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Sem acordo, CRA concede visão coletiva e votação do PL dos Agrotóxicos é…

    Megatendencias do Agronegocio de Decio Luiz Gazzoni e Elisio Contini

    Aceito o pedido de parecer coletivo, foi adiada a votação do projeto que flexibiliza as regras de aprovação e comercialização de agrotóxicos pela Comissão de Agricultura (CRA). Em reunião nesta quinta-feira (23), o relator do PL 1.459/2022 e presidente do colegiado, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), apresentou novo relatório e já agendou a deliberação para a próxima terça-feira (29).

    O PL 1459/2022 é o substituto da Câmara dos Deputados ao PLS 526/1999, apresentado pelo então senador Blairo Maggi. O texto altera a Lei de Agrotóxicos. O relator apresentou parecer favorável com emendas. O projeto trata da pesquisa, experimentação, produção, comercialização, importação e exportação, embalagem e destinação final e fiscalização desses produtos. Desde o início de sua tramitação no CRA, a matéria é fruto de ampla divergência entre senadores e contrasta a agenda do agronegócio com a da preservação ambiental e da vigilância sanitária. Especialistas foram ouvidos em três audiências públicas promovidas pelo CRA. O texto não será analisado pela Comissão de Meio Ambiente (CMA).

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    Acir Gurgacz já havia lido seu relatório, mas após pedidos para ampliar os debates e promover mais uma audiência pública, realizada na terça-feira (22), voltou a apresentar seu parecer. Entre as medidas previstas na emenda estão a concentração do poder de decisão sobre defensivos agrícolas no Ministério da Agricultura; a alteração da nomenclatura “pesticida”, que passaria a ser chamada, na legislação, de “pesticida”; estabelecer prazo para obtenção de registros desses produtos no Brasil — com possibilidade de licenças temporárias quando os prazos não forem cumpridos pelos órgãos competentes dos Órgãos —; e o abrandamento da classificação explícita de produtos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente.

    Segundo Gurgacz, muitos dos agrotóxicos usados ​​no Brasil estão obsoletos e podem ser substituídos por produtos mais modernos.

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    — Hoje leva, em média, 8 ou até 10 anos para a autorização de um novo princípio ativo. É muito tempo para produtos mais modernos, seguros e eficazes entrarem no mercado. A nova lei prevê prazo máximo de dois anos para que um novo produto seja analisado – declarou.

    Gurgacz afirmou que estudos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que o Brasil ocupa a sétima posição no ranking mundial de usuários de agrotóxicos, atrás de países como Japão, Coreia do Sul, Alemanha, França, Itália e Reino Unido .

    — Não corremos o risco de usar produtos proibidos na Europa ou em outros países aqui no Brasil — disse o relator.

    Saúde pública
    A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) lembrou que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentou na Conferência do Clima das Nações Unidas — COP27, realizada recentemente no Egito, um novo compromisso ambiental, que se opõe ao projeto proposto.

    — Estamos vindo da COP 27, onde o Brasil se tornou um pária nos últimos anos em termos de meio ambiente. O Brasil sempre esteve à frente. Agora, na última COP, tivemos um reposicionamento do Brasil. (…) Esse projeto vai causar prejuízos muito grandes.

    O senador se manifestou contra a exclusão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ​​(Ibama) da fiscalização e controle de agrotóxicos, bem como a inclusão no texto da autorização temporária de uso de pesticidas.

    – Quando [Lula] traz compromisso com a agenda ambiental, é automaticamente se posicionar contra o que chamamos de pacote da destruição, em que temos dentro dele o PL do veneno – disse Eliziane.

    O senador Paulo Rocha (PT-PA) afirmou que é preciso aprofundar o debate e estabelecer um diálogo franco e aberto.

    — Não é fácil enfrentar projetos com conflito de interesses. Nossa posição não é ideológica, radical. Não somos contra o desenvolvimento, contra o aumento da produção, contra o setor, contra o processo. Estamos colocando aqui a possibilidade de fazer uma legislação que atenda aos interesses declarados, para desburocratizar, mas estamos preocupados com a questão ambiental e de saúde pública – destacou Paulo Rocha.

    Burocracia
    Para o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) é preciso vencer o desafio da burocracia e não se deixar “induzir ao erro” por um discurso “sob o pretexto de fazer o bem para a população, fazer o bem para o meio ambiente”. Produtos mais modernos são menos nocivos, disse Fávaro.

    — O objetivo é estar cada vez mais preocupado com a produção sustentável, que passa pelo aspecto econômico, barateando o custo de produção. Não quero usar produtos que prejudiquem o meio ambiente em minhas propriedades. Este projeto não é precário, mas, ao contrário, facilitador. Esta lei moderniza a legislação. (…) eu sei que essa é a intenção do presidente [da CRA] Atuar em busca de um texto que de forma moderna e eficiente, que traga o licenciamento, a autorização do uso de moléculas aqui no Brasil, para desburocratizar, aquela máquina notarial que dificulta e atrapalha.

    O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) também criticou a lentidão no cadastramento e o uso de defensivos agrícolas ultrapassados.

    — Devemos avançar como qualquer país da Europa, como os Estados Unidos, como qualquer país desenvolvido, com custos mais baratos e adequados. Temos que superar essas barreiras. Não é possível criminalizar o produtor brasileiro – afirmou Heinze.



    Fonte: Noticias Agricolas