Pular para o conteúdo

Febraban quer financiar apenas o que é sustentável • Portal DBO

    Febraban quer financiar apenas o que e sustentavel • Portal

    Foi aprovado um novo regulamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) que define um novo protocolo para liberação de crédito para frigoríficos e frigoríficos que atuam na Amazônia e no Maranhão. O objetivo é impedir o financiamento de ações que envolvam desmatamento, ocupação de terras indígenas e escravização de mão de obra.

    A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) já se manifestou e disse em nota que “apoia todas as iniciativas que elevem os padrões de sustentabilidade em todos os elos da cadeia pecuária brasileira, mas não aceita que outros setores deleguem suas responsabilidades aos frigoríficos”.

    Patrocinadores

    A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), por sua vez e por meio de seu presidente executivo, Paulo Mustefaga, apesar de ser totalmente favorável a ações de controle e fiscalização que visem tornar a pecuária de corte uma atividade sustentável, manifestou sua preocupação com o pequeno e médio empresas que precisam “condições especiais de adequação”.

    Regras da Febraban – As novas regras aprovadas em março determinam que os bancos participantes da autorregulação solicitem a seus clientes de frigoríficos, na Amazônia Legal e no Maranhão, a implementação de um sistema de rastreabilidade e monitoramento que permita comprovar, até dezembro de 2025, a não aquisição de gado associado desmatamento ilegal de fornecedores diretos e indiretos.

    Patrocinadores

    Esse sistema deve incluir informações como embargos, sobreposições com áreas protegidas, identificação de polígonos de desmatamento e autorizações para supressão de vegetação, além do Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades de origem dos animais.

    Aspectos sociais, como a verificação do cadastro de empregadores que submeteram trabalhadores a condições análogas à de escravo, também foram considerados.

    Para promover a adoção dessas práticas, as instituições financeiras definirão os planos de adequação, incentivos e consequências aplicáveis. E para que o andamento dos frigoríficos seja acompanhado ao longo do tempo, foram estabelecidos indicadores de desempenho, a serem divulgados periodicamente pelos frigoríficos.

    Isaac Sidney, presidente da Febraban (Foto: Divulgação)

    “Os bancos estão no epicentro das cadeias produtivas do país e vão estimular ações para desenvolver uma economia cada vez mais sustentável”afirma Issac Sidney, presidente da Febraban, que complementa: “O setor está ciente da necessidade de avançar na gestão e mitigação dos riscos sociais, ambientais e climáticos nos negócios com seus clientes e canalizar cada vez mais recursos para financiar a transição para a Economia Verde.”

    Segundo o diretor de sustentabilidade da Febraban, Amaury Oliva, nos últimos meses, a entidade tem dialogado com representantes da indústria e da sociedade civil, buscando consolidar critérios alinhados às boas práticas socioambientais já promovidas por iniciativas de mercado.

    Setor financeiro alinhado com a sustentabilidade – “Essa mobilização setorial dos bancos está alinhada às melhores práticas adotadas pelos players da cadeia da carne, seja individualmente ou por meio de iniciativas multistakeholder, que envolvem partes como frigoríficos, supermercados, empresas de tecnologia e ONGs”diz Oliveira.

    O objetivo é fortalecer o impacto dessas ações, envolvendo as instituições financeiras por meio da autorregulação setorial. Do ponto de vista dos bancos, atividades de financiamento associadas ao desmatamento podem aumentar os riscos de crédito, reputacionais e operacionais.

    “Sabemos que há uma série de entraves para que a rastreabilidade alcance todo o ciclo, principalmente os produtores nas etapas iniciais da cadeia de abastecimento. Esses desafios incluem a existência de bancos de dados atualizados, precisos e abrangentes, bem como a capacidade de adaptação dos pequenos pecuaristas, por exemplo. Por isso partimos dos fornecedores diretos dos matadouros e o primeiro escalão dos indiretos, o que já demonstra avanços, e definimos alguns mecanismos alternativos, por exemplo para pequenos matadouros”conclui Oliveira.

    A norma anunciada é complementar a outras iniciativas sobre o tema lideradas pela Federação que, desde 2014, tem em sua autorregulação o eixo socioambiental.

    A norma atual trata das políticas de responsabilidade das instituições e gestão de riscos sociais, ambientais e climáticos.

    Inclui também, entre outros, critérios socioambientais para concessão de crédito rural que vão além das regras estabelecidas pelo Banco Central do Brasil. A última versão do documento foi revisada em 2020 e agora passa por uma nova atualização, a ser concluída em 2023.

    Posicionamento da ABIEC – Prontamente, a entidade que reúne as indústrias exportadoras veio a público se posicionar. Leia a nota da Abiec na íntegra abaixo:

    “A Abiec apoia todas as iniciativas que elevam os padrões de sustentabilidade em todos os elos da cadeia pecuária brasileira. Desde 2009, as indústrias do setor vêm implementando e aprimorando seus sistemas de monitoramento dos critérios socioambientais de seus fornecedores.

    Hoje, nossos associados utilizam ferramentas avançadas, como imagens de satélite e inteligência artificial, que nos permitem monitorar dezenas de milhares de fornecedores diariamente para garantir que eles cumpram as políticas ambientais mais avançadas, atendendo aos requisitos de clientes e consumidores em todo o mundo .

    Os abatedouros são vistos por diversos setores como um elo fundamental para impor a ordem na cadeia produtiva da pecuária. Assumimos nossas responsabilidades, mas não aceitamos que outros setores deleguem suas responsabilidades aos frigoríficos.

    Consideramos que, no combate aos crimes ambientais como desmatamento ilegal e lavagem de gado, é fundamental o papel do poder público e a participação de diversos segmentos da iniciativa privada, inclusive do setor financeiro.

    Por isso é importante não apenas que os bancos exijam de seus clientes a implantação de sistemas de monitoramento e rastreabilidade, mas que as áreas de compliance e due diligence das instituições financeiras adotem os mesmos critérios socioambientais em relação a todos os seus correntistas, inclusive os proprietários rurais. já implementadas pela indústria processadora de carne bovina, e não apenas para concessão de crédito. Os fornecedores indiretos do setor são clientes diretos dos bancos, portanto é responsabilidade dessas instituições conhecer o seu cliente.

    Hoje, entre nossos associados, temos aproximadamente mais de 20.000 fornecedores bloqueados por não conformidade socioambiental. Os frigoríficos cortaram relações comerciais com esses fornecedores, mas é possível que continuem mantendo relações comerciais com o setor financeiro.

    Nos últimos anos, nossos associados desenvolveram políticas que vão além do monitoramento e bloqueio. Estamos trabalhando em conjunto com pecuaristas que possam regularizar sua situação ambiental, para trazê-los de volta à cadeia produtiva. Essa abordagem precisa ser incluída na agenda do setor financeiro, visto que na maioria das vezes essa regularização requer investimentos. Algumas empresas do nosso setor já estão trabalhando em parceria com bancos para oferecer financiamento para essas iniciativas. Essa discussão precisa ser ampliada e estamos dispostos a isso.

    A Abiec está disposta a cooperar com a Febraban para a melhoria contínua do setor e a oferecer sua expertise no desenvolvimento de critérios adicionais que regulem todo o relacionamento dos bancos com proprietários de terras desmatadas ilegalmente, invasores de terras públicas e territórios indígenas”.

    A Abrafrigo pede um “olhar diferenciado” para os pequenos – Paulo Mustefaga, presidente-executivo da Abrafrigo, disse que sua entidade ainda precisa analisar com mais profundidade as regras autorregulatórias da Febraban.

    Ele entende que tudo “trabalhar para promover a sustentabilidade, com preservação ambiental, sem desmatamento, bem-estar animal e social é muito bem-vindo”.

    Ele destacou que as empresas alvo da regulamentação – as do Amazonas e do Maranhão – em sua maioria possuem um Termo de Ajustamento de Conduta (TACs) com o Ministério Público, o que mostra alinhamento com o pensamento produtivo vigente. No entanto, o líder entende que é necessário um “olhar diferente” para eles.

    Paulo Abrafrigo
    Paulo Mustefaga, CEO da Abrafrigo (Foto: Divulgação)

    “Os pequenos frigoríficos e frigoríficos são os principais empregadores do setor, bem como os principais responsáveis ​​pelo abastecimento de carne bovina no país. Sua capacidade de autofinanciamento é reduzida, exigindo recursos e mais tempo para se adaptar aos processos. Acho que existem iniciativas que atendem a esse segmento”enfatiza.

    Outro ponto que o presidente atenta é o elo da cadeia produtiva. “Os pecuaristas, não importa o tamanho, são clientes tanto dos bancos quanto das empresas. Acredito que falta aqui uma equiparação de responsabilidades, mesmo entendendo que a maior obrigação é dos governos federal, estadual e municipal, com fiscalização e apoio”explica.

    Para ele, falta, por exemplo, “um sistema eficaz de rastreamento de animais produtores de carne, de modo que sua origem possa ser identificada em qualquer etapa. Embora as discussões estejam avançadas e já haja o entendimento de que é fundamental, muitos pecuaristas precisarão de apoio para aderir mais a essa exigência”conclui.

    Fonte: Portal DBO