muito superficial”, explica.

    Uma parceria de sucesso

    Produtor de tomate e proprietário da Estufa Timbaúba, localizada em Guaraciaba do Norte, Julião Soares trabalha com hortaliças desde 1995, após a morte de seu pai. “Ele cuidava do local e eu assumi a administração para continuar o trabalho dele. Começamos com pouco fluxo de caixa e preços instáveis. Nos primeiros três anos, tive muita frustração por causa disso. O começo foi muito difícil. quando começamos a adotar novas tecnologias como irrigação por gotejamento e telas, otimizando a produção”, comenta.

    Com a mudança para o cultivo em estufa, os tomates produzidos deixaram de ser os tradicionais para dar lugar a um tomate especial, conhecido como uva. A produção é vendida e levada para centros de abastecimento em Tianguá e Fortaleza, de onde segue para o consumidor final.

    Soares buscou apoio da Embrapa para dar um novo rumo ao seu negócio. Foi então que ele começou a adotar o cultivo abrigado e sem solo. “Antes antes plantavamos, a campo aberto, em grande quantidade de terra e com pouca produtividade. Vimos, depois de visitar feiras do setor, que seria possível plantar em um espaço mais compacto e com maior produtividade. chamou nossa atenção, deu certo”, conta o agricultor.

    Em abril deste ano, foi realizado um dia de campo na propriedade de Soares, na Estufa Timbaúba. Técnicos, produtores e estudantes puderam conhecer detalhadamente o sistema de produção.

    Antonio Albuquerque, coordenador de um curso Técnico Agrícola, levou seus alunos para conhecer a novidade. Ele destaca a importância do evento para a formação de jovens estudantes da região e para o desenvolvimento da cultura do tomate: “Esta é uma experiência que vai muito além da profissionalização dos jovens. Esperamos que isso mude a forma de produzir na Serra da Ibiapaba. Os tomates estão melhorando a vida do produtor, ao mesmo tempo em que estão conseguindo alavancar a formação dos nossos jovens.”

    O cenário do cultivo de tomate no Brasil e no Ceará

    Seja in natura ou processado, o tomate é uma das hortaliças mais consumidas no Brasil, podendo ser utilizado em molhos para massas, sucos e saladas. De acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado pelo IBGE em janeiro de 2022, entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022, foram produzidos 3,6 milhões de toneladas de tomate em uma área de 51,6 mil hectares.

    Nacionalmente, Goiás foi o estado com maior produção, com 971.432 toneladas. No Nordeste, a Bahia se destaca com 178.004 toneladas por ano. No Ceará, por sua vez, a produção de tomate atingiu 141.186 toneladas por ano. Embora tenha produzido menos, em números absolutos, o rendimento da produção versus área apresenta números favoráveis ​​para o estado.

    O LSPA ressalta a necessidade de cuidados permanentes com a lavoura, condição que o sistema de cultivo protegido oferece aos produtores. “Os tomates são muito sensíveis ao clima e seus frutos não permitem armazenamento prolongado, sendo sua oferta ajustada à demanda, pois é basicamente um produto destinado ao consumo doméstico. Dessa forma, qualquer problema climático nas áreas produtoras desencadeia grandes variações nos preços de comercialização.”, descreve a publicação.

    Conheça as principais pragas e doenças do tomateiro
    O controle de insetos e ácaros do tomateiro não se restringe ao controle químico ou biológico. A gestão eficiente é alcançada adotando-se as seguintes recomendações:

    Adote a rotação de culturas.
    Destrua os resíduos da colheita imediatamente após a colheita.
    Mantenha a cultura livre de ervas daninhas e outros hospedeiros de insetos e ácaros.
    Utilizar cultivares mais adaptadas à região.

    Confira quais são as pragas que mais afetam o cultivo do tomate:



    Fonte: Noticias Agricolas