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Reuters: Com “estou dentro” do CEO da Petrobras, transição deve demorar mais do que…

    Reuters Lula marca conversa com candidatos a presidencia da Petrobras

    Por Rodrigo Viga Gaier e Marta Nogueira

    RIO DE JANEIRO (Reuters) – O novo governo deve demorar mais do que o desejado pelo PT para começar a imprimir suas visões estratégicas na Petrobras, caso seja confirmado que o atual presidente, Caio Paes de Andrade, deixará o comando apenas no final do mandato, previsto para abril de 2023, segundo fontes ouvidas pela Reuters.

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    Até a mudança, o executivo pretende continuar colocando em prática os planos já em andamento pela atual gestão da empresa, o que implica dizer que os investimentos estratégicos nos próximos cinco anos, que serão anunciados no dia 30, não devem apresentar grandes mudanças em relação ao programa anterior e deve ficar em torno de US$ 70 bilhões, segundo as fontes.

    Da mesma forma, espera-se que as vendas de ativos não essenciais continuem, apesar dos apelos públicos do grupo de transição para que a empresa suspenda os negócios até que a nova administração tome posse.

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    “Caio tem dito que irá até o fim (de seu mandato) e que sempre fará o melhor para gerar mais valor patrimonial para os acionistas da Petrobras”, disse uma fonte à Reuters, sob condição de anonimato.

    Outra fonte também afirmou que Andrade não deve sair antes de abril, mesmo que eventualmente sofra qualquer tipo de pressão.

    Pelas regras da empresa, para que o governo troque o comando da Petrobras, ele deve primeiro indicar o candidato a uma vaga no Conselho de Administração e aguardar sua aprovação em assembleia de acionistas, onde a União detém a maior fatia do votos. Posteriormente, o conselho elege o presidente entre seus membros.

    Essas movimentações têm prazos e parâmetros regulatórios estabelecidos pelo estatuto da sociedade de economia mista. Entre a convocação da assembléia e sua realização para a eleição dos diretores são necessários 30 dias, por exemplo. Existem também procedimentos internos que verificam a integridade dos candidatos a cargos executivos, o que pode prolongar a definição do novo CEO, como aconteceu com o atual presidente.

    Entre a nomeação de Andrade pelo governo em maio e a posse do executivo como CEO no final de junho, passou-se mais de um mês, em um processo que, apesar de longo, ainda teve um atalho até a renúncia do antecessor presidente José Mauro Coelho, após algumas semanas de resistência.

    Dentro da empresa, há quem defenda a negociação da equipe de transição com o atual governo para que esse processo de mudança seja acelerado.

    “Faz todo o sentido (ter a troca antes de abril), já que o projeto do Brasil aprovado nas eleições de 2022 rejeita o anterior e sua política de privatizações e desmantelamento da Petrobras”, disse à Reuters o representante dos empregados da petroleira no Conselho de Administração da empresa, Rosângela Buzanelli.

    “Estamos no fim de um governo e no início de um novo, nada mais lógico e adequado”, acrescentou.

    Para que a mudança ocorresse mais rapidamente, Andrade teria que pedir demissão.

    Outra possibilidade seria se algum dos conselheiros eleitos com ele por voto múltiplo renunciasse, o que acarretaria a destituição de todos eles e exigiria nova eleição – mas vale lembrar que o atual governo renovou boa parte do conselho em agosto, com o Sindicato elegendo seis dos oito indicados. Além de Buzanelli, eleito pelos trabalhadores, a diretoria conta com quatro representantes de acionistas minoritários.

    Do lado do novo governo, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), integrante do grupo de transição para petróleo e gás, indicou nesta semana que é preciso definir em breve um nome para comandar a Petrobras, o que pode acontecer já em início de dezembro, para que a transição ganhe tempo, segundo ele.

    Na próxima segunda-feira, a equipe de transição tem sua primeira reunião com o atual CEO da Petrobras, em reunião que será por teleconferência.

    PLANO DE NEGÓCIOS

    A transição ocorre enquanto a atual direção da petroleira se prepara para publicar seu novo Plano Estratégico quinquenal no dia 30 de novembro e apresentá-lo ao mercado no dia seguinte. A elaboração deste documento não é opcional, pois está prevista em lei.

    O documento seguirá as mesmas orientações que têm sido pontuadas pela atual gestão, que tem apostado nos ativos marítimos de petróleo e gás mais rentáveis ​​e procurado aliená-los em outros projetos considerados não essenciais, segundo as fontes.

    Essas pessoas afirmaram que o plano de investimentos para os próximos cinco anos deve ficar em torno de 70 bilhões de dólares, volume semelhante aos cerca de 68 bilhões de dólares do ano anterior.

    Procurada, a Petrobras não se pronunciou de imediato sobre o assunto.

    Mas a atual gestão defenderá no plano que a empresa está empenhando produtivamente seus investimentos, algo que tem sido questionado pelo governo eleito, segundo fonte próxima às discussões.

    Um exemplo disso será buscar detalhar os investimentos destinados à entrada em operação de plataformas arrendadas. Conforme determinam as normas contábeis, os valores referentes às nove unidades locadas das 15 previstas no atual plano de negócios acabam sendo contabilizados como dívida e não como investimento.

    Caso contrário, os investimentos atualmente previstos para os próximos cinco anos seriam US$ 20 bilhões maiores, ideia que o plano buscará reforçar, buscando afastar as críticas de que a Petrobras pagou dividendos demais porque reduziu o capex.

    Mas a previsão de venda de ativos será mantida. A Petrobras tem em andamento um robusto plano de desinvestimentos que contempla pelo menos 15 processos, incluindo refinarias, algo que o novo governo critica.

    “Quando o novo governo assumir, acredito que possam rever as estratégias. Mas, hoje, a diretriz é vender”, disse uma fonte da empresa sob condição de sigilo. “Há muita opinião no ar e pouco fundamento. Perguntar é grátis, mas nem sempre a resposta é a desejada”, acrescentou uma segunda fonte ligada à empresa.

    Outra questão que pode demorar para mudar será a política de distribuição de dividendos, muito questionada pela equipe de transição, já que nos últimos dois trimestres a empresa pagou aos acionistas, inclusive ao governo, mais que o dobro do que todas as grandes petrolíferas do Estados Unidos e Europa.

    No entanto, a forte remuneração aos acionistas é resultado da atual estratégia da empresa, que inclui investimentos bem abaixo dos praticados no passado, além de uma dívida controlada, segundo fonte próxima às discussões.

    O cálculo do que tem sido pago, segundo a atual gestão, é praticamente automático, com o estabelecimento de uma política que beneficia também da subida do preço do petróleo, não havendo investimentos travados por constrangimentos financeiros ou orçamentais devido à remuneração dos acionistas, segundo a empresa.

    (Por Rodrigo Viga Gaier e Marta Nogueira)



    Fonte: Noticias Agricolas