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A retomada da produção de búfalos no Paraná

 A retomada da produção de búfalos no Paraná
A retomada da produção de búfalos no Paraná

O pecuarista Luiz Carlos Chimin Claudino olha com orgulho para seu rebanho de búfalos, que mantém em uma propriedade em Morretes, no litoral do Paraná.

Enfatiza o porte vigoroso dos animais, com pelagem preta e chifres em forma de caracol.

São 100 búfalos – das quais 30 estão em lactação – e três touros Murrah puros, certificados pela Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB).

Apesar de se emocionar ao falar de animais, Chimin é contra um movimento.

A valorização dos derivados do leite de búfala, no entanto, abre boas perspectivas para a atividade.

Hoje, os negócios da Chimin estão focados na produção de matrizes e matrizes, que são vendidas para criadores do interior do Paraná e de São Paulo.

A intenção do pecuarista, por outro lado, é entrar de vez no mercado de laticínios.

Ele já mantém uma sala de ordenha mecânica e, em um anexo, construiu uma queijaria, com foco na fabricação de queijo fresco e mussarela.

O objetivo é obter, ainda este ano, a licença para iniciar a produção de derivados em escala contínua. Por enquanto, os queijos são produzidos de forma pontual, destinados ao consumo de familiares e amigos.

“Ao contrário da crença popular, o búfalo é um animal dócil, amigável e fácil de trabalhar.

Há um movimento para voltar a apostar em búfalos em todo o Brasil”, diz Chimin. “O queijo mussarela de búfala é um produto muito valorizado.

Com a queijaria regularizada, conseguimos produzir 15 toneladas de queijo por ano.

Tem mercado, porque o Paraná só consome mussarela de búfala que vem de São Paulo, por falta de escala local”, ressalta.

Citado por Chimin, a falta de escala é o principal entrave à atividade no Paraná.

Para justificar o funcionamento de um laticínio, é necessário fornecer leite em volume capaz de manter a produção constante.

O problema é que as microrregiões do Paraná não possuem, em geral, um grupo de criadores de búfalos que dê conta da demanda, formando uma cadeia.

A exceção diz respeito aos produtores de Cerro Azul, na Região Metropolitana de Curitiba, que distribuem seu leite para uma indústria localizada do outro lado da divisa com São Paulo, no Vale do Ribeira.

“Se você tem laticínios, precisa de leite em volume. Portanto, o principal problema é a escala.

É preciso ter regularidade no abastecimento, com escala. Se a rede conseguir se estruturar, não há dúvidas de que é um excelente negócio.

O leite de búfala tem quase o dobro do teor de sólidos totais do bovino, o que se reflete no rendimento, 40% menos colesterol e vitamina A.

É um derivado muito valorizado no mercado”, destaca o veterinário e presidente do Departamento Técnico do ABCB , Amauri Paske, que pesquisa búfalos desde 1980.

O problema de escala também se reflete na produção de carne.

Como não existe uma cadeia estruturada, os produtores não conseguem manter o abastecimento regular. Os frigoríficos até compram búfalos para abate, mas a carne é vendida como se fosse bovina.

“Não há oferta de animais para abate, o que dificulta o funcionamento dos frigoríficos.

Quando um lote vai para o abatedouro, eles vão ao supermercado como se fosse carne bovina, justamente porque não há abastecimento regular.

Os produtores nunca se organizaram para dar uma programação regular de abate”, diz José Lino Martinez, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), que acompanha a cadeia produtiva do estado.

Apesar da dificuldade de estruturação da cadeia produtiva, os búfalos apresentam uma série de vantagens em relação ao gado.

No caso do Murrah, raça predominante no Paraná, os animais têm dupla aptidão: bom desempenho para produção de carne e leite.

Outro ponto positivo é a melhor resposta à alimentação, ganhando peso precocemente: passam de 600 quilos em dois anos e meio.

Por serem animais rústicos, os pecuaristas gastam menos com remédios e carrapatos, por exemplo. Além disso, os búfalos têm uma taxa reprodutiva superior.

“Em uma propriedade dedicada à criação, criação e engorda de búfalos, a taxa média de prenhez é de 85%. No caso do gado, mesmo falando em Pecuária Moderna, a taxa de natalidade fica entre 65% e 70%.

Assim dá para ter uma ideia da capacidade reprodutiva do búfalo”, diz Martinez.

Por todas essas razões, o custo de produção de búfalos é menor, o que cria possibilidades interessantes para os produtores. “Por suas características fisiológicas, os búfalos apresentam uma série de vantagens.

É um animal precoce capaz de transformar seu alimento em carne e leite, com um ganho interessante.

O abate é realizado em uma idade jovem. Com isso, o pecuarista tem o dinheiro em mãos para poder reinvestir”, ressalta Paske.

“Hoje, um player em fase de produção, com dois anos e meio, é vendido por R$ 10 mil. Uma novilha desmamada e registrada custa em torno de R$ 3.000 a R$ 4.000. É um bom negócio”, reforça Chimin.

A diminuição do rebanho bubalino no litoral paranaense tem a ver com o endurecimento das leis ambientais, que desorganizaram a cadeia produtiva da região.

Por ser uma região de Mata Atlântica, os produtores começaram a ter dificuldades em estabelecer áreas de pastagem.

Ao mesmo tempo, grandes empresas e organizações não governamentais (ONGs) começaram a adquirir grandes áreas, de olho nas cotas de créditos de carbono.

Por outro lado, com as dificuldades, os laticínios instalados na região encerraram suas operações.

“Chegamos a 72 fazendas com criação de búfalos [no Litoral].

Hoje, não deve haver dez. Havia uma fábrica de laticínios e uma queijaria, que estavam fechadas.

Isso desanimava as pessoas, porque não tinha para quem vender o leite. O desafio é reestruturar isso”, diz o pecuarista Luiz Chimin.

“Os produtores litorâneos começaram a vender suas propriedades para esses grandes grupos. Quem comprou, tirou os búfalos, replantou.

Do que era uma grande atividade no litoral, restaram poucos produtores”, diz o presidente do Departamento Técnico do ABCB, Amauri Paske.

Além disso, a atividade teve um importante evento anual: uma feira de búfalos, realizada no Parque Castelo Branco, em Pinhais, na RMC, que reuniu pecuaristas dos principais estados criadores.

O parque foi fechado em 1998, sob a alegação de que as feiras agrícolas poderiam causar danos ambientais ao entorno.

“A feira foi um grande mobilizador, um evento importante nacionalmente. Houve leilões e exposições”, lembra Paske.

Há duas décadas, os rebanhos de búfalos no Paraná concentravam-se principalmente no litoral do estado, em municípios como Morretes, Guaraqueçaba e Paranaguá.

Isso, em grande parte, estava associado a um mito: os búfalos só se adaptariam a ambientes quentes e úmidos, como é o caso da região litorânea.

O IDR-PR, que mantinha uma fazenda experimental em Morretes, transferiu seu rebanho para a Lapa, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), comprovando que os animais se comportam bem em diferentes condições.

“Os animais já estavam sendo criados em regiões extremamente frias do Sudeste Asiático e até na base do Himalaia.

Sabíamos que não teríamos dificuldades em trazer os búfalos para a região do planalto”, diz José Lino Martinez, pesquisador do IDR-PR, entidade que desenvolve projetos de pesquisa voltados principalmente para a produção orgânica de carne bovina e leite fazenda experimental.

Em seus levantamentos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) considera o Litoral do Paraná como parte da mesorregião Região Metropolitana de Curitiba.

Assim, a RMC continua a deter a maior parte do rebanho do estado, com 18.400 búfalos.

Mas ao analisar o número de chefes por município, percebe-se o deslocamento da atividade, do litoral para a divisa com São Paulo.

Hoje, Morretes tem 445 cabeças, Guaraqueçaba 1.600 e Paranaguá 2.800, enquanto o rebanho Cerro Azul ultrapassa 11.500 animais, o de Adrianópolis ultrapassa 3.600 cabeças; e Rio Branco do Sul, 2,7 mil.

Observando o mapa, também é possível observar que os búfalos são encontrados em todas as mesorregiões do Paraná.

Em alguns, há rebanhos expressivos, como no Centro Leste, Pioneiro Norte e Centro Norte. Nesse contexto, alguns municípios começam a aumentar a ênfase em bubalinos, como Castro e Ponta Grossa, nos Campos Gerais.

“A produção de búfalos pode ser um grande negócio em regiões com cadeia leiteira instalada ou em locais com relevo acidentado, como a região do planalto paranaense.

Em locais com problemas de relevo, o gado não se desenvolve, mas os búfalos, por serem rústicos, se dão bem”, diz Amauri Paske, do ABCB.

Murrah – originário da Índia, seu nome na língua hindu significa “espiral” e deriva da formação de seus chifres encaracolados. Eles têm pêlo preto ou preto.

São animais maciços, robustos e de formato profundo. Têm pontas curtas e ossos pesados.

É considerada uma excelente raça leiteira com grande aptidão para carne. Os machos pesam de 600 a 800 quilos e as fêmeas de 500 a 600 quilos.

A produção de leite é de aproximadamente 1.600 litros em 305 dias.

Mediterrâneo – Descendentes de raças indianas, com cruzamentos na Europa, principalmente na Itália. Eles têm pêlo preto, cinza escuro e marrom escuro.

Os chifres são médios, voltados para trás, com as pontas formando uma meia-lua.

O corpo é robusto em relação ao seu comprimento e as pernas são curtas e robustas. Os posteriores são curtos e em geral é um animal compacto, musculoso e profundo.

São animais desenvolvidos para a produção de leite, mas também com aptidão para o corte. O peso de um macho varia entre 700 e 800 quilos e de uma fêmea, cerca de 600 quilos.

 


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