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USP cria método que calcula potencial produtivo de solos agrícolas

    USP cria metodo que calcula potencial produtivo de solos agricolas

    Foto: Claudia Capeche/Embrapa

    Júlio Bernardes //Da Revista USP

    Pesquisadores da USP desenvolveram uma metodologia para calcular o potencial produtivo de solos agrícolas no Brasil. Com base em dados de características do solo em 70 mil amostras coletadas em todo o país, o método é capaz de apontar, por exemplo, quais municípios são mais promissores na produção de cana-de-açúcar e soja. As duas culturas foram analisadas na pesquisa por possuírem grande importância econômica, mas o método pode ser aplicado a outras culturas. O trabalho foi realizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, em Piracicaba.

    “O solo tem uma capacidade inerente de atender às demandas das culturas em termos de disponibilidade de nutrientes e água, influenciando no processo fotossintético da planta e na produção de biomassa”, diz o agrônomo Lucas Tadeu Greschuk, que realizou o estudo. “Portanto, o potencial produtivo do solo, indicador conhecido pela sigla SoilPP, refere-se à sua capacidade de produzir biomassa em resposta à avaliação de seus atributos químicos, físicos e biológicos.”

    O pesquisador desenvolveu uma estratégia para estudar detalhadamente os solos agrícolas brasileiros. “Informações sobre propriedades de terrenos, com até 1 metro de profundidade, e técnicas estatísticas multivariadas foram usadas para construir um sistema de pontuação que variou de 0 a 100, com os maiores valores representando alto potencial dos solos para produção de biomassa”, explica Greschuk. “SoilPP foi validado com informações de campo.”

    Os dados analisados ​​no trabalho são provenientes da base de dados da equipe de Geotecnologias em Ciência do Solo (GeoCis), organizada pelo professor José Alexandre Demattê, da Esalq. “Foram utilizadas cerca de 70.000 amostras, coletadas em áreas agrícolas em todo o território brasileiro, com informações sobre os teores de argila, areia, lodo e [fragmento de mineral menor do que areia fina e maior que argila]carbono orgânico do solo, matéria orgânica do solo, pH [acidez], saturação de alumínio, além de saturação por bases, pH delta, declividade do terreno, índice de intemperismo e outros”, destaca o agrônomo. “Os atributos de cada um deles receberam uma pontuação que varia de 0 a 100, todos foram integrados em um índice ponderado e, finalmente, cada amostra teve uma pontuação SoilPP variando de 60 a 100.”

    potencial produtivo

    Segundo Greschuk, os solos com valores de SoilPP mais elevados são os melhores em termos de potencial produtivo. “Apresentam maior profundidade, boa drenagem, textura fina, rica em nutrientes para as plantas, o relevo pode ser variável e sem a presença de afloramentos rochosos”, descreve. “Por outro lado, aqueles com muito baixo SoilPP têm baixa capacidade de fornecer nutrientes às plantas, geralmente com textura grosseira. [arenosa], baixa retenção de água e, consequentemente, baixa disponibilidade para a planta; podem ter profundidades variadas e, em alguns casos, alta presença de pedras.”

    A partir dessas informações iniciais, foram realizadas análises adicionais em biomas, lavouras e municípios. “Do mapa dos solos agrícolas brasileiros, que abrange 205 milhões de hectares [ha]estimado o potencial de produção, o SoloPP, em cada um dos biomas, dividido em áreas de 900 metros quadrados [m2]chamados pixels [resolução espacial]”, observa o pesquisador. Biomas são regiões cuja cobertura vegetal e clima possuem características semelhantes. “O bioma mais utilizado para atividades agrícolas é o Cerrado, ocupando cerca de 71 milhões de hectares.”

    Os valores médios de produtividade municipal para soja e cana-de-açúcar foram obtidos por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a média foi calculada para as safras de 2016 a 2020. “No total, 2.304 foram analisados. Municípios brasileiros com produtividade média de soja acima de 1.500 quilos por hectare (kg ha-1). Baixos níveis de produtividade média municipal foram observados em 896 municípios produtores, que podem ser aumentados”, descreve o agrônomo. “Para a cana-de-açúcar, foram analisados ​​2.468 municípios com produtividade média acima de 35 toneladas por hectare (ton ha-1), 1.056 apresentaram baixos níveis de produtividade média municipal”. Os resultados da pesquisa estão detalhados na dissertação de mestrado Potencial produtivo dos solos agrícolas brasileiros, apresentada por Greschuk em 28 de junho, na Esalq.

    Greschuk destaca que a metodologia indica onde a produtividade média da cana-de-açúcar e da soja poderia ser melhorada em locais onde já são cultivadas lavouras, minimizando a abertura de novas áreas agrícolas. “É possível saber o quanto cada município poderia aumentar seu desempenho médio de produção em quilogramas ou toneladas por hectare”, enfatiza. “Mas isso também exigirá um estudo mais aprofundado e também saber investigar quais fatores estão interferindo: genéticos, pedológicos, climáticos ou de incidência de pragas e doenças na produtividade das respectivas lavouras.”

    A pesquisa foi realizada no Departamento de Ciência do Solo da Esalq, sob orientação do professor José Alexandre Demattê. Colaboraram com o trabalho os pesquisadores da Esalq Nélida Silvero, José Lucas Safanelli, Jorge Tadeu Rosas e Nícolas Rosin. O trabalho contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da equipe de Geotecnologias em Ciência do Solo da Esalq.

    Fonte: Agro