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Usina planeja aumentar em cinco vezes vendas diretas de etanol

    Usina planeja aumentar em cinco vezes vendas diretas de etanol

    Combustível de origem limpa, renovável e sustentável, o etanol hidratado está mais barato para os potiguares há quase um ano, graças a mudanças na legislação que permitiram que o produto fosse vendido diretamente aos postos, eliminando a logística e reduzindo custos. Na Usina Ceará-Mirim, uma das três produtoras de etanol do estado, a meta é aumentar em até cinco vezes essa venda direta aos postos de combustíveis a partir da safra 2022/2023. Nesses primeiros meses de regulamentação da lei, uma estimativa de interlocutores do segmento é de que o preço do litro de etanol pode ter caído entre R$ 0,15 a R$ 0,50 no Rio Grande do Norte. Apesar da mudança na lei, a variação do preço é sazonal, ou seja, vinculada à safra de cana no estado.

    Segundo o presidente do Grupo Telles, Paulo Telles Neto, que administra a Usina Ceará-Mirim desde 2002, a venda direta de etanol aos postos começou efetivamente em janeiro deste ano, e a carteira de clientes está atualmente em 52 postos. , que correspondeu a 580 mil litros, 6% do total comercializado pela usina na safra passada. Segundo ele, houve casos de postos que compraram etanol na usina com redução de R$ 0,45 a R$ 0,50 centavos. O etanol também é vendido para outros oito grandes distribuidores.

    “Teremos que aumentar o volume de vendas em pelo menos cinco vezes para atingir a meta de 30%. Ou seja, a projeção é que precisaremos aumentar em três vezes o número de clientes para atingir essa meta”, comenta o presidente do grupo, Paulo Telles Neto, ao TRIBUNA DO NORTE.

    Segundo o consultor Nélio Wanderley, a compra de etanol diretamente nas usinas é sazonal, justamente no período de safra da cana. “A safra do Nordeste representa 10% da safra nacional. Nossa safra no RN não pode bater o ano inteiro. Precisamos importar produtos do Centro-Sul, principalmente de Goiás e São Paulo. Nesse caso, fica mais caro, porque só o frete custa quase R$ 0,50 e o preço não é mais competitivo”, comenta.

    Antes, a Usina Ceará-Mirim era conhecida por produzir a cachaça Ypióca cearense, que foi vendida em uma transação milionária em 2012 de R$ 900 milhões. Após a venda, o Grupo Telles voltou seu foco para a produção de etanol para distribuidores, que atualmente é vendido para Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, com 90% das transações ocorrendo no estado. Existem outras duas usinas que produzem etanol no RN.

    “É uma operação muito positiva, é interessante e importante não só para a fábrica, mas também para o consumidor. Na usina, é possível agregar um pouco mais de valor ao produto e isso é importante para o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro no Brasil como um todo, e para o consumidor, que pode ter um produto com valor no final”, explica o presidente do grupo.

    Telles e interlocutores do setor dizem que a mudança na dinâmica das vendas de etanol ainda está em construção. “É uma nova cadeia”, diz ele. Com a compra direta, os postos precisam, por exemplo, se responsabilizar pela logística de buscar o combustível diretamente na fábrica, ao invés de recebê-lo pelos caminhões das distribuidoras.

    “Não é tão simples assim. Por exemplo: a fábrica vende 500.000/l para um distribuidor em uma semana. Carregamos caminhões de 50.000 litros e é feita uma fatura para um grande cliente. Posto carrega, 2, 3, 5 mil litros. Aquele caminhão você acaba rateando para 10, 15 postos. São 15 clientes diferentes. É uma logística e administração muito diferente. Não é só começar a vender, você precisa criar a estrutura de A distribuidora faz isso, é a expertise dela”, diz Telles .

    O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do RN (Sindipostos-RN), Maxwell Flor, considera que a mudança na legislação foi positiva para o setor, mas aponta a questão logística como uma dificuldade para os pequenos postos.

    “Na época da safra, tivemos notícias de revendas comprando. Depende muito da logística. Quando você envia o caminhão para lá, demora para carregar. Neste, estou sem caminhão para carregar gasolina e diesel na distribuidora. Tem que pesar muito, um cenário em que tudo dá certo”, aponta Maxwell Flor. Segundo ele, na época da safra, o preço do litro do etanol caiu de R$ 0,10 para R$ 0,15 centavos em períodos de compra direta.

    Atualmente, o RN possui 664 postos cadastrados na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), sendo 295 postos “bandeira branca” (não vinculados a nenhuma distribuidora).

    Compra direta tem restrições, diz sindicato

    Apesar de positiva, a compra direta de etanol nas usinas ainda tem restrições para uma nova dinâmica do mercado, segundo interlocutores do setor de combustíveis. Segundo Maxwell Flor, presidente do Sindicato do Varejo de Derivados de Petróleo do RN (Sindipostos-RN), os postos sinalizados, ou seja, os que representam marcas nacionais, não podem comprar diretamente das usinas por questões contratuais.

    “Os postos que podem comprar diretamente da usina são aqueles que não possuem contrato próprio com a distribuidora, postos de marca própria. A Bandeirantes, a maioria aqui no estado, só pode comprar na distribuidora. É uma questão contratual. Por lei, já seria possível comprar diretamente, mas por força contratual essa permissão não é permitida”, informa o presidente do Sindipostos-RN, Maxwell Flor.

    O presidente do sindicato também menciona que o número de indústrias no RN é pequeno, totalizando três. Em comparação com a Paraíba, por exemplo, onde há nove usinas. A questão da redução de preços também é sazonal, já que o período de colheita é entre agosto e fevereiro. Nos demais meses do ano, é necessário comprar de outros estados para atender a demanda.

    As mudanças na legislação ocorreram em setembro do ano passado e o Rio Grande do Norte foi o primeiro estado do país a regulamentar a lei. À época da decretação da Medida Provisória 1.063/2021, o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, José Mauro Ferreira Coelho, afirmou que a MP promove abertura de mercado e aumento da concorrência, com potencial redução de os preços dos combustíveis, gerando benefícios para o consumidor.

    “O produtor ou importador poderá vender o etanol diretamente ao posto e ele chegará ao consumidor final. Com isso, teremos aumento da concorrência, com potencial redução dos preços dos combustíveis, o que traz importantes benefícios para o mercado brasileiro consumidor”, declarou.

    A MP também passou a permitir que postos que apresentem a marca de um distribuidor também vendam combustíveis de outros fornecedores, desde que informados aos consumidores. A Secretaria-Geral da Presidência chamou a medida de “flexibilização da proteção regulatória”.

    De acordo com o consultor de mercado de postos e distribuidoras do Posto Seguro Brasil, Nélio Wanderley, a medida foi benéfica para o setor. Ele estima que, em novembro de 2021, mês de início das vendas diretas, o desconto para os clientes tenha atingido cerca de R$ 0,15.

    “As panelas são concorrentes e quando você compra melhor, você aproveita o benefício de repassar isso para o consumidor. Tem a vantagem competitiva de ter o melhor preço. Todos ganham: o posto de gasolina, que compra mais barato, o consumidor que paga menos, e o Estado, porque arrecada impostos da mesma forma”, comenta.

    Números

    • R$ 0,15 a 0,50 é a queda no valor do litro de etanol com mudanças na legislação
    • 6% da produção (580 mil litros) da Usina Ceará-Mirim foi vendida diretamente aos postos, na primeira safra pós-regulamentação (2021)
    • 30% da produção para venda direta é meta estabelecida pela Usina Ceará-Mirim para a safra 2022/2023



    Fonte: Agro