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Pesquisa cria condições para que MT tenha limões tahiti resistentes à gomose

    Pesquisa cria condicoes para que MT tenha limoes tahiti resistentes

    Foto: Silvia Campos/Embrapa/Divulgação

    O potencial de produção de alimentos do Mato Grosso é, para algumas culturas, limitado pela falta de informações e tecnologias adequadas às condições locais. Para os citros, a falta de porta-enxertos resistentes à gomose fúngica foi um fator limitante. Mas essa realidade começou a mudar com uma pesquisa coordenada pela Embrapa em parceria com o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) e a Prefeitura Municipal de Guarantã do Norte.

    A primeira fruta a apresentar resultados mais consistentes é a lima ácida do Tahiti, conhecida pelos consumidores como lima do Tahiti. Dois experimentos realizados em Sorriso (MT) e Guarantã do Norte (MT) confirmaram que as características do copa são determinadas pelo porta-enxerto, porém, os frutos não foram influenciados.

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    Os ensaios trouxeram informações relevantes sobre porta-enxertos que proporcionam maior vigor vegetativo e volume de copa. A avaliação dos frutos mostrou que eles possuem as características desejadas pela indústria e pelo mercado internacional, possibilitando não só o atendimento ao mercado local, mas também a exportação.

    Os experimentos foram instalados em 2016, nos campi do IFMT em ambos os municípios. Em Sorriso, no bioma Cerrado, e em Guarantã do Norte, no bioma Amazônia. Ao todo, 14 porta-enxertos foram testados entre opções comerciais e novos híbridos não comerciais desenvolvidos pela Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA). Eles foram comparados com o limão Cravo, o porta-enxerto mais utilizado na cultura, mas que apresenta alta suscetibilidade à gomose de Phytophthora.

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    De acordo com as avaliações, os porta-enxertos comerciais citrumelo “Swingle” e os citrandarinos “Índio” e “San Diego” induziram os maiores volumes de dossel e índice de vigor vegetativo. Já os porta-enxertos TSKC x (LCR x TR) – 059 (BRS Bravo), em Sorriso, e LRF x (LCR x TR) – 005, em Guarantã do Norte, induziram as menores alturas de copa da tília ácida .

    “Buscamos materiais que alcancem maior produtividade. Nesse caso, serão aqueles que tiverem uma xícara maior. No entanto, alturas menores facilitam todo o manejo e trato cultural. O que queremos é um porta-enxerto que, mesmo que fique menor, tenha maior produtividade”, explica o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Givanildo Roncatto.

    As avaliações são realizadas semestralmente, quando são medidos a altura da planta, diâmetro do tronco do porta-enxerto, diâmetro do tronco do enxerto, razão de incompatibilidade entre porta-enxerto e copa, diâmetro e volume da copa e índice de vigor. vegetativo. A expectativa é que as medições continuem até que as usinas completem dez anos.

    Seis anos após o plantio, apenas o porta-enxerto controle apresentou sintomas de gengivite. No entanto, Roncatto diz que é necessário cautela e a observação continua para garantir que nenhum deles seja suscetível à doença.

    Segundo ele, é possível que, ao final da pesquisa, sejam indicados não apenas um, mas quatro ou cinco porta-enxertos com recomendação de uso na região. Esse resultado ampliará as possibilidades para os produtores locais, principalmente considerando que Mato Grosso não apresenta ocorrência de outras doenças de grande importância na citricultura, como Citrus Greening, ou Huanglongbing (HLB).

    frutas

    Para garantir que os frutos produzidos atinjam os parâmetros de qualidade de interesse do mercado, a pesquisa avaliou as limas ácidas taiti produzidas nos dois experimentos. A partir do quarto ano de plantio, quando se iniciou a produção, foram coletadas informações sobre comprimento, diâmetro e peso dos frutos; rendimento de suco, teor de sólidos solúveis totais, acidez total titulável e vitamina C.

    No experimento Guarantã do Norte, não foi observada diferença entre os frutos produzidos sob diferentes porta-enxertos. Com diâmetro médio de 59,48 milímetros (mm), os frutos colhidos na safra 2020 seriam classificados como grandes nas Normas de Classificação da Ceagesp, pois estão acima de 56 mm. O peso médio de 116 gramas (g) também é superior aos 100 g preferidos pelo mercado.

    Outro aspecto de destaque das frutas produzidas naquele município foi o teor de rendimento de suco, com média de 48,09%, superior aos 35% exigidos para consumo in natura e aos 40% exigidos pela indústria.

    Em Sorriso, por outro lado, houve diferença estatística nos frutos produzidos sob os diferentes porta-enxertos, podendo separá-los em dois grupos. Um, estatisticamente igual ao controle e outro com características ligeiramente inferiores. No entanto, ambos os grupos apresentaram diâmetro e peso dentro das características desejadas pelo mercado. Em relação à massa, o grupo que não diferiu do controle pesou em média 115,65g e o outro grupo pesou em média 102,48g. O diâmetro médio dos frutos foi de 58,33 mm, com variação entre 55,05 mm e 60,55 mm. O rendimento médio do suco foi de 39,14%, abaixo dos 40% exigidos pela indústria.

    “Em pesquisas como essa, o mais importante é verificar se as características dos frutos não foram influenciadas pelos porta-enxertos. Em geral, as frutas produzidas em Guarantã do Norte e Sorriso atendem às demandas do mercado nacional em termos de cor, tamanho e quantidade de suco”, explica a pesquisadora da Embrapa Sílvia Campos.

    vegetais e frutas

    Embora seja uma potência agrícola e líder nacional na produção de grãos e carnes, Mato Grosso é insuficiente na produção de hortaliças e frutas. No caso da citricultura, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado produz apenas cinco mil toneladas, em aproximadamente 700 hectares (ha). Desta área, apenas 341 ha são cultivados com limões e limas ácidas. A produção não é suficiente para abastecer o mercado interno, sendo necessário importar de outros estados brasileiros.

    Um dos entraves à produção de citros é a falta de porta-enxertos adaptados às condições de clima e solo do estado. O limão cravo, porta-enxerto utilizado em cerca de 80% dos pomares comerciais, é altamente suscetível à infecção e à disseminação do fungo causador da gomose cítrica, apesar de ser tolerante à seca, crescer bem em solos arenosos, tolerante à tristeza cítrica, por induzir a precocidade e alta produtividade e produzir frutos de qualidade.

    A viabilização de outras opções de porta-enxertos resistentes a doenças, com bom potencial produtivo e com frutos de qualidade, abre possibilidades de produção para os agricultores familiares da região norte do estado.

    De acordo com o extensionista da Empaer Thiago Tombini, o limão Tahiti é cultivado na região, geralmente em pequenas propriedades, com tamanho de até 5 ha e até 100 plantas. Porém, no município de Sinop existem produtores com mais de mil plantas, a maioria já com mudas produzidas pela Empaer com porta-enxertos utilizados na pesquisa.

    A produção atual é toda absorvida pelo mercado local, porém insuficiente para suprir a demanda de cidades emergentes como Sinop, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e outras regiões do estado. A viabilidade de novas rotas de escoamento da produção permite até pensar em exportar. O município de Guarantã do Norte, por exemplo, fica a 765 km do porto de Miritituba (PA), enquanto a distância até a Ceagesp, em São Paulo, é de 2.200 km.

    Porém, para exportar e atender mercados maiores, será necessário reunir os pequenos produtores em cooperativas, a fim de organizar a oferta, mantendo a regularidade de abastecimento demandada pelo mercado.

    Pesquisa, ensino, extensão e solidariedade

    A parceria entre a Embrapa e o Instituto Federal de Mato Grosso traz resultados maiores do que apenas avançar conhecimento e desenvolver tecnologias para os produtores. Ao instalar os experimentos nos campi da instituição de ensino, o projeto permite ampliar o aprendizado dos alunos.

    Segundo o professor Sandro Caravina, em Guarantã do Norte, os alunos do segundo ano do curso técnico em Agronomia são responsáveis ​​por desenvolver as atividades do projeto e participam de aulas práticas que incluem poda, controle de doenças, manejo integrado de pragas e colheita. Além do aprendizado, a turma fica com metade da receita de vendas para financiar a formatura. A outra metade é utilizada para aquisição de insumos e ferramentas para aplicação na própria pesquisa.

    “Dentro do projeto, já foram realizadas ações de extensão e pesquisa. Visitamos os produtores para dar assistência técnica, levamos os resultados até eles e trazemos para conhecer o experimento e o manejo que é feito”, explica o professor Caravina, que está desenvolvendo seu doutorado com a cal ácida do Taiti.

    O professor conta que cerca de um terço da produção é doado para instituições que prestam assistência social no município.

    Da Embrapa Agrosilvopastoril

    Fonte: Agro