O Plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (20/12) o projeto que modifica o modelo de fiscalização da produção agrícola, determinando que as empresas do setor criem seu próprio programa de defesa.
A proposta transforma o atual sistema, exclusivamente estatal, em um modelo híbrido, compartilhado com os produtores.
O PL 1.293/2021, que também tramitou na Câmara dos Deputados e segue para sanção presidencial, foi aprovado em relatório pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS).
A proposta também cria o Programa de Incentivo ao Compliance em Defesa Agropecuária, a Comissão Especial de Recursos de Defesa Agropecuária e o Programa de Fiscalização em Defesa Agropecuária de Fronteiras Internacionais (Vigifronteiras).
Inspeção – Entre as ações de defesa agropecuária estão a fiscalização e classificação de produtos de origem animal e vegetal e a fiscalização de insumos e serviços utilizados nas atividades agropecuárias.
A fiscalização do uso de agrotóxicos e a entrada de plantas estrangeiras no país, por exemplo, são ações de defesa agropecuária realizadas pelo governo.
A principal novidade do texto é obrigar as empresas do setor agropecuário a criar sistemas de autocontrole para auxiliar o governo na tarefa de manter rebanhos, lavouras e produtos saudáveis.
Caberá à fiscalização agropecuária, que continuará sendo prerrogativa do Estado, verificar o cumprimento desses programas.
Os programas de autocontrole devem conter registros sistematizados e auditáveis do processo produtivo, desde a chegada de matérias-primas, ingredientes e insumos até a entrega do produto final.
Também terão que providenciar o recolhimento de lotes de produtos com problemas que possam representar riscos aos consumidores ou à saúde animal ou vegetal.
O texto também cria o Programa de Incentivo ao Compliance em Defesa Agropecuária, com o objetivo de tornar os sistemas de garantia de qualidade eficientes e auditáveis por meio da reorganização dos procedimentos de defesa agropecuária.
Os produtores que aderirem terão, entre outras vantagens, agilidade nas operações de importação e exportação.
O programa Vigifronteiras, que deve ser regulamentado pelo Poder Executivo, visa estabelecer um sistema integrado de vigilância agropecuária nas fronteiras do país para prevenir a entrada de substâncias ou agentes biológicos que possam causar danos à agricultura e à natureza; e produtos agrícolas que não atendam aos padrões de identidade e qualidade ou aos requisitos de segurança exigidos para o consumo.
Relatório – Luis Carlos Heinze, que também foi relator da matéria na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), rejeitou as cinco emendas plenárias apresentadas pelos senadores e recomendou a aprovação do projeto conforme aprovado pela Câmara.
O senador Paulo Rocha (PT-PA) pediu inicialmente para destacar a emenda que apresentou, no sentido de dispensar a contratação de responsável técnico no caso da agroindústria de pequena escala.
“Nossa preocupação é exatamente com o pequeno. Com essas obrigações, como você vai ter autocontrole se você tem algumas despesas ou contrata um técnico mais especializado para isso? Porque na agricultura familiar você não tem essas condições”argumentou.
O senador pelo Pará, porém, temia que, modificado no Senado, o projeto tivesse que voltar à Câmara. Ele apresentou proposta — aceita pelo relator — de emenda ao texto que excluiria a agricultura familiar da adesão compulsória aos programas de autocontrole, em troca da retirada da ênfase.
O senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), que presidiu a sessão, manifestou o entendimento da Secretaria-Geral da Mesa (SGM) de que esta emenda tem caráter editorial, não alterando o mérito da proposição.
Terceirização – O projeto foi aprovado em votação simbólica, com votos contra de Jean Paul Prates (PT-RN) e Eliziane Gama (Cidadania-MA).
Na discussão, Jean Paul criticou a terceirização das atividades de fiscalização, o que, a seu ver, poderia abrir um perigoso precedente contra a atuação do Estado.
“Caminhamos aqui, também a meu ver, no limiar da constitucionalidade da delegação de poderes de polícia administrativa a particulares. Esta lei será contestada, inclusive pelas entidades que representam os agentes”argumentou.
O senador também opinou que o assunto deveria ter sido discutido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e disse temer que o projeto coloque os produtores menores em desvantagem em relação àqueles com “maior capacidade de enriquecimento”.
Em resposta, Heinze declarou que os Estados Unidos e a Europa já utilizam o sistema conforme proposto, o que, em sua opinião, continuará garantindo a tranquilidade dos consumidores brasileiros e internacionais quanto à qualidade do produto.
“O Brasil não passou a ser um dos maiores produtores de soja do mundo, de carne bovina do mundo, de frango do mundo, de laranja do mundo, de cana-de-açúcar do mundo por acaso, foi pelo qualidade dos nossos produtos, também dos técnicos que estão lá na área dos produtores e das empresas que produzem isso aí. Então eles vão querer manter esses mercados.”rebateu.
Debate – O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que classificou o projeto como fundamental, destacou que o governo não tem capacidade de fiscalizar tudo o que é produzido, enquanto Carlos Fávaro (PSD-MT) negou que a proposta retire a presença do Estado no controle de qualidade.
Esperidião Amin (PP-SC) destacou os desafios do Brasil em termos de dependência de fertilizantes e defensivos importados e o “protecionismo aberto” dos países ricos.
Jayme Campos (União-MT) elogiou o projeto, dizendo que a burocracia estadual não acompanhou o crescimento do setor agrícola.
Os senadores Zequinha Marinho (PL-PA), Carlos Viana (PL-MG) e Acir Gurgacz (PDT-RO) também participaram do debate.
Fonte: Agência Senado