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O que esperar dos preços das commodities alimentares nos próximos meses?

    agronews

    Em um esforço para abordar questões relacionadas à fome e segurança alimentar, a ONU para Alimentação e Agricultura (FAO) criou indicadores para monitorar mensalmente a evolução dos preços das commodities.

    O Índice de Preços de Alimentos da FAO é uma medida da variação mensal dos preços internacionais de uma cesta de produtos alimentícios e consiste na média de cinco índices de preços de grupos de commodities (carne, laticínios, óleos vegetais, cereais e açúcar) que são ponderados pela participações médias nas exportações de cada um dos grupos no período de 2014 a 2016.

    Esses preços são cotados em dólares nominais, e a série se inicia em janeiro de 1990. A evolução mensal, conforme mostra a Figura 1, deste indicador mostra que, após o período de 2003 a 2011, conhecido como “boom de commodities”, entre maio de 2011 e março de 2016, os preços desses alimentos vinham em queda persistente. Entre abril de 2016 e maio de 2020, os preços dos alimentos no mercado internacional passaram por um período de “calma”em que evoluíram entre pequenos altos e baixos.

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    A partir de maio de 2020, no entanto, esses preços registram um novo “estrondo”, justamente por conta da pandemia de covid-19 que afetou todos os países do globo. Num primeiro momento, houve pressão sobre os preços das commodities, por conta da redução das operações de produção e fechamento de portos, depois, a pressão de alta se manteve por conta da reabertura, que impulsionou a demanda por alimentos, tendo em vista a preocupação dos países em manter um quantidade segura de alimentos para seus habitantes. O Brasil, como importante exportador de alimentos, foi beneficiado, com o agronegócio batendo recordes sucessivos no valor das vendas ao exterior.

    O pico de alta recente ocorreu em março de 2022, quando os preços ficaram 59% acima do valor base do indicador (média de 2014 a 2016) e 72% acima de abril de 2020. Esse pico não representa apenas o valor mais alto do último dois anos, mas também o maior da série, em termos de dólares nominais. Isso porque o ano de 2022 foi marcado por muitos acontecimentos inesperados, como a guerra na Ucrânia, entre outras tensões geopolíticas, que reduziram a oferta de algumas commodities, causando transtornos logísticos e aumentando muito o risco no mercado internacional.

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    No entanto, desde abril de 2022, esses preços vêm caindo, dada a boa oferta dos países do Hemisfério Sul e alguma retomada das exportações de grãos ucranianos. uma análise “grafista”ou a série histórica, pode indicar que pode haver uma tendência de continuidade dessas quedas nos próximos meses, uma vez que o indicador atingiu seu máximo histórico em março.

    Uma análise fundamentalista, por sua vez, que considera as condições de oferta e demanda para os próximos meses, tende a considerar também os diversos efeitos do lado da oferta e da demanda. Do lado da oferta, estão os choques decorrentes das tensões geopolíticas, a crise climática (e seus efeitos na produção), a crise energética, a capacidade de reorganização das cadeias produtivas, além dos possíveis impactos das diversas políticas adotadas pelos países para conter o aumento dos preços.

    Do lado da demanda, por outro lado, há sinais de continuidade do baixo crescimento global com aumento quase generalizado das taxas de juros. Embora as elasticidades da demanda por alimentos sejam baixas, pode ocorrer alguma tendência de queda na demanda.

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    Por fim, o fortalecimento do dólar, ao aumentar os preços das commodities em moedas domésticas, pode afetar tanto a oferta quanto a demanda no mercado internacional, pois tende a estimular as exportações (exceto as provenientes dos Estados Unidos) e desestimular as importações. Assim, um aumento do dólar pode atuar para reduzir os preços do dólar.

    Assim, pode-se supor, na atual conjuntura de curto prazo, com a cautela que o ambiente de incerteza recomenda, que os fatores dominantes na formação dos preços internacionais dos alimentos são (a) problemas de abastecimento e logística, que juntos tendem a manter os preços nos níveis atuais, se não algo mais alto; e (b) uma provável alta do dólar que poderia conter essa alta nos preços cotados nessa moeda.

    Porém, neste caso, os países exportadores terão uma desvalorização cambial a seu favor (suportando os preços internos); os países importadores verão os efeitos do mercado internacional agravados por uma provável desvalorização com tendência a aumentar os preços para seus consumidores. Em resumo, parece mais provável que, no curto prazo, os exportadores de alimentos permaneçam em uma posição muito mais favorável do que os importadores.

    Por Andréia Adami/ Pesquisadora da área de Macroeconomia do Cepea

    Data de publicação no Cepea: 16/08/2022

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    Fonte: Noticias Agricolas