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Ibovespa sobe 1,9% após anúncio de regra fiscal, apesar de suspeitas

    Ibovespa tem 3a queda e fecha abaixo de 113 mil

    Por Paula Arend Laier

    SÃO PAULO (Reuters) – O Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira, confirmando o quinto pregão consecutivo, após a divulgação do novo quadro fiscal do país pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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    O movimento ocorreu apesar do desconforto do mercado com alguns detalhes da proposta, que ainda passará pelo Congresso Nacional.

    Índice de referência do mercado de ações brasileiro, o Ibovespa subiu 1,89%, para 103.713,45 pontos. Na máxima, chegou a 104.085,4 pontos. Apesar do avanço de 5,91% nesta série de altas, ainda caminha para um desempenho negativo em março, de 1,16% até agora.

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    O volume financeiro do pregão somou R$ 23,9 bilhões, melhor do que nos pregões anteriores, mas ainda um pouco abaixo da média diária do mês, de R$ 25,6 bilhões.

    A nova regra fiscal proposta pelo governo terá trava para evitar que os gastos federais cresçam mais que a receita, mas também terá um limite mínimo para a evolução das despesas e metas flexíveis para o resultado primário, conforme anunciado pelo Ministério da Fazenda. .

    O texto traz um piso para gastos com investimentos públicos e não inclui gatilhos específicos para redução de gastos, cabendo ao governo titular decidir politicamente quais áreas serão cortadas caso necessário.

    Na visão dos analistas Giovanni Bianchi e Lucas Ramos, da BR Partners, o plano segue fortemente sustentado nas receitas, com pouquíssimo ajuste nas despesas.

    “Não ficou claro como será mantida a trajetória de médio/longo prazo, visto que a receita está muito ligada aos ciclos econômicos, enquanto a despesa é mais rígida. Assim, temos a situação de ter uma variável volátil como teto de uma rígida variável – despesas. É um pouco estranho”, disseram eles.

    Eles também apontaram indícios de que o país, segundo a proposta, terá superávits sucessivos.

    “O dilema é colocar essa função em prática e qual será o mecanismo para pedir a mudança da meta primária. Vai depender de o Congresso aprovar a segunda parte da reforma da Previdência e aumentar bem a base de cálculo”, afirmam disse, lembrando que o Congresso já se manifestou inúmeras vezes contra o aumento de carga.

    Ainda assim, eles destacaram positivamente o fato de que o limite de 70% de aumento nos gastos em relação ao crescimento da receita é baseado na trajetória da receita nos últimos 12 meses e não em alguma projeção arbitrária.

    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse anteriormente que a proposta deve ser enviada ao Congresso Nacional para apreciação na próxima semana. Ele apresentou o texto aos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados e líderes partidários antes de sua divulgação oficial nesta quinta-feira.

    Para Werner Roger, sócio-fundador da Trígono Capital, a proposta não traz ferramentas claras sobre de onde virá o aumento das receitas, assim como não fala em corte de despesas, não aborda como vai tratar as despesas com juros e não indicar qual será o caminho em caso de queda de receita.

    “É muito mais uma carta de intenção do que de ação. Você pode falar o que quiser, como vai cumprir, até agora não demonstrou”, disse. “Vamos esperar se algo novo vier.”

    Apesar da desconfiança de alguns pontos do texto, o anúncio tão aguardado no mercado acabou tendo um efeito baixista na curva de rentabilidade futura, o que também beneficiou as ações da bolsa paulista.

    Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, destacou que o framework traz orientações mais claras sobre a trajetória da dívida. Mesmo assim, ele cita como fator preocupante a possibilidade de as despesas crescerem mesmo em um ano de queda nas receitas do governo.

    No exterior, Wall Street também teve sessão positiva, corroborando o desempenho do Ibovespa. O S&P 500 subiu 0,57% com as ações de tecnologia ampliando uma alta recente, enquanto os bancos regionais caíram depois que o governo dos EUA propôs medidas para ajudar a reduzir o risco.

    DESTAQUES

    – ITAÚ UNIBANCO PN subiu 2,75%, a R$ 24,62, e BRADESCO PN avançou 3%, a R$ 13,38, em dia positivo para o setor como um todo, em meio ao anúncio de âncora fiscal para o país. Em seu Relatório Trimestral de Inflação, porém, o Banco Central reduziu sua projeção para o crescimento do crédito no país para 7,6% neste ano, ante estimativa de 8,3% feita em dezembro.

    – USIMINAS PNA valorizou 7,03%, para 7,31 reais, após o anúncio do grupo Ternium de que chegou a um acordo com a Nippon Steel para assumir o controle da siderúrgica brasileira em uma transação que pode acabar com a influência de décadas do grupo japonês responsável por uma das maiores produtoras de aços planos do Brasil. No setor, a CSN ON avançou 5,43% e a GERDAU PN avançou 3,24%.

    – SÃO MARTINHO ON fechou em alta de 5,77%, a R$ 27,32, ainda amparada pela decisão que envolveu a cobrança única de ICMS nas operações com gasolina e etanol anidro combustível, no valor de R$ 1,45 o litro. RAÍZEN PN fechou em alta de 5,09%, a R$ 2,89.

    – CVC BRASIL ON ganhou 8,28%, a 3,27 reais, impulsionado pelo apetite de risco na bolsa de valores de São Paulo. O setor de consumo como um todo foi sustentado pela flexibilização da curva de juros, após o anúncio da nova regra fiscal do país. No setor de viagens, GOL PN fechou em alta de 5,52% e AZUL PN fechou em alta de 3,77%.

    – O VALE ON subiu 1,63%, a R$ 81,82, com os contratos futuros de minério de ferro na bolsa de Dalian, na China, tendo a quarta sessão consecutiva de ganhos nesta quinta-feira. O movimento das commodities foi sustentado pela perspectiva de recuperação da demanda após o consumo de aço ter sido temporariamente limitado pelo tempo chuvoso em muitas regiões na semana passada.

    – PETROBRAS PN avançou apenas 0,29%, para R$ 23,97, apesar da alta do preço do petróleo no mercado externo.

    – NATURA&CO ON caiu 2,08%, a 13,64 reais, entre as poucas quedas do pregão. Citando pesquisas com clientes institucionais, analistas do Bradesco BBI disseram em relatório nesta semana que a maioria dos clientes locais e estrangeiros acredita que a Natura&Co venderá 100% da Aesop por uma avaliação na faixa de 2 bilhões a 2,5 bilhões de dólares. “A nosso ver, a ação já está precificando o negócio.”

    (Reportagem de Paula Arend Laier)



    Fonte: Noticias Agricolas